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O Brasil e a República “Democrática” do pensamento único

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Tenho em mim um sentimento de frustração em relação ao cenário político e social brasileiro dos últimos dois anos. Não me refiro aos anos anteriores, pois vivíamos trancados num calabouço infestado pelo lulopetismo. 

Assim sendo, quando não há expectativa, por conseguinte não há frustração ou decepção. Eu esperava mais no último biênio. Bem mais! Não me refiro, também, a 2021 porque deixei de ter expectativas do que deveria ser um país sério, com eleitos e eleitores encarando os desafios com seriedade e sem tribalismo.

Isso mesmo: o Brasil está divido em tribos. Ou em bolhas,  como venho citando há tempo. Dentro de tais tribos, impera um pensamento único. Aquele que não segue à risca os ritos da cartilha da tribo é desclassificado pela maioria da tribo.

Não consigo ver diferença no comportamento que ocorre dentro dessas tribos em relação à alienação coletivista do comunismo da extinta União Soviética, por exemplo. A diferença é que aqui são pequenas organizações de “indivíduos” de pensamento autocrático. A maioria delas age de forma agressiva quando contrariada em seus ideais políticos.

O deputado federal Marcel van Hattem, um liberal-conservador, assina de forma brilhante o posfácio de meu livro A filosofia do fracasso: ensaios antirrevolucionários e traça uma perspectiva de um Brasil que emerge de uma hegemonia cultural petista para uma polarização, haja vista uma nova direita que surge em meados de 2013 com vias de migrar para uma pluralização de ideias. Esse é o caminho.

No entanto, o cenário tribal brasileiro constitui-se, a meu ver, numa “pluralização de tribos”, não de ideias. Ainda precisamos avançar – e muito – para alcançarmos um patamar plural de ideias em que a voz do indivíduo prevaleça de fato. Contudo, nas tribos, o pensamento coletivo domina e o indivíduo é sufocado pela “democrática” maioria.

O ceticismo, um dos pilares do conservadorismo, passa longe das tribos da nova direita. O político de estimação da tribo está acima de qualquer suspeita. Não há margem para suspeitar, sob pena do retorno do PT. Questionar o grande líder seguido pela cartilha da tribo é, portanto, traição.

Já citei em outro texto a obra 1984 de George Orwell. Winston Smith, com sua dolorosa “úlcera varicosa” narrada de forma enfática por Orwell, é um cético. Seu fim, todos que leram a obra sabem. No caso de 1984, o Estado coage os indivíduos, é verdade, e o faz em grau ou proporção maior do que é feito nas tribos. Em comum, porém, o cético é o traidor.

Neste pequeníssimo ensaio, para explicar esse comportamento, não vou buscar algum autor, como é meu costume fazer. Nem sociólogo, psicólogo, antropólogo, filósofo. Tampouco farei qualquer analogia com outros casos semelhantes. Meu simples empirismo me possibilita sustentar minha opinião: infelizmente, estamos longe da pluralização de ideias! O caminho até lá será árduo. Nosso terceiro-mundismo é camuflado por um matiz de país desenvolvido e civilizado, sendo que, na realidade, no país das tribos, o que prevalece é a barbárie.

Seguirei sendo cético. Não no sentido de ceticismo absoluto, a ponto de invalidar a verdade, como pensava o filósofo francês Michel de Montaigne. Eu acredito em verdades. Todavia, como bom “traidor”, desconfio sempre. Quem sabe, com isso e com mais céticos apoiando, o plano dê certo e o “PT volte”. Seria uma tribo do pensamento único do ceticismo que quer a volta do PT? Enquanto isso, nas tribos da República “Democrática” do Pensamento Único, os fiéis marcham rumo ao atraso. Lênin deu um passo para trás para depois dar dois à frente. As tribos do Brasil dão um à frente para em seguida dar dois para trás. E assim sucessivamente.

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Ianker Zimmer é jornalista formado pela Universidade Feevale (RS) e pós-graduado em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia pela PUCRS. É autor de três livros, o último deles "A mente revolucionária: provocações a reacionários e revolucionários" (Almedina, 2023).

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