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Greve dos caminhoneiros: o brasileiro não aprendeu nada com seu passado

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Demorei a emitir uma opinião pessoal sobre a greve dos caminhoneiros. Toda e qualquer situação semelhante a que assistimos nas estradas brasileiras exige uma análise prudente e o desejo por respostas rápidas, prontas e acertadas pode levar a consequências ainda mais danosas que as resultantes desta paralisação que já perdura por quatro dias. Não há respostas fáceis para problemas complexos. Palavras podem incentivar movimentos completamente equivocados. Confesso que, inicialmente, fui tentado a ver o movimento como algo legítimo já que, em tese, clamava pela redução de impostos. A análise dos fatos, no entanto, mostrou-me que esse movimento não passa de um método eivado de terrorismo e vitimismo, o qual semeia os alicerces de uma crise similar a que enfrenta a Venezuela.

Ontem, atendendo as expectativas de grande parte da população que já começa a ser afetada pela escassez de produtos nas prateleiras, o governo anunciou um acordo com a categoria. Como esperado, os caminhoneiros e toda a população brasileira obtiveram uma vitória pírrica. Isto quer dizer, na prática, que não obtivemos vitória alguma. Não faz sentido apoiar uma greve que exige que o Estado aumente sua ingerência sobre os preços (coisa que o governo Dilma fez por tanto tempo levando a Petrobras à ruína) que são estabelecidos pelo mercado. Por um mercado monopolizado, é claro, mas monopolizado porque os próprios brasileiros o desejam. Pesquisa realizada pelo Datafolha no final do ano passado expôs o ranço estatista que permeia a mente dos brasileiros. Segundo a pesquisa 7 em cada 10 brasileiros são contrários à privatização da Petrobras. É um contrassenso exigir que os preços dos combustíveis sejam reduzidos quando não há qualquer medida de cunho liberal que dê sustentação à queda permanente e vertiginosa dos preços.

O setor petrolífero brasileiro é um sistema cartelizado, uma reserva de mercado dotada de um intrincado e rocambolesco conjunto de regulamentações que precisam ser atendidas por eventuais empresas que desejem concorrer no setor. Em conjunto com os impostos que compõem o preço dos combustíveis, a reserva de mercado criada por este excesso de regulamentações e amarras governamentais torna nosso setor de petróleo altamente ineficiente e completamente distante das necessidades reais dos consumidores finais. Ademais, é preciso ressaltar que a crise fiscal que assola o país não permite margem de redução de impostos que não venha acompanhada de eliminação de burocracias asfixiantes, desregulamentações e extinção da reserva de mercado imposta pelas amarras estatais. Enfim, não pode haver redução de impostos se não houver, em contrapartida, redução do estado pantagruélico com o qual 70% dos brasileiros concordam e pelo qual clamam, inclusive. Uma análise mais efetiva da greve dos caminhoneiros nos leva a entender que não há, na prática, nenhuma diferença entre esta e as manifestações que ocorreram em junho de 2013, quando, tomadas pela sede de justiça social e clamando pela redução nos preços dos transportes coletivos e pedágios, milhares de pessoas foram utilizadas como massa de manobra pelos partidos de esquerda e sindicatos para promoverem toda espécie de destruição em patrimônios públicos, aumento da insegurança e, por fim, maiores prejuízos econômicos à sociedade (exatamente o oposto do que se esperava). Ao narrar os fatos ocorridos naquele tempo, o economista Fábio Giambiagi destacou em seu livro “Capitalismo: modo de usar” que “a resultante concreta do que aconteceu foi que a tarifa dos ônibus baixou, os pedágios não foram corrigidos, e os governos estaduais e municipais gastaram com a sustentação de compensações às empresas de ônibus e de rodovias; recursos que seriam muito importantes para melhorar, por exemplo, a infraestrutura, base de capacidade de crescimento de um país”. Noutras palavras, não é possível criar uma revolução contra o aumento de preços e sair ileso ou vencedor desta batalha. Os preços são fruto de oferta e demanda (aula básica de economia que alguém como Boulos jamais entenderá) e, quando vinculada a monopólios, a oferta tende a ser inflexível. Em suma, não varia ao sabor da demanda. Reduzir preços na canetada tende a gerar maiores e mais graves problemas para a economia como um todo e no fim, quem vai pagar a conta que virá em forma de mais desemprego, será a própria população que apóia o movimento.

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Juliano Oliveira

Juliano Oliveira

É administrador de empresas, professor e palestrante. Especialista e mestre em engenharia de produção, é estudioso das teorias sobre liberalismo econômico.

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