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Qual a relação entre a direita e a greve dos caminhoneiros?

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Se existe algo sobre essa atual greve dos caminhoneiros é que ela já se tornou a maior greve da História recente do país. Do rico ao pobre, todos estão com seus poderes de compra e de atendimento estatal, paralisados.  Não há combustível para os aviões, para as barcas, para os carros. Tudo foi estancado por um mar de trabalhadores que não estão conseguindo mais viver de seus empregos, graças aos anos de desastres, roubos e inaptidão que governaram o monopólio de petróleo no país: a Petrobras.

Mas não nos enganemos. Não se trata de uma greve de trabalhadores de direita. Eles não leem Olavo de Carvalho, não se deliciam com os livros liberais, não estão dentro de uma concepção de Estado mínimo, de tradições a serem defendidas; não estão em um sistema burkeano para interpretar a sociedade. São homens preocupados com suas vidas, com seus empregos, com os custos de se trabalhar em suas áreas.

O motor desses caminhoneiros é a necessidade, é a falta de pão em suas mesas, a falta de dinheiro para suas famílias, para seus lazeres. Mas esta reivindicação material não é injusta. O que há de errado em exigir condições possíveis para trabalhar? Nada.

Porém, se nesse aspecto não existe uma presença direitista, então onde está essa “vitória da direita”, que o título desse texto aborda? Se não se trata de uma luta liberal, existem aspectos direitistas na mentalidade dos grevistas. Vejamos (ainda que grosseiramente) suas principais pautas:

A – Querem a diminuição de taxas no preço dos combustíveis.

B – Querem eleições limpas, com o voto impresso.

C – Querem o congelamento dos preços.

Por mais que a “pauta C” esteja bem longe do que a Nova Direita prega e almeja, não podemos deixar de notar uma coisa: a população está começando a absorver certos discursos direitistas e, também, começa a ter uma diferente visão situacional da política e da economia.

Antes dessa grande greve de caminhoneiros, quais eram as pautas das maiores greves brasileiras? De qual espectro político elas estariam mais próximas? Quais eram os símbolos levantados nas greves, quais eram os tipos de demandas e de discursos existentes nas greves? Acredito que todos nós já saibamos a resposta para essas perguntas.

Se essa greve não é gerida pela direita, se ela não tem pautas absolutamente liberais e conservadores – e mesmo se ela possui uma característica intervencionista –, essa absorção de uma visão mais à direita não pode deixar de ser considerada. A esquerda perdeu a vez e o espaço entre o povo trabalhador. Esses caminhoneiros, por mais que protestem de modo errado, colocando estoques de comida e remédios em risco e, com isso, ameacem a vida de muitas pessoas, estão reagindo contra um sufocamento causado pelo Estado inchado e pela roubalheira na Petrobrás. Enxergam, ainda que de modo manco, o problema no Estado, em seu crescimento abusivo; mesmo que peçam mais Estado para solucionar uma dificuldade que veio justamente da grande presença do próprio Estado, esses grevistas já começaram a notar o problema que são os impostos abusivos, assim como a taxação irracional alimenta a corrupção e Estado também podem ser malefícios para suas vidas – e mais do que isso, expulsaram a esquerda das manifestações. Sindicatos não estão tendo muita voz entre os trabalhadores, e suas presenças e participações na greve estão sendo contrárias aos que os grevistas desejam.

Se compararmos essa grande greve com outros movimentos populares de direita, notaremos que ela tem muito mais força, coesão e impacto. Se ela não pode ser confundida com as manifestações anti-PT de alguns anos atrás, podemos ver nela traços claros de uma mentalidade mais direitista.

O campo cultural está sendo modificado. Não é um trabalho para “o mês que vem”, nem será algo que dará frutos por conta dessa greve de caminhoneiros – contudo é, sem muitas dúvidas, um sintoma de que o cenário está mudando, de que a direita está conseguindo penetrar cada vez mais nas camadas mais populares, que não paramos apenas no momento “anti-PT”. Fomos além, ainda que esses traços não sejam os dominantes.

Essa vitória, por mais que só vá ter uma resolução nítida no futuro, é a mais profunda e a mais impactante que a direita brasileira poderia ter em toda sua história recente.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

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