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“Quem roubou nossa coragem?”: uma ousadia necessária

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Tenho defendido que não se pode desguarnecer a retaguarda intelectual do liberalismo em prol de uma absoluta concentração de forças na submersão à política partidária. Entretanto, isso não significa que um caminho tão importante, no qual os “gols” acabam por ser marcados, deva ou possa ser ignorado. Admiro aqueles que, principalmente já tendo uma trajetória bastante consolidada no mercado, resolvem engajar-se na ousadia – necessária – de ingressar no campo político em defesa das melhores ideias.

O livro Quem roubou nossa coragem?, da editora Esquina do Lombas,  com apresentação de Marcel van Hattem, prefácios de Caio Coppolla e Salim Mattar e comentários na contracapa de Bernardinho, Beto Sicupira, Fernando Schüller e Marcel Telles, é um testemunho objetivo e inspirador de alguém que acolheu essa ousadia. O autor – e personagem principal – é Mateus Bandeira, consultor e conselheiro de administração de empresas gaúcho graduado em Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Pelotas, com MBA pela The Wharton School – University of Pennsylvania. Bandeira foi ainda presidente do Banrisul, CEO e Managing Partner da Falconi Consultores de Resultado e secretário de Estado do Planejamento e Gestão.

O livro é uma narrativa de Bandeira sobre o desafio que aceitou em 2018 de concorrer, pelo Partido Novo, ao governo do Rio Grande do Sul, defendendo uma plataforma liberal – um atrevimento que, sob esse ponto de vista, insere o autor em uma tradição de vozes liberais daquele estado que tiveram que lutar (infelizmente, por vezes, em um sentido mais literal do que uma candidatura) contra o forte legado de autoritarismo e estatismo que o caracteriza desde o alvorecer da tradição castilhista. Recebi a obra diretamente do autor, com quem venho travando contato dentro do Conselho do Instituto Livre Mercado, e considero que ela pode ser útil para inspirar outras pessoas corajosas e convictas a se permitirem ingressar nessa luta indispensável por enfrentar as aberrações de nosso sistema político de dentro.

Conforme Bandeira, o opúsculo pretende “contar a história de minha candidatura: suas razões, convicções, dúvidas, escolhas e propostas; relembrar alguns episódios, algumas curiosidades, contar aprendizados e, tão importante agora como então, reafirmar seus valores”. O autor enfatizou que a candidatura jamais foi um objetivo a ser alcançado em sua trajetória, mas uma decorrência dos caminhos que trilhou. Em 33 pequenos capítulos, Bandeira reconstrói esses caminhos e como eles o conduziram ao campo de batalha da vida pública naquele ano.

Os primeiros capítulos ressaltam a biografia profissional pregressa de Bandeira, sem que ele abdique em nenhum momento de apresentar também a dimensão pessoal e humana que não se pode dissociar de qualquer aspecto da vida. As escolhas que se fazem no âmbito profissional nunca são sem preço ou sem consequências, especialmente levando-se em consideração o contexto familiar. Explicitar essa dimensão aproxima o relato de Bandeira da experiência cotidiana e seus dramas, o que tende a facilitar a identificação do leitor.

Também ajuda a associar o profissional com o “político” – ou, como ele preferiria dizer, alguém que passou pela política, no sentido partidário-eleitoral do termo. Por boa parte dos capítulos, Bandeira ilustra o quanto esteve vinculado à valorização da iniciativa privada, do mérito e do desenvolvimento humano pelo trabalho. Tal como seus colegas de MBA, suas convicções eram de que o liberalismo e o capitalismo haviam triunfado sobre as utopias socialistas e a tirania fascista, merecendo a mais ampla implementação para conduzir os indivíduos à prosperidade. Entre suas mais notórias inspirações, destaca-se a figura de Roberto Campos – de fato, um dos mais importantes liberais brasileiros do século XX e a principal liderança em defesa das pautas pró-mercado na Nova República.

Põe-se a relatar, em sequência, sua aproximação com o Partido Novo, seu conhecimento acerca dos grandes problemas da máquina pública gaúcha, sua vinculação com os institutos liberais do país – inspirados pelo nosso Instituto Liberal, fundado em 1983 – e, após muita ponderação, sua escolha de ser o candidato que “começaria com uma missão cumprida e vitoriosa: a missão de mostrar aos defensores da agenda capitalista no Brasil que este é o próximo passo necessário – a conquista de corações e mentes, a conquista de votos”. Descreve, subsequentemente, a pré-campanha, as estratégias adotadas, as visitas e incursões para dialogar com diferentes setores da sociedade e o compromisso de elaboração de um plano de governo realista e com propostas objetivas.

Em sua plataforma, inseria as privatizações, a concentração do Estado em setores básicos e a rejeição de privilégios – posição que Bandeira não se furtava de afirmar mesmo diante de assembleias compostas pelos próprios privilegiados. Tendo recebido 200.877 votos, nosso autor não avançou para o segundo turno; sentindo-se, no entanto, vitorioso, e com fundadas razões para tal, arremata: “precisamos sair dos seminários e multiplicar candidaturas. Precisamos multiplicar opções eleitorais que conciliem democracia com economia de mercado. Fazê-las triviais, fazê-las inevitáveis”.

Permito-me pontuar apenas que, particularmente, penso que precisamos de mais seminários, mais livros, mais produtos de entretenimento, muito, muito mais engajamento do que temos na arena cultural, donde tudo parte e onde muito há ainda por fazer, sem o que a vitória política sempre será reduzida e efêmera. Esta, no entanto, é absolutamente necessária. A atuação dos liberais ainda é insuficiente em todos os campos.

Nesse sentido, espero que o exemplo de Mateus Bandeira sirva como um chamamento à luta para os brasileiros que se sentirem inclinados a esse campo de combate, e que sua experiência possa ensinar-lhes a se conduzirem no enfrentamento desse imenso desafio – imenso, sim, mas imperativo.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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