Cabe (…) tecer (…) breves considerações sobre o próprio (Carl) Menger, autor da obra Princípios de Economia Política e tido por marco inaugural desta escola (austríaca).

Apesar da revisão que ajudou a promover quanto à teoria do valor, o economista austríaco foi sempre um agradecido tributário do pensamento de Adam Smith.

Não existem muitos trabalhos de sua lavra abordando de forma mais sistemática e objetiva o papel do Estado; no entanto, as transcrições de algumas de suas palestras demonstraram que ele tinha uma visão muito parecida com a do antigo iluminista escocês.

Aqueles que, portanto, enaltecem sua recuperação do pensamento escolástico como uma forma de demolir o significado das contribuições smithianas encontrariam pouca ou nenhuma acolhida por parte do próprio Menger.

Nosso autor acreditava, resumidamente, que intervenções do Estado na economia poderiam ser necessárias, especialmente, em estágios primitivos de desenvolvimento industrial ou econômico; que o governo poderia ter um papel na infraestrutura, na construção de canais e estradas; que também teria uma função adequada na abertura de escolas; indo além das ideias de Adam Smith, que o Estado poderia atuar na proteção de florestas, antecipando uma série de discussões sobre legislação ambiental; e que poderia exercer uma intervenção, ainda que preferencialmente bastante modesta, no trabalho fabril, por exemplo, com uma pequena limitação da carga horária, principalmente com o objetivo de evitar que os trabalhadores fossem seduzidos pelo comunismo.

(…) O que se poderia aconselhar aos que, portanto, lançam mão de Menger para ‘destruir’ Adam Smith é que não tentem ser mais realistas que o rei.

*Publicado originalmente no livro: “O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos, Almedina/Edições 70, p.266-268.