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Radicalismo liberal: o jogo de semântica dos isentões

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O liberalismo pressupõe que todos os indivíduos em sociedade sejam livres para buscar sua satisfação pessoal empregando e fazendo uso de toda a sua capacidade intelectual (inventiva) e física. É por meio de seus esforços pessoais, defende o adepto da liberdade, que uma pessoa pode alcançar a satisfação de seus próprios interesses e dos interesses de seus familiares.

Adam Smith, ao descrever o mecanismo da mão invisível, já havia deixado claro que somente por meio do arranjo de trocas voluntárias, permitido e potencializado pela liberdade econômica, as pessoas poderiam alcançar o suprimento de suas necessidades e desejos. Em sua obra “A Riqueza das Nações” o economista declara: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles. Ninguém, a não ser o mendigo, sujeita-se a depender sobretudo da benevolência dos semelhantes. Mesmo o mendigo não depende inteiramente dessa benevolência. Com efeito, a caridade de pessoas com boa disposição lhe fornece tudo o de que carece para a subsistência. Mas embora esse princípio lhe assegure, em última análise, tudo o que é necessário para a sua subsistência, ele não pode garantir-lhe isso sempre, em determinados momentos em que precisar. A maior parte dos desejos ocasionais do mendigo são atendidos da mesma forma que os de outras pessoas, através de negociação, de permuta ou de compra. Com o dinheiro que alguém lhe dá, ele compra alimento. A roupa velha que um outro lhe dá, ele a troca por outras roupas velhas que lhe servem melhor, por moradia, alimento ou dinheiro, com o qual pode comprar alimento, roupas ou moradia, conforme tiver necessidade”.

Outro gigante do liberalismo econômico, Ludwig von Mises, também fez, em sua vasta obra, referência à importância da liberdade individual para a busca da satisfação de interesses próprios. A respeito disto, escreveu em sua obra “As seis lições”:

Quando falamos desse sistema de organização econômica – a economia de mercado – empregamos a expressão “liberdade econômica”.  Frequentemente as pessoas se equivocam quanto ao seu significado, supondo que liberdade econômica seja algo inteiramente dissociado de outras liberdades, e que estas outras liberdades – que reputam mais importantes – possam ser preservadas mesmo na ausência de liberdade econômica.  Mas liberdade econômica significa, na verdade, que é dado às pessoas que a possuem o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade.  A pessoa tem o direito de escolher sua carreira, tem liberdade para fazer o que quer”.

Contribuição de extrema importância para este debate deu também o filósofo político, historiador e economista da escola austríaca de pensamento econômico Murray Rothbard. Em seu livro “A anatomia do Estado” o autor cita o sociólogo alemão Franz Oppenheimer apontando para o fato de que existem duas formas por meio das quais as pessoas podem adquirir riqueza e a satisfação de suas necessidades individuais. A primeira, diz Rothbard, que pressupõe o respeito pelas liberdades individuais e pelo direito de propriedade, Oppenheimer chamou de “meios econômicos”. Apenas por meio de trocas voluntárias e mutuamente benéficas as pessoas seriam capazes de atender suas próprias necessidades. A segunda forma baseia-se, ainda segundo Oppenheimer, no confisco da propriedade privada e no uso da coerção para a expropriação da riqueza. Rothbard destaca que enquanto a primeira forma é desejável e natural por trazer consigo o respeito pela propriedade privada, a segunda é contrária à lei natural, é parasítica, pois em vez de adicionar à produção, apenas subtrai.

Não obstante o liberalismo anuncie que as pessoas são livres para buscar, através de meios não coercitivos (noutras palavras, sem fazer uso do aparato estatal), a sua felicidade, não são raros os casos de professores e outros formadores de opinião que abusam de um discurso travestido de imparcialidade e “isencionismo” para acusar de radicais os que não aceitam que ingerências estatais sejam postas em prática para benefício de determinadas parcelas da sociedade em detrimento de todos os pagadores de impostos. O radicalismo, para essa gente, pode ser qualquer ato (ou uma simples manifestação verbal) que demonstre certo desacordo com as leis estapafúrdias que são geradas nas mentes de parlamentares ávidos por tornar as nossas vidas mais difíceis e árduas. Esta acusação não ocorre, é claro, sem que seu corolário esteja oculto sob o manto do discurso que abusivamente explora o interesse coletivo a expensas do interesse privado. É tudo uma questão de interesses sociais, os quais vão desde a proteção e manutenção de empregos públicos sorvedouros de riqueza privada a benefícios garantidos a famílias de baixa renda que, se tinham, perderão qualquer incentivo para utilizar os “meios econômicos” de que falou Rothbard para adquirir alguma riqueza.

Ora, o que há de radical em apresentar objeções a leis esdrúxulas que irão causar penúria e privação de liberdade? Por que qualificar de radicalismo o discurso que apenas apregoa que as pessoas tenham total liberdade para fazer uso de suas próprias atribuições e esforços para alcançar objetivos individuais? Não é possível chegar a outra conclusão senão a de que o que fazem os opositores da liberdade é adotar um jogo de semântica nefasto para disseminar sua propensão totalitária. Tivessem o poder concentrador do Estado em suas mãos, não fariam mudanças no status quo que impera na burocracia estatal. Talvez até aprofundassem as ingerências. Quem sabe sob suas mãos as pessoas passariam a se comportar melhor e teriam os incentivos adequados para suprimir suas vontades em benefício do coletivismo. Ah…sim! Talvez com um pouco mais de vontade e muito menos radicalismo destes liberais chatos, o mundo poderia ser melhor.

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Juliano Oliveira

Juliano Oliveira

É administrador de empresas, professor e palestrante. Especialista e mestre em engenharia de produção, é estudioso das teorias sobre liberalismo econômico.

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