Teoria e/ou Prática? Integração para fazer criando valor útil
Dicotomia entre teoria e prática, insustentável! Hoje abundam teóricos sem experiência pragmática e práticos órfãos da necessária “teoria”.
Evidente que há diferenças na vida – e gestão – pública em sociedade, com as relações que se estabelecem na vivência e nos processos dentro de organizações/empresas.
Aquilo a que muitos não atentam adequadamente é que os princípios benéficos e vencedores para o progresso econômico e social são basicamente os mesmos.
Na verdadeira e imprescindível economia de mercado, tanto na gestão pública quanto num determinado negócio, a fim de prosperar e se desenvolver, é fundamental criar valor real e útil de longo prazo, a fim de solucionar melhor os mais diversos, complexos e novos problemas da vida em sociedade.
Para tanto, deve haver imperiosa liberdade individual e econômica, por meio de incentivos reais que impactam positivamente a capacidade de organizações e de pessoas de escolherem como trabalhar, produzir, consumir, investir e reinvestir em empreendimentos empresariais e individuais.
Decisões políticas – populistas e ineficientes – esquecem-se da vida real nos mercados, em que são os incentivos à capacidade empreendedora individual aqueles geradores da criação de maior valor para o todo. Distintamente, escolhas que visam a distribuir a riqueza gerada por verdadeiros indivíduos empreendedores normalmente causam maiores prejuízos para a maioria dos indivíduos!
Obviamente, a liberdade implica igualdade de tratamento e de oportunidades, não a igualdade de resultados!
O necessário “Estado necessário” deveria compreender que a questão do tamanho do Estado passa mais pela eliminação de processos que não agregam valor, ou seja, não apresentam relação custo-benefício positiva e, fundamentalmente, desperdiçam recursos que poderiam ser melhor utilizados em atividades criadoras de benefícios para a população.
Como observaram Adam Smith e Alexis de Tocqueville, o interesse pessoal, ou seja, o egoísmo esclarecido, beneficia toda a sociedade por meio de incentivos que favorecem a cooperação e a prosperidade sustentável, punindo o egoísmo ruim e destrutivo, gerador de empobrecimento e corrupção.
Em ambas as esferas não existe a certeza do resultado de políticas e estratégias implementadas – embora pretensiosos “intelectuais” da sabedoria e da virtude moral superior acreditem nesta impossibilidade – uma vez que os resultados úteis e superiores para um contexto social dependem da exploração do desconhecido e de um processo de descoberta dos meios para se alcançarem as “melhores formas de se fazer as coisas”. As virtudes são fundamentais, mas somente virtudes sem a capacidade real de “fazer acontecer” não criam valor útil e sustentável.
Parece-me que um processo de tentativa e experimentação – com base em evidências robustas e entendimento dos riscos envolvidos – é cada vez mais importante para que se descubram melhores processos de criação de valor na forma de modelos de gestão, processos públicos e empresariais, produtos, serviços, experiências, entre outros.
O progresso, seja na economia e/ou nos negócios, vem por meio da experimentação e de eventuais fracassos e aprendizados. Objetivamente, dos respectivos aperfeiçoamentos na forma de pensar e agir.
Infelizmente, muitos países, governos, empresas e indivíduos ainda não se aperceberam e/ou não aprenderam tal singela noção.
Todas as decisões são tomadas com base em um modelo mental, embasado por determinada visão de mundo, que é acionado intuitivamente ou através de estruturas de planejamento formais para a escolha de ações. Não resta dúvida de que tal modelo deveria estar, sempre, baseado na realidade!
Para a tomada de decisão “produtiva”, seguramente que uma fundamentação teórica é importante e necessária, embora somente seu emprego seja insuficiente para o atingimento de resultados positivos para toda a sociedade.
Todo o conhecimento verdadeiro passa pela prática, pelas experiências que permitem converter os conceitos num arsenal instrumental para melhor solucionar os problemas presentes e futuros, com base no processo de descoberta das melhores formas de agir e realizar.
Tanto nas decisões de políticas públicas quanto nos negócios, é indispensável que se tenha muito presente a realidade de como as coisas são e de como poderiam ser na prática!
Quando, de fato, estudamos e vivemos as relações formais e informais, regras de comportamento, tradições, fatos ocorridos e padrões estabelecidos de um campo específico, aprendemos a ler e entender o visível e, especialmente, aquilo que os olhos não enxergam. O “invisível” são as inter-relações possíveis que emergem por meio da intuição, dos pressentimentos e da experiência real no campo, possibilitadoras da formulação de hipóteses críveis. Isso só é factível quando estão presentes e integradas teoria e prática! Sem essa dupla “infalível”, problemas em sociedade, para governos e empresas, não raramente são mal resolvidos.
A teoria possibilita que os tomadores de decisão tenham uma estrutura geral mais ampla de uma determinada situação, permitindo que esses possam refletir sobre o “problema geral”, não somente a partir de soluções efetivas para uma determinada situação, particular. A partir dos fundamentos teóricos, pode-se ter uma visão ampliada, do todo, essencial para que se entenda o que é e o que pode ser realizado.
Muitas vezes, conceitos, ideias e palavras são transmitidos a pessoas e grupos que ainda não estão capacitados para compreender a essência teórica e passam a “fazer” automaticamente, mal fazem ou mesmo não fazem.
Entretanto, para aqueles dotados somente de teorias, faltam-lhes o conhecimento tácito, intangível, adquirido através do suor e lágrimas das experiências vivenciadas, das regras não escritas, dos resultados positivos e dos fracassos. Do mergulho profundo naquilo que não somente é, mas também daquilo que pode ser, de novas formas de pensar e agir para implementar melhores soluções para os problemas, uma vez que tais soluções alternativas nunca antes foram ofertadas.
Empecilho maior é ainda a formação dos “clubes privês”, com seus teóricos da coisa pública e da gestão de negócios em questões públicas e dentro de empresas, em que o comportamento de manada faz com que seus ilustres membros finjam sempre concordar uns com os outros, eliminando diferentes perspectivas e tipos de conhecimentos e experiências.
Atualmente, aparenta que muito mais teorias têm aflorado – talvez pela maior conectividade e visibilidade, muito embora muitas delas estejam completamente apartadas da realidade, da necessidade e do valor real para a vida pragmática no cotidiano e para a agregação em nível de processos organizacionais.
Por outro lado, aqueles carentes da teoria quase sempre buscam resolver problemas diferentes, com soluções prontas – aleatórias – que mostraram-se bem-sucedidas para uma situação pontual. Muitas vezes, não conseguem pensar além dos fatos presentes e pragmáticos. Não dispondo de um arcabouço teórico mais amplo e geral, acabam por tomar decisões que se apresentam momentaneamente como adequadas, mas que no longo prazo demonstram terem sido desacertadas.
Para o alcance de resultados satisfatórios no público e no privado, requer-se sempre parar, refletir profundamente, perguntar e questionar. Requerem-se logicamente prática e reflexão constantes!
Enfatizo que, tanto na esfera pública quanto nas empresas, é fundamental entregar resultados, isto é, soluções e benefícios na forma de valor útil para os problemas de toda a sociedade.
Muitos intelectuais têm falado – e muito – sobre o “problema do animal laborans” (Hannah Arendt). Na sociedade dos homens – e mulheres – que só trabalham, não há espaço para o pensamento reflexivo – e político, mais contemplativo! -, já que é necessário produzir e produzir, por meio da substituição de genuína ação individual pelo comportamento calculável e padronizado.
Será mesmo? Independente dos resultados “instrumentais” almejados, nos mercados competitivos, em que a destruição criativa é fundamental para inovar, prosperar e crescer, acrescida de certa dose de descentralização organizacional, os “colaboradores” não possuem mesmo iniciativa, habilidades de pensamento crítico/reflexivo e econômico para poderem gerar inovações e maior contribuição para os compulsórios resultados organizacionais? Uma organização com recursos humanos assim consegue se manter num mercado livre e competitivo?
Será mesmo que o fato de poderem, de alguma forma, sentirem-se participantes mais ativos nos processos e decisões empresariais, respaldados por incentivos e recompensas que premiam ações que garantem ou geram resultados positivos e de longo prazo, não resulta em maior autoestima e satisfação pessoal? Será mesmo que o trabalho com maior significado, aquele que contribui de alguma maneira para a criação de valor na sociedade, não é capaz de motivar as pessoas? Será mesmo que o reconhecimento financeiro e não financeiro não aumenta o grau de satisfação individual? Será mesmo que apesar do trabalho (quem não precisa trabalhar?!), o indivíduo não pode também fazer escolhas pessoais de ler e estudar, de assistir filmes, de praticar um esporte, de operar atividades caseiras e/ou domésticas, de relacionar-se ou mesmo optar pelo completo ócio e repouso?
Creio que a resposta é um retundo sim. Tanto na vida individual, como na gestão pública e no meio empresarial, não há progresso sem a combinação certa de disciplina e liberdade! É preciso fazer! Até o ócio é “um fazer criativo”!
Somente pela iniciativa da ação as pessoas confirmam sua singularidade e aparecem a outros indivíduos.
Crucial nesse sentido é notar que a capacidade de pensar e agir está presente em todos os homens e mulheres, da mesma forma que está presente a possibilidade de não pensar e agir! (Os incentivos…!).
Cabe lembrar que são as ideologias, sempre elas, que tornam, nefastamente, mais fácil (mal) agir do que pensar e julgar!
O desenvolvimento econômico e social de uma sociedade é dependente de pessoas que trabalham e buscam inovar para maior alcance de prosperidade, por meio de teoria e, especialmente, da prática do fazer.
Nem todos ainda conseguem se apropriar de teorias adequadas e saudáveis, contudo, todos deveriam se arriscar mais para realizar e contribuir para a geração de valor visando a construção de um mundo mais próspero.
Ainda que insuficiente, certamente no Brasil, e felizmente, estamos a presenciar um maior movimento de atenção, preocupação e interesse pela esfera pública e pela política nacional.
Teoria e prática, integradas, claro que produzem melhores resultados na criação de valor, tanto no âmbito público quanto para as organizações!