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Resenha: Cântico de Ayn Rand

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O livro “Cântico” é uma obra publicada por Ayn Rand em 1937, que utiliza da distopia e um cenário centrado num universo totalitário para trazer, ao longo de seus capítulos, diversas provocações e lições no que diz respeito ao individualismo, à liberdade e aos efeitos do totalitarismo.

A boa interpretação da obra em questão passa por um entendimento das origens e experiências de vida da autora. Rand nasceu em 1905, numa família judia de São Petesburgo (Rússia). Seu pai possuía uma farmácia, o que permitia à família viver em condições consideradas “burguesas”. Após a “Revolução de 1917”, além de sua família ter seus bens expropriados, Rand foi expulsa da faculdade sob o argumento de “provir de uma família burguesa”. Em 1926, conseguiu ir para os Estados Unidos, sendo fortemente influenciada pela Grande Depressão, pela luta contra Alemanha e Japão na 2ª Guerra Mundial e por uma economia americana fortemente centralizada na década de 40, quando, então, passou a ter contato com os pensamentos libertários.

Embora “Cântico” seja, em termos de concepção, temporalmente anterior a “A nascente” (1943) e a “A revolta de Atlas” (1957), os princípios básicos citados já estão nítidos na obra: o indivíduo heroico que se revolta contra a ordem política totalitária.

A obra tem como enredo um mundo extremamente coletivizado, inundado de diversos “Conselhos” que regulam até as mínimas atividades sociais, em que cabe aos sábios presentes nestas congregações dirigir centralmente toda a sociedade.

O herói da história, chamado de “Igualdade 7-2521”, tinha como sonho ser cientista, mas o “Conselho de Profissões” decidiu que ele serviria melhor à sociedade como varredor de rua. O conflito entre sua vontade de agir, pensar e amar livremente versus a ordem governamental totalitária que o oprime é o centro da obra. A batalha entre indivíduo e o coletivo. O personagem da obra se apaixona por “Liberdade 5-3000”, uma linda camponesa de 17 anos, cujo afeto é correspondido.

Em uma sociedade onde qualquer resquício de individualidade era considerado proibido, se apaixonar era um crime. O sentimento compartilhado pelos personagens é apresentado como um combustível para que o questionamento ao totalitarismo vigente permanecesse constante em ambos. Quando “Igualdade 7-2521” redescobre a eletricidade e é impedida de compartilhar a descoberta por um dos “conselhos”, a trama atinge seu ápice e, movidos pelo desejo de viverem sua liberdade, o casal foge para a floresta até encontrar uma cabana antiga onde iniciaram seus sonhos.

Em sua devoção ao indivíduo, Rand traz à tona a crítica de que quando o Estado não reconhece qualquer individualidade, é imposto o fato de que nenhum ser humano é especial, único ou brilhante. Sem a individualidade não há criação, e com isso o mundo está fadado à pobreza. Ideias mudam o mundo, e assim o fazem porque são produtos da mente. Por outro lado, não é possível existir razão coletiva. Uma sociedade que castiga o pensamento individual inexoravelmente retornará a condições de primitivismo bárbaro.

A obra ainda traz os princípios básicos da filosofia de Rand (o objetivismo): razão, individualismo, volição, e a sustentação de valores que não contradizem a razão.

Nada é mais atual em “Cântico” do que a crítica à censura. Na obra fica claro que o controle da linguagem implica em controle de pensamento; aqueles que pensam com as palavras autorizadas pelo governo, pensam o que e como o governo deseja. Uma mente livre e criativa é um desafio constante aos interesses de uma ordem ditatorial e é por isso que a liberdade de discurso e pensamento é imediatamente cerceada em governos totalitários.

Num cenário brasileiro no qual o “cancelamento digital” e a “regulação da mídia” passam a ser defendidas por parte da sociedade civil e da corte máxima da justiça, o “Cântico” parece sussurrar o resultado de um caminho sombrio e nebuloso que nossa sociedade passou a trilhar. Aos defensores da liberdade fica a responsabilidade de não fazer parte da última geração a desfrutar do principal direito natural do ser humano.

*Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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