Resultados razoavelmente previsíveis
A fechadura econômico-social lastreada no medo decorrente da COVID-19 começa a dar sinais de rachadura. Esse pode ser um sinal importante: o de que ainda resta um impulso humano pela liberdade, muito mais forte que o pavor.
Não sei se o momento é adequado, nem, muito menos, se o vírus é tão letal. Teremos uma segunda onda? Acho que ninguém pode responder afirmativamente ou negativamente de forma categórica. Seria “wishful thinking”.
O ex-ministro, Nelson Teich, disse com todas as letras que a comunidade médica sabe muito pouco — ou quase nada — a respeito do vírus. Aliás, vale lembrar, ele era favorável a uma reabertura planejada (cf. entrevista concedida à Globo News).
Pois bem. Vimos sinais de retorno ao bom e velho normal vindas de outros países. A despeito de muitos “experts”, usando verdadeiras “bolas de cristal”, apontarem para um tal de “novo normal”, com máscaras, distanciamento e muito álcool gel.
Apóstolos do apocalipse — que tentaram escrever um enredo baseado no livro The Stand de Stephen King —, mudaram de assunto após começarem a perceber indícios de uma aparente “revolta das massas” contra o confinamento. Querem uma explicação simples para o ocorrido? As pessoas estão cansadas do encarceramento privado.
Nesse ambiente, o abominável, inaceitável e asqueroso assassinato de George Floyd tomou espaço da peste e levou milhões de pessoas para as ruas nos EUA. O fato ecoou pelo resto do mundo. Imagens de protestantes, literalmente aglomerados, tiraram muitas pessoas da apatia provocada por um sentimento de medo resultante de uma exposição ostensiva do vírus pela mídia todos os dias.
Ver seres humanos andando pelas ruas ao vivo e a cores acaba desencadeando um forte efeito estudado pela psicologia social: a prova social (social proof). Este termo foi cunhado por Robert Cialdini, como consta do seu livro Influence: The Psychology of Persuasion. Basicamente, seres humanos copiam o comportamento dos demais: “monkey see, monkey do”…
Logo, assim como o #FiqueEmCasa foi copiado, o vá para a rua protestar também o foi. Assim, estamos saindo do confinamento da mesma forma que entramos, sem qualquer embasamento médico-científico e por decorrência do comportar humano. Ao fim e ao cabo, a psicologia social e a “behavior economics” prevaleceram.
Por fim, vale lembrar que há uma característica individual marcante para a liberdade; trata-se da aversão aos riscos. Algumas pessoas tendem a tolerar mais os riscos do que as outras e são elas que, apesar da pandemia, acabam desviando das “regras” do momento e retomando os hábitos normais.
Todos esses elementos talvez revelem um achado importante a favor da liberdade: seu valor está mais entranhado em nossa moral e no tecido social do que pensávamos e, sempre que for estimulado, gerará resultados razoavelmente previsíveis. Nem o medo inculcado a supera.