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Tributo a Carlos Geraldo Langoni

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Faleceu neste domingo o economista e ex-presidente do Banco Central Carlos Geraldo Langoni. Apesar de ser pouco lembrado pelos liberais no Brasil, Langoni teve uma carreira de destaque como economista, sendo um dos principais representantes dos “Chicago Boys” aqui no Brasil.

Langoni iniciou seus estudos na Faculdade Nacional de Economia, em Praia Vermelha, Rio de Janeiro, onde lecionavam grandes nomes, como Otavio Gouveia Bulhões e Isaac Kerstenetzky. Após se graduar, em 1966, optou por realizar o curso de programação e planejamento econômico organizado por Og Leme no Centro de Treinamento para o Desenvolvimento Econômico Social. O curso possuía orientação similar àquela adotada pela Universidade de Chicago e tinha Affonso Celso Pastore como um dos professores. Após o fim do curso, Leme fez um acordo com a fundação Ford para que alguns dos alunos fossem enviados para Chicago para finalizar seus estudos. Langoni foi um dos contemplados com bolsa de estudos e se tornaria, em 1970, o primeiro brasileiro a obter um doutorado na Universidade de Chicago. Após finalizar seus estudos, ele retornou ao Brasil para trabalhar, a convite de Affonso Celso Pastore, no Instituto de pesquisas econômicas da USP, onde estruturou o programa de pós-graduação e a Revista de Estudos Econômicos.

Ele foi extremamente importante no fomento do debate sobre a relação entre educação e crescimento econômico no Brasil, através de sua tese de doutorado The Sources of Brazilian Economic Growth, publicada como livro em 1974 (As Causas do Crescimento Econômico do Brasil), ele trouxe nova luz sobre o debate no Brasil. Muito influenciado por Theodore Schultz, seu orientador e professor em Chicago, Langoni calculou o retorno do investimento em educação, desenvolvendo uma estimativa a partir de dados sobre custos de educação nos níveis fundamental, médio e superior. Os resultados constataram que a rentabilidade social da educação no Brasil era em média de cerca de 25%, enquanto no capital físico era de 12%. Além disso, constatou-se também que a diferença salarial daqueles que haviam completado o ensino fundamental em relação aos analfabetos era de cerca de 32% em 1969. O ensino fundamental completo, comparado ao ensino médio completo, dava um retorno de quase 20%. Os principais argumentos que sua tese trazia eram que a educação é fundamental para o crescimento econômico e é, também, o ingrediente essencial para conciliar, a longo prazo, crescimento e distribuição de renda.

Para além do debate sobre educação, Langoni também foi protagonista no debate sobre distribuição de renda no Brasil, publicando em 1973 o livro Distribuição de Renda e Desenvolvimento Econômico do Brasil. Seus textos ganharam destaque após pronunciamento do então presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, onde ele criticou junto ao economista Albert Fishlow a desigualdade econômica no Brasil. A crítica de Fishlow focava na política salarial adotada pelo regime militar, que conferia reajustes abaixo da inflação para os trabalhadores, e defendia que ela havia contribuído para o aumento da desigualdade. Quando o trabalho de Fishlow foi divulgado, o ministro da Fazenda, Delfim Netto, considerou que merecia uma discussão à altura. Então solicitou formalmente um comentário sobe o estudo de Fishlow à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) e Langoni ficou encarregado de fazer o trabalho. Em sua análise, Langoni identificou que na verdade, a desigualdade no Brasil era estrutural e ligada ao acesso à educação. Segundo ele, o rápido crescimento da economia na década de 60 fez com que a demanda por mão-de-obra qualificada aumentasse mais rapidamente do que a oferta de trabalhadores suficientemente instruídos. Assim, o “preço” que empresários estavam dispostos a pagar pela pequena fração de indivíduos que tinham mais anos de estudo aumentou mais rapidamente do que os salários dos sem-instrução. A interação entre desenvolvimento econômico e falta de investimento em educação catapultou a desigualdade no país. Graças aos trabalhos empenhados por Langoni, a academia brasileira passou depois de certo tempo a considerar o capital humano fundamental para explicar resultados sociais e econômicos.

Langoni ainda trabalharia no Banco Central como diretor da área bancária a convite de Ernane Galvêas. Lá ele implementou o Sistema especial de liquidação e custódia, ou Selic, um dos primeiros sistemas no mundo a assegurar a liquidação virtual de transações com títulos públicos. Criaram-se também os títulos públicos virtuais, com absoluta segurança, e sua liquidação contra reservas bancárias, acabando com uma fonte de incertezas e riscos. A partir disso, surgiu a taxa Selic, formada nesse processo de liquidação de títulos e reservas bancárias. Em 1980, ele acabaria se tornando o mais jovem presidente da história do Banco Central, com apenas 35 anos, e permaneceria nesse cargo até 1983. Como presidente do Bacen, ele se tornou membro do CMN, do Concex e representante do Brasil, como governador suplente, no FMI.

Langoni influenciou toda uma geração de economistas e trouxe luz ao debate econômico brasileiro, que nem sempre tem disponível as melhores referências. Nós da Liberalismo Brazuca e do Instituto Liberal sentimos muito pela perda de um economista tão brilhante como Langoni – e que descanse em paz sabendo que de alguma maneira fez do Brasil um lugar melhor.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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