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Socialismo amargo: viajando por países socialistas bebendo muita cerveja

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Dediquei parte considerável do recesso de fim de ano à leitura, procurando diversificar os estilos por considerar esta uma estratégia adequada para expandir o repertório e, consequentemente, desenvolver a criatividade.

Entre os livros que tive a oportunidade de ler nesse período, encontra-se Socialismo amargo, que tem por subtítulo Dois economistas em um giro etílico pelo mundo, de autoria de Robert Lawson e Benjamin Powell (São Paulo: LVM Editora, 2021).

Robert Lawson dirige o O’Neil Center na Cox School of Business na Southern Methodist University e é um dos autores do conhecido Economic Freedom of the World, cujo relatório é publicado anualmente pelo Fraser Institute. Benjamin Powell, por sua vez, é diretor executivo do Free Market Institute e professor de economia no Rawls College of Business Administration da Texas Tech University. São, portanto, economistas que acreditam no livre mercado e que, preocupados com o crescimento da simpatia pelo socialismo nos Estados Unidos, principalmente depois da crise financeira de 2008, decidiram combinar duas paixões – viajar e tomar cerveja – com o objetivo de conhecer a fundo  a realidade de diversos países socialistas.

Paulo Polzonoff Jr., que assina o prefácio à edição brasileira, afirma que “a ideia por trás de Socialismo amargo é simples e em nada original: dois intelectuais, no caso economistas, viajam pelo mundo a fim de observar de perto o zoológico humano em que invariavelmente se transformam as experiências socialistas”.

Lawson e Powell se tornaram amigos durante uma reunião da Sociedade Mont Pèlerin, realizada em Salt Lake City no ano de 2004. O economista Friedrich Hayek, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1974, fundou a Sociedade Mont Pèlerin em 1947, reunindo acadêmicos talentosos de todo o mundo, preocupados com a disseminação do socialismo e do totalitarismo. A Sociedade Mont Pèlerin promove encontros gerais a cada dois anos, entremeados por encontros regionais. Ao longo dos anos, oito membros da Sociedade Mont Pèlerin ganharam o Prêmio Nobel, entre os quais Friedrich Hayek, Milton Friedman, Gary Becker e James Buchanan. Atualmente, a sociedade conta com mais de quinhentos membros, não apenas acadêmicos, mas líderes empresariais, políticos e intelectuais que compartilham o compromisso de defender a liberdade.

Logo na Introdução, Lawson e Powell fazem algumas considerações que julgo oportuno reproduzir:

“Hoje apenas três países permanecem quase inteiramente socialistas: Coreia do Norte, Venezuela e Cuba. Outros países oficialmente socialistas, como a China, o são apenas nominalmente, mas na verdade permitem tanta propriedade e controle privados que se qualificam como economias mistas.

Visitaremos esses lugares e também três antigos países soviéticos que estão tentando fazer reformas – Rússia, Ucrânia e Geórgia. Combinaremos nossas observações de viagens em primeira mão com a teoria econômica, história e ciência social empírica para tentar entender o que está acontecendo nesses lugares.

Para nós, como viajantes, as políticas econômicas socialistas podem ser um inconveniente, entretanto podem impor, aos que vivem sob elas, um sofrimento brutal e desnecessário. Isso nos deixa com raiva – e pode deixá-lo com raiva também.

Então, com esse aviso, arrume sua bagagem de mão e peça uma bebida forte ao comissário de bordo: vamos embarcar em nossa viagem pelo mundo “não livre””.

A primeira parada na viagem aos países socialistas de Lawson e Powell foi na Suécia, que, a rigor, não é um país socialista. A visita à Suécia, em setembro de 2009, permitiu que os autores entendessem melhor que o país é, em essência, capitalista, obtendo resultados altamente positivos na proteção aos direitos de propriedade, permitindo o livre comércio e regulando apenas ligeiramente os mercados de crédito e as empresas em geral. O que leva muita gente a se confundir, considerando a Suécia um país socialista, é o fato de o país possuir um grande estado de bem-estar social, assistência médica fornecida pelo governo, generosos benefícios de desemprego e elevados níveis de tributação.  Em resumo: “A Suécia é um país próspero, basicamente capitalista. Quando estávamos lá, podíamos ver isso com nossos próprios olhos. Os suecos eram obviamente ricos, seus prédios, bem conservados, e sua cerveja, boa e gelada”.

Os capítulos seguintes correspondem às diversas paradas da viagem.

Na Venezuela, definida como “socialismo faminto”, visitada em janeiro de 2017, os autores destacam: “Os direitos de propriedade inseguros na Venezuela, as indústrias nacionalizadas, os impostos punitivos, a inflação monetária e as regulamentações sufocantes dos negócios resultaram no que vimos, em detalhes vividos e comoventes, na Ponte Santander, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela: venezuelanos de classe média empobrecidos, carregando fardos de açúcar, arroz, feijão e fraldas. Vimos os fatos econômicos como resultado possível da teoria econômica”.

Em Cuba, definida como “socialismo de subsistência”, visitada em maio de 2016, constataram: “Os cubanos, sob um sistema socialista, permanecem pobres e comem alimentos insossos. A noventa quilômetros de distância, os cubanos que moram em Miami tornaram-se relativamente ricos e fazem uma comida maravilhosa. Mesmas pessoas, dois sistemas econômicos diferentes, dois resultados econômicos – e gastronômicos – drasticamente diferentes”.

A Coreia do Norte, definida como “socialismo sombrio”, visitada em maio de 2017, continua entre os países mais pobres do mundo, mas a pobreza material não é muito pior do que a que pode ser vista em outras partes da Ásia ou da África. Chocante; para Lawson e Powell, é o contraste entre a Coreia do Norte e seus vizinhos, China e Coreia do Sul: “Imagens noturnas de satélite revelam a Coreia do Sul iluminada como uma árvore de Natal, com uma enorme estrela de luz emanando de Seul, e filamentos menores de luz fluindo por todo o país. Exceto por um pequeno ponto de luz em Pyongyang e estreitos trechos de luz espalhando-se pelo rio Yalu, na China, o norte é escuro. Em nenhum lugar do mundo, o contraste entre o socialismo e o capitalismo é tão preto e branco – ou, nesse caso, preto e iluminado – como é aqui”.

Sobre a China, definida como “socialismo falso”, visitada em maio de 2017, os autores afirmam: “Quando a China comunista era governada por ideólogos socialistas, era um Estado policial empobrecido e totalitário, que matou dezenas de milhões de seu próprio povo. Agora, a China comunista pratica capitalismo de compadrio e é um Estado policial próspero e muito mais contido. Isso é péssimo, mas acredite em nós – ainda é progresso”.

Da Rússia e da Ucrânia, definidas como “socialismo de ressaca”, visitadas em setembro de 2017, Lawson e Powell ficaram com a seguinte impressão: “A verdade não importa muito quando um governo socialista o declara inimigo do povo. Quando George Orwell escreveu 1984, seu romance distópico, dizem que tinha a BBC em mente, mas também o comunismo soviético. Apesar de toda a “privatização” ocorrida na Rússia e na Ucrânia, ambos os países sofrem de uma grande ressaca comunista”.

A Geórgia, definida como “novo capitalismo”, visitada em setembro de 2017, deixou uma impressão muito positiva nos autores, em grande parte graças às contribuições de Mikheil “Misaha” Saakashvili, líder do país a partir de janeiro de 2004, e do ministro das reformas econômicas, Kakha Bendukidze, com quem tiveram uma longa conversa. Bendukidze, que faleceu em Londres em 2014, durante uma operação cardíaca, era uma figura imponente, que devia pesar uns 160 quilos e que pensava e agia como um fanático libertário.

Como assinalam com propriedade Lawson e Powell,

“A propriedade privada é essencial, mas não suficiente, para apoiar um sistema de livre mercado. Esse também depende de outras liberdades econômicas, como a liberdade de iniciar um negócio, produzir bens, competir com outras empresas, definir preços e contratar e demitir funcionários. Quando Kakha Bendukidze entrou em cena, praticamente todas as esferas da economia georgiana precisavam, desesperadamente, de liberalização econômica. Não só o Estado possuía muitas indústrias, mas também os impostos eram altos e a regulamentação burocrática sufocava os empresários.”

De acordo com Lawson e Powell, frente a tamanhos desafios, “Kakha Bendukidze se concentrou em três objetivos sobrepostos: reduzir o tamanho do governo, privatizar empresas estatais em negócios independentes e revogar burocracia, regras e regulamentos desnecessários”.

Por ter sido um estado-satélite russo, e depois soviético, durante mais de duzentos anos, e ter passado os primeiros doze anos após o colapso da União Soviética seguindo políticas amplamente socialistas, a Geórgia ainda pode ser considerada pobre, com uma renda média de apenas  US$ 8.000 por ano. Porém, após ter abraçado a liberdade econômica e o capitalismo, o crescimento econômico tem aumentado exponencialmente, possibilitando visíveis melhoras do padrão de vida de seus habitantes. Mesmo que ainda não possa se orgulhar de sua prosperidade, certamente está indo muito melhor do que antes, e o futuro parece muito promissor.

No último capítulo, Lawson e Powell relatam as impressões e, principalmente, as contradições   observadas na Conferência do Socialismo, realizada em Chicago em julho de 2018, considerado o maior encontro anual de socialistas americanos, da qual participaram como infiltrados.

Encerro o artigo reproduzindo as palavras conclusivas de Lawson e Powell:

“Tanto a teoria econômica quanto a evidência empírica sugerem que os países que abraçam os mercados em maior medida e evitam as políticas socialistas em maior medida, permitem aos humanos vidas mais ricas, mais longas, melhores e mais gratificantes. E, depois de trotar ao redor do globo, visitando muitos dos países que estão, ou estiveram, no espectro mais próximo do socialismo puro, podemos atestar com segurança que o socialismo é simplesmente péssimo.

*Luiz Alberto Machado é economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e consultor da Fundação Espaço Democrático.

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