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Breve análise de “As Seis Lições” de Mises

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“Somente as boas ideias podem iluminar a escuridão”. Este foi o teor do encerramento da sexta, e última, palestra ministrada por Ludwig von Mises na Universidade de Buenos Aires, em junho de 1959. A transcrição dessas palestras deu origem ao livro As Seis Lições, que apresenta de forma clara e objetiva as suas ideias e uma defesa vigorosa da liberdade.
Mises foi funcionário público, escritor e professor. Em seu período como magistrado, lecionou para alunos como Friedrich August von Hayek (vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1974), Alfred Schütz e Fritz Machlup, dentre outros filósofos, historiadores e economistas. No mesmo período, lançou diversas publicações em que defendia o capitalismo, a adoção do liberalismo, criticava tanto as ideias do socialismo quanto a política do intervencionismo estatal. Por sua produção intelectual, é considerado o mais importante expoente da Escola Austríaca de Economia e um dos economistas mais influentes do século XX.

As lições de Mises partem de um raciocínio baseado na lógica e no empirismo e têm como ponto de conexão as ideias liberais sobre Capitalismo, Socialismo, Intervencionismo, Inflação, Investimento Estrangeiro, Política e Ideias.

O autor inicia explicando que o capitalismo tem como origem, nas palavras do próprio: “produção em massa para atender às necessidades da massa”. Por isso, defende que o trabalhador, em uma visão ampla, é o cliente ao qual todo o sistema visa a atender. Além disso, explicita o fato de esse sistema econômico elevar o padrão de vida dos indivíduos das sociedades que o adotam. Ao abordar este ponto, Mises faz um comparativo entre os padrões de vida dos trabalhadores na Inglaterra antes e depois da adoção do capitalismo e ressalta a capacidade que o país passou a ter de sustentar uma população quase dez vezes maior em pouco menos de dois séculos, já que, apenas no período da Revolução Industrial (de 1760 a 1830), sua população dobrou. Outro ponto destacado é de como as reservas de capital beneficiam os trabalhadores devido a um efeito em cadeia, pois a entidade a que este capital acumulado foi confiado utiliza-o como fonte de crédito a empresários, que, a partir disso, movimentam e aquecem a economia.

Para Mises, o capitalismo é o sistema econômico mais eficiente e benéfico para a sociedade, pois permite que os indivíduos acumulem e utilizem seus recursos de forma eficiente para satisfazer a suas necessidades e desejos, o que resulta em crescimento econômico e prosperidade. Esse sistema também permite a livre concorrência, o que incentiva a inovação e a melhoria dos produtos e serviços. Além disso, o autor pontua que a crítica ao sistema capitalista partiu da aristocracia fundiária incomodada com o grande êxodo rural e com o seu aumento de gastos para tentar manter seus trabalhadores agrícolas.

Em contrapartida, em sua segunda lição, o autor apresenta toda sua divergência ao sistema amplamente defendido por Karl Marx, o socialismo, atacando os alicerces deste sistema ao evidenciar os seus erros fatais.

Mises demonstra como o planejamento central é falho e fadado ao fracasso, por considerar todo indivíduo como um soldado em “exércitos industriais”, como expressado por Marx, ao qual cabe apenas obedecer, desconsiderando totalmente sua liberdade, inclusive para errar ou ser tolo. É ressaltado também o fato de que, neste sistema, qualquer ideia ou inovação necessita de convencimento e aprovação prévia de sua autoridade suprema, ou de seu comitê, para ser executada. Além disso, todo retorno é planificado e, em teoria, igualmente distribuído a todos da sociedade, independentemente de sua participação ou não neste processo. Esses pontos desincentivam e impedem o avanço tecnológico e econômico dessa sociedade.

Outro ponto destacado é que a indústria moderna se baseia no cálculo econômico. Para isso, é necessário que haja preço dos bens de consumo e fatores de produção, o que só existe quando há um mercado. Sem isso, não há como existir um planejamento. Por isso, o chamado “experimento soviético” é uma falácia, pois era gerido no âmbito de um mundo externo em que existiam preços e mercados para serem levados como referência em seu planejamento, além de sua população ter tido um padrão de vida, em média, muito baixo.

Neste capítulo, Mises também utiliza uma análise histórica para evidenciar que o capitalismo é o único sistema que permite mobilidade social, o que não ocorre na modalidade de sociedade de status que imperava anteriormente e que fatalmente retornaria em caso de instauração de um planejamento central.

Mais adiante, o intervencionismo é o tema da terceira lição. Para o autor, essa ação pode partir de uma boa intenção do governo em fazer mais, inclusive interferindo nos fenômenos de mercado, como o tabelamento de preços. Ações desse tipo levam a um efeito dominó, necessitando cada vez mais da interferência e do controle governamental, através de uma retrospectiva, que foi desde o imperador romano Diocleciano a Adolf Hitler, passando por Robespierre, das tentativas de intervencionismo ao longo da história; o autor comprovou que não há uma terceira via entre o socialismo e o capitalismo, pois, em suma, o intervencionismo tende ao socialismo, com o seu planejamento e controle central.

A quarta lição trata da inflação, que é uma política utilizada premeditadamente por governos como forma de controle artificial de salários e arrecadação de fundos, com mitigação no curtíssimo prazo do desemprego e da necessidade do aumento de impostos. Entretanto, essas práticas têm uma tendência de bola de neve e levam ao descrédito da população em sua moeda, economia e governo, o que culmina em colapso. Por esses motivos, o autor defende que devem ser abandonadas as políticas inflacionárias.

O quinto capítulo traz a lição sobre o Investimento Estrangeiro. Mises argumenta que o capital disponível é a melhor ferramenta para aumentar a produção e o desenvolvimento. Com isso, o investimento estrangeiro aparece como uma forma de acelerar esse processo de disponibilização de capital e redução da distância entre os países mais e menos desenvolvidos. O autor aborda a necessidade dos países em desenvolvimento de aumentar o capital per capita, cessando a hostilização e barreiras ao investimento estrangeiro.

A última das seis lições trata de Políticas e Ideias. Neste capítulo, são tratado oa perigos e problemas de ideias errôneas como socialismo, protecionismo e intervencionismo chegarem ao poder. Um exemplo explorado pelo autor é a existência de grupos de pressão, o que pressupõe que um grupo deseja obter privilégios em detrimento do restante da nação, através de políticas intervencionistas de um governo. Isso acarreta representantes políticos intrinsicamente ligados a esses grupos e que, por isso, nunca irão representar verdadeiramente o povo, quebrando assim a política representativa.

Por fim, Mises clama à geração futura para expor e defender ideias cada vez melhores, para que estas possam combater e substituir as más ideias, pois “tudo que ocorre na sociedade de nossos dias é fruto de ideias”.

Dessa forma, este livro demonstrou de maneira didática e de fácil compreensão os conceitos introdutórios do liberalismo. Esta obra, do “portador da chama da liberdade do século XX”, é leitura obrigatória a todos os indivíduos que anseiam por mais liberdade, prosperidade e justiça; para trazer assim um pouco de luz às trevas que nos rodeiam.

*Gustavo Viana é Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã.

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