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Show de realidade

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Já dizia Millôr Fernandes que no Brasil, quando se for ser irônico, deve-se avisar. Décadas de deformação desconstrutivista ajudaram na guinada rumo ao analfabetismo funcional (38% entre os alunos do ensino superior ilustrado fielmente pela reação à coluna “à direita” (2) de Antonio Prata, em novembro do ano passado, na “Folha de São Paulo”. O que faltou ao texto sobrou nas impretepações dos leitores e, especialmente na tentativa de seu padrasto de atribuir à direita aquilo que majoritariamente veio do lado oposto. Mais gozado ainda foi vê-lo expropriar a frase do Millôr, na revista bancada por dinheiro público expropriado da população.

Embora o colunista tenha dito que a maioria dos e-mails que recebeu tenha sido de direitistas burros que o parabenizaram por não ter entendido a ironia, no Painel dos Leitores da “Folha” – onde ele explicou depois o que não avisou antes – somente um exemplo dessa reação surgiu à destra. A maioria (75%) dos quatro que não conseguiram entender um texto simples, para não variar, veio da esquerda, com dois leitores o insultando por achar que havia mesmo traído o movimento e um terceiro ainda cogitando que ele estivesse sendo irônico, mas sem ter certeza.

Dos cinco leitores subscritos somente um leitor à Rive Gauche entendeu e aproveitou para chamar os colunistas de direita de “pitbulls” – ao mesmo tempo em que os acusava de “autoritários, raivosos e desrespeitosos”. Mais que as reações de incompreensão, porém, a incapacidade cognitiva média de seu leitorado se mostra na forma com que o próprio colunista escreve: ao se caracterizar como o outro, como o inimigo, tem que fazê-lo da maneira mais caricatural, sem quaisquer nuances, para ser compreendido.Mesmo assim, mormente, não é. E quando é, E quando é, tem tratado como “ironia fina” seu personagem montado com as figuras de linguagem mais hiperbólicas possíveis.

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Bufa hipérbole

Os autores “meio de esquerda, meio intelectuais”  não são os únicos a terem no exagero forçado a única maneira de se comunicar com seu público sem avisarem antes, quando forem (tentar) ser irônicos. O caso é bem mais grave com autodeclarados humoristas cuja verdadeira atuação é meramente a de militantes políticos, enquanto políticos (não tão militante) atuam bem melhor como comediantes. Popularizado há quase um ano, o sujeito que atende pelo apelido de Rafucko tornou-se uma espécie de comediante oficial dos manifestantes pacíficos que já começaram espancando um policial para, depois, culpar a polícia pela violência.

Sua imitação de Patrícia Poeta é exemplo acabado do “equivalente mais próximo do senso de humor” de militantes esquerdista descrito em 2002 por Olavo de Carvalho: “quando quer expor ao ridículo um adversário, não é capaz de sátira inteligente ou ironia sutil: recorre ao hiperbolismo bufo, disforme e rancoroso”.

Em explicação menos erudita, não sacaneiam ninguém, só enchem o saco.O leitor pode parar de ler aqui, com nojinho (ui, Olavo; ui, direita) ou se informar que nem gente grande: confira o vídeo em que esse artista debocha do luto pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, então recém-cometida, por um rojão lançado pelos tais manifestantes.

Até o séquito se constrangeu

Em talk show recentemente veiculado na internet, essas qualidades são reforçadas, mas o que chama a atenção é a incapacidade de enxergara piada em si próprio de quem se leva infinitamente a sério, mesmo que pretendo fazer humor irônico. Convidado da vez, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ) mostra que, se divide com o federal Tiririca (PR-SP) o talento para ganhar votos, não compartilha a aptidão para comediante: http://youtu.be/qzRsuPJ8oHQ

A culatra deu para trás tão precisamente o tiro que o resultado nas redes sociais do bem foi um silêncio proporcional ao barulho forçado, meses antes, contra a veiculação de uma notícia verídica, por mais que hipertrofiada, sobre quem julgam “intocável”.

Rodrigo Neves (não o prefeito de Niterói) resumiu bem a situação: O que era pra ser uma tentativa da esquerda de ridicularizar a direita e passar uma imagem “descolada” da esquerda no final acabou tendo o resultado exatamente oposto: o socialista Marcelo Freixo e seus companheiros trotskistas foram pintados de uma maneira tão realista que não dá pra perceber onde começa a caricatura e onde termina a realidade.

Os clichês e frases prontas da esquerda, a imposição de sua opinião como sendo a única “correta e inteligente” e o desrespeito à individualidade e à propriedade privada (afinal, Freixo simplesmente invade a casa da pessoa que ele considera reaça) são todas as características clássicas dos socialistas mundo afora.”

Meu professor de história mentiu para mim, Os dois minutos de constrangimento começam com Freixo descrevendo a Rafucko seu novo projeto: um reality show chamado Dia de Esquerda: “A gente pega um jovem bem fascista, bem reacionário e ensina o elementar para ele, em direitos humanos, democratização da mídia e respeito à diversidade”. Elementar é saber que ou o jovem é fascista ou é reacionário. Uma premissa exclui a outra. A história relativamente recente nos mostra que “reacionário foi quem se opôs a Lenin, a Mao, a Hitler, a Mussolini, a Khomeini, a Fidel, a Milošević, a Saddam, a Kadafi, a Mugabe”, entre outros perfilados por Flávio Morgenstern, lembrando ainda que a “reação” (“Reaktion”) eram nominalmente tratada como os inimigos na ”Canção de Horst-Wessel”, hino dos nazistas.

Uma leitura no “Guia Politicamente Incorreto da História” ainda ajuda a mostrar como, na chamada “Noite das Facas Longas”, militantes do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemão – inimigo declarado do capitalismo – executaram alguns dos principais líderes conservadores. Descendo à Itália, para o fascismo propriamente dito, vale lembrar sua inspiração em um símbolo, o fascio, advindo da Revolução Francesa, e basta lembrar as palavras do próprio Benito Mussolini, originário do Partido Socialista Italiano, ao se lançar, junto com os nazistas alemães, à 2ª Guerra Mundial, não deixa, então, nenhuma dúvida quanto à identificação siamesa: “É chegada a hora do destino de nossa pátria, a hora das decisões irrevogáveis. Sairemos a campo para lutar contra as democracias plutocráticas e reacionárias do ocidente”.

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Como se vê, pretender que algum “jovem” (ou velho) seja, ao mesmo tempo, fascista e reacionário faz sentido quanto ele torcer pelo Vasco e pelo Flamengo ao mesmo tempo.

2014 – 30 =…

Já o que o Psol chama de “democratização” é a puranovilíngua: “um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que democratize a comunicação e retire das mãos do mercado o controle do setor (…) que não permita que a comunicação seja refém da iniciativa privada e da exploração comercial (…) que reserve ao Estado o papel de indutor, promotor e garantidor desse direito”.

Não é menos elementar que mercado nada é senão o ambiente de trocas voluntárias entre pessoas – físicas e jurídicas. Por sua livre e espontânea vontade (e risco, como em qualquer negócio), essas pessoas lançam revistas, jornais e sites, como a Folha dos Lagos. Lê, compra e anuncia quem quiser, de acordo com sua própria e espontânea vontade. O partido de Freixo não gosta disso, não quer que as pessoas sejam “reféns” de sua própria vontade, com o uso de seu próprio dinheiro. Quer que o estado controle a comunicação e chama isso de “democratização”. É coerente – com quem une socialismo e liberdade em um mesmo nome de partido.

Ocupação

Vestido como uma mistura de Fidel e Hugo Chávez, sem pedir licença, Freixo invade a casa da “jovem reacionária” Amanda – interpretada pelo mesmo Rafucko –, que está sentado lendo a Veja, e diz que ela ganhou um “Dia de Esquerda”, como presente de seu (dela) amigo Leonardo Guarani-Kaiowá, ao ver que ela compartilhou um post do Facebook favorável à jornalista Rachel Sheherazade. Nada mais de esquerda do que patrulhar a opinião alheia, mas nada menos reaça de fato do que não excluir da sua lista qualquer Zé Mané que adote apelido de índio de boutique ou modinha imbecil desse tipo.

Em seguida, o deputado impede, muito democraticamente, a jovem de dizer o que acha que é “bandido bom” e responde, por ela, que é o que “tem seus direitos humanos respeitados e que pode ser dado (sic) a ele uma alternativa de vida”.

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Schopenhauer citava a “alternativa forçada” como um dos métodos para vencer um debate sem ter razão. Só alguns poucos toscos defendem que “bandido bom é bandido morto” e quem duvida pode procurar se os principais articulistas conservadores do país atualmente, como Reinaldo Azevedo, Denis Lerrer Ronsefield e Paulo Briguet adotaram o mote algum vez.

Já à rive gauche, ao mesmo tempo em que a justificativa da iniciação de violência por motivos sociais é farta, alimenta-se a ilusão de bandidos só o são por “falta de alternativa de vida”, como se Suzane Von Richtoffen (foto) e Fernandinho Beira-Mar não tivessem opção além de matar suas vítimas com requintes de crueldade, assim como o dimenor que, ano passado, foi assaltar um ônibus porque “só com R$ 450” não teria dinheiro suficiente para comemorar seus 17 anos e, no meio do caminho, resolveu currar uma menina com o revólver encostado na cabeça dela. Isso é falta de alternativa?

Rewind / the end

Na tomada seguinte, ‘Amanda’ não consegue mais ver TV, dizendo que “só tem mídia fascista burguesa”. Fascista e burguesa? Retomemos, então, as palavras do próprio Benito Mussolini:

“Não nego a existência de temperamento burguês, mas excluo que eles possam ser fascistas. O credo do fascista é o do heroísmo; o do burguês, o egoísmo”.

Vemos, novamente, a contradição total no credo do socialista deste século 21 contra os “burgueses” – que em nada difere daquele do socialista e fascista do século 20, os quais tenta juntar como se fossem o mesmo, quando são opostos. O mais (involuntariamente) engraçado vem no fim, entretanto. O deputado volta à casa de ‘Amanda’ e, entusiasmado com os pelos crescendo no corpo dela, a elogia por estar “dona do próprio corpo, das próprias decisões”… logo após tê-la forçado a dar a resposta “certa” para sua pergunta. Involuntariamente, ao deixar transparecer a dicotomia entre a alegada liberdade e o flagrante autoritarismo, o fictício reality show Dia de Esquerda acaba sendo, de fato, um show de realidade.

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João Pequeno

João Pequeno

Jornalista. Repórter e editor de Brasil do Jornal Destak, com passagens por O Dia, Jornal do Brasil, G1, Terra e Folha de S.Paulo

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