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“Steve Jobs”, de Walter Isaacson

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A biografia de Steve Jobs por Walter Isaacson é resultado de uma série de entrevistas feitas entre 2007 e 2011, com o próprio Jobs e com inúmeras pessoas importantes em sua história. O autor também utilizou entrevistas feitas a diferentes canais de comunicação, além de documentos e publicações sobre Jobs desde que despontou como empresário de tecnologia no Vale do Silício. A obra foi um pedido de Steve Jobs, que enfrentando o câncer e, inseguro em relação à sua longevidade, queria deixar aos filhos uma visão mais precisa de quem realmente foi e do que construiu para si e para o mundo. Jobs se comprometeu a não interferir no desenvolvimento do livro e, inclusive, jamais o leria, tendo falecido dias antes de sua publicação. Esse é um relato compreensivo da história do fundador de uma das empresas mais valiosas do mundo e idealizador de alguns dos produtos de maior sucesso na história moderna.

O livro de Walter Isaacson retrata a história da infância e juventude de Steve Jobs. Ele era filho de Joanne Schieble, jovem de uma família católica e de descendência alemã, e Abdulfattah “John” Jandali, estudante da Universidade de Wisconsin, muçulmano de origem síria. Jandali e Joanne, temendo a repreensão do pai da moça, deram-no para adoção nos primeiros dias de vida, em 1955, após manter a gravidez escondida durante toda a gestação. O casal que o adotara, Paul e Clara Jobs, seria fundamental para seu sucesso, pois soube fomentar seu talento criativo e suas dificuldades em lidar com os padrões bem aceitos de desenvolvimento infantil. O pai, Paul Jobs, se tornaria uma grande referência durante toda a vida e uma inspiração à sua paixão pelo design industrial. A traumática dor do abandono acabou sendo superada pelo amor e mentoria dos pais adotivos.

Jobs cresceu em Los Altos, cidade do condado de Santa Clara, situado na região da baía de São Francisco apelidada de Vale do Silício. Nesse lugar, berço de várias das grandes empresas de tecnologia dos tempos atuais, ele desenvolveu o interesse pela área que transformaria mais tarde. Foi lá, também, o contato com os grandes empresários que seriam suas inspirações profissionais, como Bill Hewlett e David Packard, fundadores da HP, Larry Ellison, fundador da Oracle, e Nolan Bushnell, fundador da Atari e primeiro empregador de Jobs. Na época de sua juventude o espírito empreendedor florescia no Vale do Silício e esse ambiente certamente favoreceu a expansão de seu potencial. Ele foi a pessoa certa, no lugar perfeito e no momento ideal.

Foi naquela localidade, também, que Steve Jobs conheceu as pessoas que seriam suas aliadas na fundação da Apple, empresa onde desenvolveu suas criações mais marcantes. Em Steve Wozniak, Jobs encontrou o gênio dos computadores capaz de compensar suas deficiências técnicas e em Mike Markulla a filosofia de mercado determinante para o sucesso de todos os produtos que criou. Muitos outros aliados contribuiriam profundamente em suas criações ao longo da carreira, como John Lasseter na Pixar, Avie Tevanian na NeXT ou Jony Ive na Apple. Porém, foi muito provavelmente nessa primeira experiência de parceria que Jobs entendeu o quanto poderia fazer se alinhando a pessoas brilhantes, com dons complementares aos seus.

Um outro aspecto profundamente explorado na obra é a personalidade complexa de Jobs. Ele podia ser cruel e frio com as pessoas apenas por achar que elas não estavam à altura de determinada tarefa. Porém, conseguia ser encantador e carismático quando queria conquistar a confiança de alguém ou conseguir algo de seu interesse. Mostrava-se extremamente íntegro em relação ao trabalho que se propunha a fazer e esperava o mesmo de seus aliados. Todavia, desconsiderava regras básicas de convivência como se elas não se aplicassem a ele. Dirigia um carro na velocidade que lhe convinha, não se incomodava em ficar dias sem tomar banho e não observava as vagas exclusivas para deficientes, apenas para citar alguns exemplos.

Segundo Tina Redse, namorada da juventude que, de acordo com o próprio Jobs, era a pessoa que melhor o compreendeu na vida, ele era narcisista. Pessoas com esse transtorno de personalidade, segundo a literatura da psicologia, demonstram insensibilidade, costumam mentir, distorcem a realidade e têm uma necessidade enorme por controle. Todos esses traços de personalidade podem ser observados em maior ou menor grau nessa biografia de Steve Jobs. O conhecido campo de distorção da realidade, por exemplo, foi algo que o marcou e se tornou, ao mesmo tempo, um dos grandes motivos de vários conflitos ao longo da vida e o impulso que permitiu a criação de seus produtos de maior sucesso.

A obra também evidencia o perfil de liderança de Steve Jobs. Principalmente em sua segunda etapa na Apple a partir do final de 1996, quando demonstrou grande capacidade executora, sendo implacável quanto às ações necessárias para conduzir a empresa ao sucesso. Reposicionou a marca, retornando a empresa às suas origens de diferenciação e apelo emocional. Reestabeleceu a missão e os valores que haviam conduzido a Apple ao sucesso. Reestruturou o portfólio para focar em segmentos onde poderia ser vencedora e ter alta lucratividade. Foi firme na contenção e corte de gastos, demitindo mais de 3.000 pessoas já no primeiro ano de comando. Fez, também, parcerias estratégicas com empresas com as quais a Apple, à época, tinha péssimo relacionamento, como a Microsoft. Suas experiências como gestor das outras duas empresas que criou – a NeXT (fracasso) e a Pixar (sucesso) – certamente o tornaram um líder muito mais preparado para conduzir um gigante como a Apple.

Nada, porém, foi tão marcante na história de Jobs quanto seus grandiosos produtos. Sua criação era a grande motivação e paixão de sua vida. Seu desejo desde que fundou a Apple na garagem dos pais sempre foi criar produtos incríveis, que marcassem seu tempo e deixassem um legado às próximas gerações. A certeza sobre esse objetivo era tão clara que nenhuma dificuldade seria grande demais para impedir que ele fosse atingido. Não havia algo com maior prioridade, nem mesmo a família ou sua própria saúde. Quando ele se propunha a desenvolver algo, só havia uma possibilidade de desfecho: um produto revolucionário e desejado por muitos consumidores.

Vários dos fatores que contribuíram para o sucesso dos conhecidos e fantásticos produtos de Jobs, como o Macintosh, o iPod e o iPhone, estão relacionados com seu modelo criativo. Ele era obcecado pelos detalhes e fazia questão de analisar cuidadosamente cada mínimo componente de sua produção. Fosse design da parte interior dos equipamentos, a tonalidade da parte metálica que integraria as bordas ou da aparência da embalagem quando fosse aberta por um consumidor, tudo importava profundamente. Essa característica se mostrou determinante para criar verdadeiros objetos de desejo, que conseguiram gerar no proprietário um sentimento muito mais intenso do que o de possuir um simples dispositivo pessoal.

Jobs também gostava de controlar a experiência de uso dos seus produtos de forma integral, algo que estava diretamente relacionado com seu próprio perfil controlador. Em sua abordagem, buscou fornecer um pacote completo pronto para utilização e sem muito espaço à customização. Começando pelo hardware e software, até os periféricos e suporte pós-venda, seu modelo de negócios propunha oferecer ao usuário o mesmo padrão de qualidade de ponta-a-ponta. Como opina Isaacson, se essa abordagem não o levou à liderança do mercado de computadores no século passado, certamente contribuiu para o sucesso da Apple nos últimos anos. Quando as pessoas passaram a utilizar um conjunto de diferentes dispositivos para distintas funções, a integridade da experiência completa da “maçã” a posicionou com diferenciação em um mercado de iguais.

A obsessão e o egoísmo de Steve Jobs marcaram o mundo e impactaram as vidas de uma quantidade incontável de pessoas. Aos seus colaboradores, deixou uma empresa onde as pessoas gostam de trabalhar e criar grandes coisas. Com eles, também, ficou a satisfação de terem transformado o curso da história. Aos investidores, deixou a primeira empresa a superar a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado e um retorno médio anual acima dos 30% desde que retornou à Apple, em 1996. A nós e às próximas gerações, tecnologia de ponta ao custo de alguns milhares de reais, maneiras totalmente inovadoras de realizar tarefas do cotidiano de forma mais produtiva e a possibilidade de se criar uma imensidão de novos negócios a partir de suas criações.

Essa biografia aborda diversos aspectos da vida desse gênio criativo, aparentemente de forma isenta de interferência. O autor teve acesso direto ao próprio Jobs e às pessoas mais relevantes em sua história. Em conjunto com todo o material disponível publicamente, o resultado foi um relato inspirador sobre uma personalidade única em complexidade e conquistas. O autor conseguiu demonstrar suas origens, sua família, seus objetivos, suas realizações e sua personalidade, muitas vezes com múltiplos pontos de vista sobre um mesmo fato. Assim, essa é uma obra recomendada para quem deseja realmente conhecer um pouco sobre Steve Jobs e aprender com sua história. Provavelmente, nenhuma outra obra sobre Jobs será capaz de abordá-lo com tamanho profundidade.

*Gabriel Salvatti é associado II do Instituto Líderes do Amanhã. 

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