Reféns de nossa própria língua
Acordei politicamente incorreto. Não sei se é a gripe; não sei se é a situação do país. Só sei de uma coisa, não dá para aturar essa cantilena esquizofrênica. Há duas décadas atrás, acreditava que isso seria apenas um modismo patético. Lembro, inclusive, de ter comprado um hilariante “Dicionário do Politicamente Correto”. Era coisa de rolar de rir. Mas, não é que a loucura pegou? Uma propaganda com o tal Compadre Washington foi tirada do ar pois, em dado momento, o dito cujo se refere a uma mulher como “ordinária”. Para tudo!! Qual é o problema com a palavra “ordinária”? Aliás, uma famosa obra de Nelson Rodrigues chama-se “Bonitinha, mas ordinária”. Vão mandar recolher os exemplares das livrarias e bibliotecas?
Curiosamente, um movimento de manifestação feminista se define como “A marcha das vadias”. Vejam bem: vadia pode, ordinária não! O que está acontecendo? A subversão de valores é a regra vigente em nossa sociedade? Sinceramente, minha conclusão é: mudar o sentido das palavras e patrulhar o seu uso foi o maior atentado à liberdade de expressão cometido – paulatinamente – nas últimas décadas.
Com “bandeiras” bonitas e peseudo-ponderações que “evoluíram” para gritos, guinchos e cóleras, nos tornamos reféns no uso de nossa própria língua. Trata-se de uma verdadeira mordaça velada. Obviamente, não podemos deixar de considerar o duplo padrão. O monopólio do uso de determinadas palavras é das “minorias” – defendidas pelo glorioso “politicamente correto”. Elas podem usá-las como querem, no intuito de causar o maior impacto possível. Aonde está a isonomia? Ou todos podem usar as palavras, ou ninguém pode.
Enfim, cansei. Não aguento mais. Chega!! Deus nos livre dos politicamente corretos. Vou usar as palavras que quiser e afirmo, com todas as letras, que essa censura é inconstitucional, pois viola a liberdade de expressão. Já sei, já sei… Nossos constitucionalistas dirão que deve haver uma ponderação de princípios, que a liberdade de expressão não é absoluta e blá-blá-blá… Para a devida reflexão, lanço apenas uma pergunta: qual foi o bem que a sociedade teve com essa luta pelo “politicamente correto”? Não vejo nenhum. Aumentaram os conflitos entre homens e mulheres, entre todas as raças, entre todas as crenças e religiões. Para terminar, eu preferia quando fazíamos piadas sobre tudo: gêneros, raças, credos e etc. Na minha visão, éramos mais felizes, livres e perdíamos menos tempo nos preocupando com bobagens. Essa postura politicamente correta é “bonitinha, mas ordinária”.
Priscila,
O comercial foi apenas o factoide para o texto. Mais importante é essa cultura do politicamente correto. Aliás, quem não gosta da propaganda tem o direito inalienável de não adquirir o serviço ou produto. Lembro-me, por exemplo, que o Wall-Mart deixou de desejar feliz natal nos EUA. Resultado, suas vendas despencaram e eles voltaram atrás na medida. O mercado e a sociedade são os melhores julgadores nesse e em muitos outros casos.
Abraço,
Leonardo Corrêa
Fora que ordinário na Bahia não é um palavrão nem xingamento. Usa-se habitualmente sem o menor problema.
Parece que foram cerca de 50 reclamações que causaram essa confusão.
Nem merecem ser chamadas de ordinárias, pois chega as ser carinhoso para adjetivar tamanha imbecilidade e falta do que fazer.
Essas novas nomenclaturas de fato não tem sentido lógico algum. Mas quanto à campanha do “cumpadre Washington” fiquei muito satisfeita que fosse tirada do ar por ser de extremo mal gosto. Veja que a questão aí é que ele agride a família como um todo, pois destrata o homem, destrata a mulher e tudo isso na frente do filho deles, uma criança. Mesmo que a intenção da retirada tenha sido feminista, o resultado acabou não sendo. É verdade que ultimamente as mulheres fizeram questão de jogar seu valor no lixo, tanto que é algumas se auto intitulam de vadias. Mas se permitirmos que a família também sejam estilhaçada, então não teremos mais nada. Seria o caso de desistir da sociedade mesmo.
De acordo com a definição do “Novo Aurélio”, o adjetivo ordinário significa:
1. Que está na ordem usual das coisas; habitual, useiro, comum;
2. Regular, periódico, costumado, frequente;
3. De má qualidade; inferior;
4. De baixa condição; baixo, grosseiro, mal-educado;
5. Medíocre, vulgar;
6. Sem caráter, reles, ruim;
7. Aquilo que é habitual;
8. Superior esclesiástico;
9. Música em passo de marcha;
10. Designação comum às partes invariáveis de qualquer missa, cantada ou não, e que se apresentam na seguinte ordem: (…);
11. Indivíduo grosseiro ou sem caráter; indivíduo reles.
Nenhum dos significados acima listados parece ofensivo. Se o Conar – logo quem! – entende de outra forma, realmente começo a me preocupar…