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Tragédia e eleição

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Devo reconhecer, de início, que tinha pouco conhecimento sobre Eduardo Campos. Sabia, dentre outras questões, que ele era herdeiro político de Miguel Arraes; que havia rompido com o PT; e, que detinha uma aprovação extraordinária por seu Governo no Estado de Pernambuco. Muito do que vou avaliar, portanto, terá por base as informações divulgadas após o trágico acidente que lhe ceifou a vida. Estava aguardando o desenrolar da campanha para analisá-lo melhor. Lamentavelmente, contudo, isso não será possível.

Após assistir a vídeos, depoimentos e reportagens, vejo que Campos já havia abandonado a ilusão socialista. Além disso, detinha um profundo traquejo político e uma grande capacidade de dialogar. Há um bom tempo, Eduardo Campos já havia passado a respeitar o empresariado como gerador de empregos e riquezas. Não fosse só isso, até o falecimento, manteve diálogos constantes com o candidato Tucano Aécio Neves. Nesse sentido, é importante destacar que, como ambos escolheram a oposição ao PT, eles sabiam que o apoio de um ao outro seria fundamental para manter a governabilidade, caso qualquer um deles fosse eleito.

Desculpem-me os puristas, os sectários e os radicais. Mas, Eduardo Campos não era inimigo dos defensores da liberdade. Não era, também, um novo “Lula em gestação”. Guardando as devidas proporções, Campos estaria mais para um perfil semelhante ao do Premier Britânico Tony Blair – que, como sabemos, seguiu na essência a cartilha Thatcher, apesar de sua origem Trabalhista. As condolências diplomáticas americanas a um candidato – o que não é usual – são prova disso. Trata-se de demonstrativo de que a diplomacia americana percebia em Campos um potencial interlocutor do Brasil com os Estados Unidos.

Vejo, com muita tristeza, alguns ditos Liberais, Libertários e Conservadores comemorando a tragédia que ceifou a vida de um jovem líder político que tinha muito o que agregar ao Brasil. Essa postura é de autoritários, fanáticos e desumanos. Vocês, definitivamente, não entendem o que é liberdade. Que se esclareça, de uma vez por todas, liberdade é – também – o direito de pensar diferente sem patrulhamento. Se todos pensássemos ou fossemos iguais, o Liberalismo não existiria.

Pois bem. O que muda com a tragédia? Em uma palavra: tudo. O brasileiro é um povo que se comove, e, por essa razão, reage de forma emocional nessas situações. Eduardo Campos nos deixou de forma trágica. Mas, isso não transforma uma candidatura de Marina Silva em algo sagrado, como desejam alguns. Aliás, cumpre deixar claro que Marina é bem diferente de Campos.

Este último tinha uma capacidade de manobra política e conciliação realmente impressionantes, e, talvez por essa razão, manteve uma relação estreita com Aécio Neves de longa data. Sua Vice, como candidata, não tem o perfil e as convicções para seguir a mesma linha. Marina é dura e carrega um viés socialista forte – que Campos já havia abandonado. Além disso, ela tem um sério conflito com o agronegócio, o que, a meu ver, não faz o menor sentido para o Brasil. Reclamou-se, por décadas, do coronelismo rural. Ora, quando o trabalho na terra começa a se profissionalizar, qual é o motivo da picuinha? Não se iludam, Marina Silva não é “viúva política” de Eduardo Campos, ela não divide os mesmos ideais dele, nem tem a mesma habilidade política.

Eleição é coisa séria, não se pode decidir o futuro do Brasil em um lance de dados. Marina Silva não foi alçada ao status de candidata em razão da vontade divina, mas, sim, diante de uma verdadeira fatalidade, uma grande tragédia. Carregar qualquer traço de sacralidade para a sua candidatura é um desrespeito ao legado de Eduardo Campos. Uma nova política – como ele propunha – não se coaduna com “salvadores da pátria” e “divindades eleitorais”. Uma nova política se faz com pessoas reais, cujas experiências de vida podem ajudar a renovar um país, inspirando a nação. Ademais, não custa lembrar que os indivíduos fazem o país colaborando espontaneamente.

A escolha dos candidatos deve ser realizada no âmbito de suas propostas, trajetórias e ideias. Não é prudente confundir Marina Silva com Eduardo Campos, nem, tampouco, acreditar que Deus a colocou em seu lugar com o intuito de guiar o Brasil para um futuro melhor. Estamos diante de uma nova eleição, e, com esse cenário, temos a obrigação de avaliar – cuidadosamente – a postura e as propostas de todos os candidatos com muita atenção. Sem isso, entregamos nosso futuro à sorte, nada mais. Como disse Eduardo Campos: “não vamos desistir do Brasil”. Eduardo campos gov pe

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

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