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As diretrizes do Plano de Governo da Dilma

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dilma-lendoNa segunda-feira o PT aprovou as diretrizes do plano de governo da Presidente Dilma. O documento pode ser acessado aqui. Após uma introdução de cerca de 4 páginas, o documento começa a se mostrar propositivo. Vamos fazer alguns comentários sobre tópicos específicos do documento.

No item “Um Novo Ciclo de Mudanças e Conquistas”, o PT declara que vai lutar contra “a herança maldita proveniente da ditadura militar, do desenvolvimentismo conservador, da devastação neoliberal, da ditadura do capital financeiro e monopolista sobre a economia, da lógica do Estado mínimo”. Poucas vezes eu vi uma frase tão confusa e contraditória.

Na ditadura militar foi feita uma política desenvolvimentista, de fato. Desenvolvimentismo é política econômica baseada no crescimento da produção industrial e da infra-estrutura com participação ativa do estado, tendo como finalidade o aumento do consumo. Portanto, não tem nada de liberal, que defende o Estado Mínimo, o livre-mercado e desenvolvimento pela poupança e avanço tecnológico. No entanto, o PT junta Estado Mínimo e neoliberalismo com ditadura e desenvolvimentismo, que são, como eu mostro, duas visões antagônicas.

Grande ironia, o PT no governo se mostrou extremamente desenvolvimentista, com o BNDES puxando o financiamento da infra-estrutura em PPPs, isso quando o Estado não atuava diretamente através do PAC. Além disso, o capital financeiro e monopolista virou programa de governo no período petista, com a política dos “campeões nacionais”, onde muito dinheiro público era jogado em um único agente econômico para transformá-lo em uma potência. Mais concentrador de capital, impossível. E mais falho também, já diria Eike Batista.

O PT então está criticando a própria visão econômica que trilhou, em um caso latente de esquizofrenia.

No item “Reforma Política”, o PT pede uma Constituinte para o tema. Como já havia escrito em outra oportunidade, a Constituição Brasileira é “reformável”, a não ser que se queira mudar a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Portanto, se a reforma política do PT exige uma Constituinte, é porque vai querer suprimir alguns desses direitos e formas de organização, o que é, para não dizer palavra mais honesta, algo de assustador.

No item “Democracia Participativa”, o PT defende os esvaziamento do poder legislativo legitimamente eleito em favor de conselhos geridos por movimentos sociais. Traduzindo: quer criar sovietes no Brasil, tal como Lênin fez na URSS.

No item “Direitos Humanos” reafirma seu desejo de segmentar cada vez mais a sociedade, garantindo privilégios a grupos de interesse específicos. Acaba por não citar, mas eu lembro, que o grupo de interesse específico mais agraciado pelo PT ainda é o grande empresariado com conexões governamentais. Um sistema sério só pode ser erigido a partir do princípio da isonomia, com o Estado tratando a todos com igualdade, sem distinção de qualquer natureza.

No item “Democracia na Comunicação”, sob o argumento de democratizar a informação, reafirma seu desejo de controlar a mídia nacional e impor censura econômica, jurídica e política, mostrando que a aprovação do Marco Civil da Internet foi apenas o balão de ensaio para um reforma muito mais profunda e autoritária.

No item “Segurança Pública” manifesta seu desejo pela desmilitarização da polícia, o que, em uma democracia sindical como a nossa, é a fórmula perfeita para greves policiais diuturnas.

No item “Oferecer Oportunidades”, declara que continuará apostando no modelo de crescimento econômico pelo consumo, totalmente esgotado, e pelo assistencialismo desmedido sem contrapartidas, que estimula a falta de engajamento e produtividade do cidadão desempregado.

No item “Educação”, propõe a criação de um “Sistema Nacional de Educação” nos moldes do Sistema Único de Saúde. Portanto, prepare-se para enfrentar filas quilométricas para ser atendido em 10 minutos por um professor cubano.

No item “Saúde”, promete apenas aumentar o investimento no setor, sem combater as mazelas da gestão e do modelo de um sistema único onde o paciente é um fardo, e não um cliente.

No item “Servidores Públicos”, garante a manutenção das políticas de aumento de salários no setor público, que retira do mercado produtivo nossas mentes mais brilhantes e os coloca atrás de um balcão em serviços burocráticos e fiscalizatórios que pouco agregam valor à sociedade.

No item “Crescimento e Produtividade”, declara uma coisa óbvia: que é o aumento da produtividade que gera riqueza. Mas aumento da produtividade só é possível com abertura de mercado, fim da burocracia, redução da carga tributária, estímulo à poupança e investimento em avanço tecnológico. Em suma, absolutamente o reverso do modelo PT.

No item “Infraestrutura para o Brasil crescer mais”, reforça seu caráter desenvolvimentista, criticado pelo próprio documento, fazendo do Estado o indutor do crescimento econômico, o que só é possível com muitas negociatas e desvio de verbas.

No item “sustentabilidade” afirma que não há contradição entre preservar e crescer, mas a legislação anacrônica brasileira, que impede ao máximo a expedição de licenças, mas depois de expedida nunca tem fiscalização, sufoca por completo a iniciativa privada brasileira.

No item “soberania” faz verborragia de esquerda para sustentar uma defesa do Mercosul, que impede o Brasil de negociar tratados isolados de livre-comércio com outras regiões e nos deixa politicamente dependentes de países interventores e estatizantes, como Argentina e Venezuela.

Por fim (graças a Deus), no item “Credibilidade e Compromisso”, o PT se compromete a continuar a fazer a gestão pública que temos visto atualmente.

Em suma, é o compromisso de continuar errando onde está errado e começar a errar onde está certo (o que já é raro).

 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

3 comentários em “As diretrizes do Plano de Governo da Dilma

  • Avatar
    30/05/2014 em 12:59 pm
    Permalink

    Alguém acha que terá eleições em outubro? Eu acho que o PT vai dar o golpe antes. Preparem-se para isso.

  • Avatar
    30/05/2014 em 12:59 pm
    Permalink

    Parabéns pela clareza da escrita e por abordar o tema com a sutileza necessária. Estou aproveitando para divulga-lo, como forma de prospectar o tema.

  • Avatar
    29/05/2014 em 8:47 pm
    Permalink

    Bernardo, eles já fizeram isso. Veja:

    Mudança de regime por decreto
    29 de maio de 2014 | 2h 09

    A presidente Dilma Rousseff quer modificar o sistema brasileiro de governo. Desistiu da Assembleia Constituinte para a reforma política – ideia nascida de supetão ante as manifestações de junho passado e que felizmente nem chegou a sair do casulo – e agora tenta por decreto mudar a ordem constitucional. O Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa soar, numa leitura desatenta, como uma resposta aos difusos anseios das ruas. Na realidade é o mais puro oportunismo, aproveitando os ventos do momento para impor velhas pretensões do PT, sempre rejeitadas pela Nação, a respeito do que membros desse partido entendem que deva ser uma democracia.

    A fórmula não é muito original. O decreto cria um sistema para que a “sociedade civil” participe diretamente em “todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta”, e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de “consolidar a participação social como método de governo”. Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a “participação direta”.

    Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos “burocrática”. O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem – isso sim – um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática (“uma pessoa, um voto”) ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos.

    A participação em movimentos sociais, em si legítima, não pode significar um aumento do poder político institucional, que é o que em outras palavras estabelece o tal decreto. Institucionaliza-se assim a desigualdade, especialmente quando o Partido (leia-se, o Governo) subvenciona e controla esses “movimentos sociais”.

    O grande desafio da democracia – e, ao mesmo tempo, o grande mérito da democracia representativa – é dar voz a todos os cidadãos, com independência da sua atuação e do seu grau de conscientização. Não há cidadãos de primeira e de segunda categoria, discriminação que por decreto a presidente Dilma Rousseff pretende instituir, ao criar canais específicos para que uns sejam mais ouvidos do que outros. Ou ela acha que a maioria dos brasileiros, que trabalha a semana inteira, terá tempo para participar de todas essas audiências, comissões, conselhos e mesas de diálogo?

    Ao longo do decreto fica explícito o sofisma que o sustenta: a ideia de que os “movimentos sociais” são a mais pura manifestação da democracia. A História mostra o contrário. Onde não há a institucionalização do poder, há a institucionalização da lei do mais forte. Por isso, o Estado Democrático de Direito significou um enorme passo civilizatório, ao institucionalizar no voto individual e secreto a origem do poder estatal. Quando se criam canais paralelos de poder, não legitimados pelas urnas, inverte-se a lógica do sistema. No mínimo, a companheira Dilma e os seus amigos precisariam para esse novo arranjo de uma nova Constituição, que já não seria democrática. No entanto, tiveram o descaramento de fazê-lo por decreto.

    Querem reprisar o engodo totalitário, vendendo um mundo romântico, mas entregando o mais frio e cinzento dos mundos, onde uns poucos pretendem dominar muitos. Em resumo: é mais um ato inconstitucional da presidente Dilma. Que o Congresso esteja atento – não apenas o STF, para declarar a inconstitucionalidade do decreto -, já que a mensagem subliminar em toda essa história é a de que o Poder Legislativo é dispensável.

    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mudanca-de-regime-por-decreto,1173217,0.htm

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