Sobre Comissões da Verdade
BERNARDO SANTORO*
As Comissões da Verdade voltam a ter destaque após a investigação da morte de Juscelino Kubitschek (e que Deus me abençoe para poder escrever direito esse sobrenome). A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo (que não é a Comissão Federal) declarou nesta semana que JK foi assassinado pelo Governo Federal, e os peritos da época já se defenderam declarando ser isso um completo absurdo. Entre a análise técnica e a política, fico com a técnica, mesmo desconfiando dela também.
Essa onda de Comissões da Verdade que agora se espalham por todas as casas legislativas do país começou com o Governo Federal, que por pressão de certos setores de esquerda, passaram a investigar fatos ocorridos durante a ditadura militar para fins FINANCEIROS.
Ao contrário do que diz a lei, que fala que a Comissão da Verdade foi feita para “efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”, a Comissão foi feita para dar a setores ligados ao governo subsídio para buscar gordas indenizações junto à Comissão de Anistia, que é uma comissão junto ao Ministério da Justiça que entrega indenizações milionárias a pessoas ligadas ao partido.
Eu digo isso no papel de advogado. A Comissão de Anistia até concede indenizações a pessoas efetivamente prejudicadas. Um cliente meu foi injustamente expulso das forças armadas e chegaram a declarar a morte civil dele por um tempo. Foram anos para conseguir uma justa indenização para esse cliente. Já “companheiros do PT” que até lucraram econômica e politicamente com o conflito político com as Forças Armadas, tem seus processos tramitados em tempo recorde, assim como também são recordes os valores de indenização concedidos a eles.
Qualquer mero indício de prova produzido pela Comissão da Verdade é imediatamente usado por essas pessoas para pleitear indenizações junto à Comissão de Anistia.
E a verdade? Bem, a verdade é aquilo que o governo entender que é mais conveniente do ponto de vista político.
Essa técnica foi revelada em um livro clássico: 1984, de George Orwell. O personagem central do livro, Winston Smith, vive em uma realidade de um governo despótico que criou um Ministério da Verdade, onde o personagem trabalha. A função do Ministério é fabricar a verdade mais conveniente para o governo, de modo que o partido seja infalível. Nada muito diferente do que a Comissão da Verdade do PT tenta fazer.
As próprias prioridades da Comissão mostram isso. João Goulart tem seu corpo exumado e sua morte investigada. Já a morte de Carlos Lacerda, o campeão da direita conservadora e também líder da oposição, é esquecida. O novo livro de Romeu Tuma Jr. que acusa Lula de ser um agente do DOPS de condinome “Barba”, deveria servir de base para imediata investigação da Comissão da Verdade, mas essa verdade precisa ser esquecida, por não ser conveniente.
Entre verdades inconvenientes e mentiras fabricadas com cunho financeiro, ainda fico com a posição de Jesus Cristo (João 18:38) quando Pilatos lhe perguntou “o que é a verdade?”. Ele, humildemente, nada respondeu.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL