Flama e ambição em cor de rosa
Hollywood definha. Faz tempo; são raros os filmes com “F” maiúsculo. Como não sou como muitos chutadores – e eles andam livres, leves e soltos -, recorro aos fatos e dados. Vejam, por exemplo, as cerimônias “rosas” burlescas do Oscar. A audiência, comprovadamente, foi para o ralo.
Tudo é extremamente superficial, exatamente como os filmes hollywoodianos. É dantesco assistir a um filme e, num pestanejar, completamente fora de contexto, aparecer um enxerto “progressista”. Escárnio. Não há mais enredos “para pensar”, só existem pautas identitárias e mais causas LGBTQIA+. São caricaturas! Ficaram para trás os fabulosos personagens “complexos”; agora só se têm os tais grupos sociais compostos de mulheres, de negros, de gays…
Aliás, todo homem branco e hétero, evidente, é um baita de um racista! Tudo previsível, conforme o script.
Claro que Hollywood quer faturar, mas, como na vida real empresarial, alguns emplacam; muitos outros, das “cenas identitárias”, tornam-se rotundos fracassos.
Vamos ao filme da Barbie, ou melhor, a febre cor de rosa. Na verdade, a Mattel está tentando reproduzir as estratégias bem-sucedidas da Marvel, que transformou seus personagens em quadrinhos em estrelas de cinema de Hollywood. Não assisti ao filme rosado, mas vi algumas cenas e li uma série de comentários. Na verdade, acho que já assisti muitos filmes como Barbie!
Realizei minha Tese de Doutorado sobre a CCT – Consumer Culture Theory. Resumidamente, a teoria procura compreender como os consumidores criam e alteram os significados simbólicos embutidos em produtos e marcas, construindo expressões próprias de suas particularidades pessoais e sociais.
A boneca Barbie, no meu entendimento, representa o conceito do “eu estendido”, uma vez que ela passa a ser um depositório de memórias e de sentimentos que dão sentido à vida de pessoas, e que serve de uma espécie de âncora para a definição da identidade social e do pertencimento a um grupo social. Tais relações de consumo-identidade alavancam, cada vez mais, consumo e vendas.
Por outro lado, mais uma vez, lá vem Hollywood com suas risíveis pautas “progressistas”. Em Barbie, ela é a representação coletiva do grupo das feministas. A única coisa que não poderia ser escasso nesse filme, por óbvio, são os valores progressistas da inclusão, da diversidade e do “empoderamento” feminino. A estética do filme até pode ser legal e, certo, o feminismo é mais uma narrativa para a película estourar nas bilheterias.
Não sei o porquê, mas temo que não vou gostar desse “paraíso cor de rosa”.