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Por que proibir só o livro de Hitler?

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Numa decisão controversa, a Justiça fluminense proibiu a comercialização, exposição e divulgação do livro “Mein Kampf (Minha luta)”, de Adolf Hitler, no Estado do Rio de Janeiro.

De acordo com o site G1, na referida decisão o juiz avalia que “a questão relevante a ser conhecida por este juízo é a proteção dos direitos humanos de pessoas que possam vir a ser vítimas do nazismo, bem como a memória daqueles que já foram vitimados. A obra em questão tem o condão de fomentar a lamentável prática que a história demonstrou ser responsável pela morte de milhões de pessoas inocentes, sobretudo, nos episódios ligados à Segunda Guerra Mundial e seus horrores oriundos do nazismo preconizado por Adolf Hitler”.

Diz o velho brocado que decisão judicial não se discute, cumpre-se ou recorre-se. Provavelmente, a esta altura, alguém já deve ter apelado, e a indigitada sentença deverá ser revista pelos tribunais superiores. Pelo menos, assim esperam os amantes da liberdade. Até porque “Mein Kampf” não é um livro qualquer. Embora seja literatura de baixa qualidade, a obra é um documento histórico e mesmo científico, já que é uma das poucas fontes disponíveis a quem quiser dissecar a mente de um dos maiores psicopatas que a humanidade já conheceu.

A decisão do juiz é, no mínimo, incoerente, pois o argumento apresentado só se sustentaria caso o magistrado proibisse também uma série de outras obras, que não apenas incitam a violência e atentam contra os direitos humanos mais sagrados, como também já foram utilizadas, ao longo da história, para ajudar a promover diversos massacres e genocídios.

Quando Osama bin Laden declarou guerra contra o Ocidente, em 1996, ele citou o comando do Alcorão para cortar as cabeças dos infiéis. “Massacre os idólatras, onde quer que os encontre, prenda-os, cerque-os, faça emboscadas em todos os lugares” são algumas instruções de Alá ao profeta Maomé (Alcorão, 9: 5). E Ele continua: “Faça guerra contra os infiéis e os hipócritas … O inferno será sua casa!”. Alguém duvida que os sequestradores, ao embarcarem nos respectivos aviões, em 11 de setembro de 2001, tinham esses trechos do Livro Sagrado em suas mentes? Que as instruções que eles seguiam vinham prioritariamente do Alcorão?

E o que dizer da Bíblia? Há passagens no Antigo Testamento tão ou mais sangrentas que as do próprio Alcorão. No Livro de Samuel, por exemplo, Deus ordena, com todas as letras e sem meias palavras, um autêntico genocídio contra o povo amalequita. “Destrói totalmente tudo que eles têm, não os poupe”, diz Ele a Saul, através do profeta Samuel. “Matarás homens e mulheres, meninos, crianças e bebês, bois e ovelhas, camelos e jumentos.” No fim, como Saul cometeu o pecado terrível de não cumprir exatamente aquela ordem, Deus retirou dele o seu reino.

Segundo o historiador Philip Jenkins, autor de alguns livros sobre o tema, a história do cristianismo está cheia de referência aos amalequitas. Durante as Cruzadas, na Idade Média, os Papas católicos os compararam aos muçulmanos. Nas grandes guerras religiosas nos séculos XVI, XVII e XIX, protestantes e católicos acreditavam que do outro lado estavam os amalequitas, os quais deveriam ser totalmente destruídos. O mesmo raciocínio vale para os confrontos entre colonizadores americanos e os índios locais.

Com base nas evidências acima, será que deveríamos proibir também o Alcorão e a Bíblia, em nome dos direitos humanos e da memória das vítimas pregressas de tantos massacres? Acho que nem o magistrado concordaria com isso.

Talvez o juiz não tenha se dado conta, mas sua decisão, no fundo, é comparável ao episódio conhecido como Bücherverbrennung, famigerada prática da propaganda nazista de recolher e queimar livros que não se adequavam à ideologia e ao espírito do nacional-socialismo.

Artigo publicado originalmente em O Globo (15/02/2016)

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

3 comentários em “Por que proibir só o livro de Hitler?

  • Avatar
    17/02/2016 em 9:47 pm
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    boa noite,

    Não pude deixar de ler e reparar na comparação, no mínimo inadequada, que o autor faz entre o livro de Hitler e livros religiosos como Alcorão e a Biblia, duas obras que orientam e são a base da fé de milhões de pessoas. Entendo que foi colocado estas referencias somente a fim de defender a livre liberdade de pensamento e escolha das pessoas, mas ficou parecendo que esta obra infeliz que deu inicio ao nazismo é a pior coisa que poderia ser dado de exemplo só comparada as referencias religiosas, quando na verdade existe muitas outras coisas ainda piores.

    Seria muito mais apropriado a menção de obras consideradas guias irrevogáveis da esquerda terrorista como as obras de Marx e Trotski onde é mencionado e defendido como principio e prática a revolta, depredação, sabotagem, tortura e morte de qualquer um que ouse discordar da mesma pensamento e da “vontade do povo”.

    Trechos como os presentes nas obras comunistas como de Trotski…”..quem disse que toda vida é sagrada…” e Marx “para a implantação do comunismo será preciso massacrar povos e nações”… seriam muito mais adequadas para serem citadas no texto pois, assim como Mein Kampf, são de caráter político e não religioso. Estranhamente estas obras não são proibidas ou sequer questionadas por nenhum autor, intelectual, estudioso ou juiz, e servem de base para justificar todas as medidas usadas, até hoje, pela socialistas/comunistas.

    Comparação infeliz essa com os livros religiosos, que hoje, infelizmente por uma minoria, estão servindo para justificar atitudes de grupos radicais, principalmente muçulmanos, e que os cristão a muito já se conscientizaram que trata-se de ANTIGO TESTAMENTO, isto é, ações e acontecimentos que orientaram o povo antigo e que encontra-se revogado pelo Novo testamento que é a verdadeira mensagem da Bíblia dada por Jesus Cristo, e seguida pelos cristãos (semelhantes a Cristo, por isso o nome) que na terra só fez o bem, e deixou sua mensagem de amor a TODOS (“ame seu próximo como assim mesmo”… “ore por aqueles que te perseguem”…, “não responda mal com mal, mas vença o mal com o bem”…).Hoje centenas de milhares de Cristãos morrem e são perseguidos na Africa muçulmana, médio oriente árabe, e oriente comunista, e nenhuma impressa noticia essa cristofobia explicita.

    Admira muito a falta de menção do autor do texto mais adequado do comunismo assassino do passado e do presente, já que em muitos ocasiões neste blog já mostrou conhecimento mais amplo e adequado dos assuntos.

    Continue o trabalho, mas peço que reflita sobre isso.

    • João Luiz Mauad
      17/02/2016 em 11:05 pm
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      Prezado,

      Confesso que até pensei em fazer as analogias com textos comunistas, mas concluí que eram fracas. O Manifesto Comunista, por exemplo, é um libelo anticapitalista, que prega a união da classe chamada oprimida e sua organização para contrapor o domínio do capital sobre o trabalho. É uma obra revolucionária, de fato, que prega até mesmo a luta armada, como muitas outras, mas não prega o genocídio de povos ou raças, como o Mein Kampf.

      O foco do artigo era tentar mostrar o quão absurda foi a decisão da justiça e, por conseguinte, foi escrito para contrapor o argumento principal do juiz, que se encontra transcrito no início. O texto não é, de forma nenhuma, uma crítica a qualquer religião, mas a defesa da liberdade de publicação de um livro, ainda que suas ideias nos sejam repugnantes.

      Por outro lado, eu não fiz crítica a qualquer ensinamento cristão, muito pelo contrário. Citei passagens apenas do Antigo Testamento que, a exemplo do Mein Kampf, já foram usadas no passado para justificar massacres e genocídios, gostemos nós disso ou não. O foco do artigo, repito, não foi comparar o nazismo a qualquer religião, mas fazer uma crítica à decisão de proibir a edição do livro, mostrando o quão esdrúxulo seria se alguma “autoridade babá” pensasse em proibir os Livros Sagrados pelas mesmas razões alegadas pelo Juiz para proibir Mein Kampf.

      Em resumo, a escolha dos Textos Sagrados foi uma forma de reforçar o argumento, já que ninguém, em sã consciência, pensaria em censurar a edição deles, seja em nome da memória das vítimas ou do fomento à violência.

      Abrs

      • Avatar
        18/02/2016 em 2:13 pm
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        “A sociedade está passando por uma revolução silenciosa, à qual deve se submeter, e que não presta mais atenção às existências humanas que solapa do que um terremoto se importa com a casa que faz desmoronar. As classes e as raças fracas demais para dominar as novas condições de vida devem perecer.”
        (Karl Marx, New-York Daily Tribune, 4 de março de 1853)
        http://www.marxists.org/archive/marx/works/1853/03/04.htm

        “Quanto aos judeus, que desde a emancipação de seu secto meteram-se em todos os lugares, ao menos nas pessoas de seus eminentes representantes, à frente da contra-revolução – o que os espera?
        Não se pode esperar pela vitória para atirá-los de volta ao seu gueto.”
        (Karl Marx, Die Neue Reinische Zeitung, n.º 145, 17 de novembro de 1848)
        http://www.marxists.org/archive/marx/works/1848/11/17a.htm

        “Às frases sentimentais sobre irmandade que têm sido oferecidas aqui em nome das nações mais contra-revolucionárias da Europa, respondemos que o ódio aos russos era e ainda é a primeira paixão revolucionária dentre os alemães; que o ódio revolucionário a checos e croatas foi adicionado a ela, e que apenas através do mais determinado uso do terror contra esses povos eslavos, juntamente com poloneses e magiares, podemos salvaguardar a revolução. […] Então haverá uma luta, uma “inexorável
        luta de vida e morte”, contra aqueles eslavos que traem a revolução; uma luta aniquiladora e um terror cruel – não pelos interesses da Alemanha, mas pelos interesses da revolução!”
        (Friedrich Engels, Die Neue Reinische Zeitung, n.º 222, 14 de fevereiro de 1849)
        http://www.marxists.org/archive/marx/works/1849/02/15.htm

        “Somente numa ordem de coisas em que não existam mais classes e antagonismos entre classes as evoluções sociais deixarão de ser revoluções políticas. Até lá, às vésperas de cada reorganização geral da sociedade, a última palavra da ciência social será sempre: “O combate ou a morte: a luta sanguinária ou nada. É assim que a questão está irresistivelmente posta”.
        (Karl Marx, “Luta de Classes e Luta Política”, 1847)
        http://www.marxists.org/portugues/marx/1847/04/luta-class-luta-polit.htm

        O movimento proletário é o movimento autônomo da maioria imensa no interesse da maioria imensa. O proletariado, a camada mais baixa da sociedade atual, não pode elevar-se, não pode endireitar-se, sem fazer ir pelos ares toda a superstrutura [Überbau] das camadas que formam a sociedade oficial. Pela forma, embora não pelo conteúdo, a luta do proletariado contra a burguesia começa por ser uma luta nacional. O proletariado de cada um dos países tem naturalmente de começar por resolver os problemas com a sua própria burguesia.
        Ao traçarmos as fases mais gerais do desenvolvimento do proletariado, seguimos de perto a guerra civil mais ou menos oculta no seio da sociedade existente até ao ponto em que rebenta numa revolução aberta e o proletariado, pelo derrube violento da burguesia, funda a sua dominação.
        […]
        Em sentido próprio, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de uma outra. Se o proletariado na luta contra a burguesia necessariamente se unifica em classe, por uma revolução se faz classe dominante e como classe dominante suprime violentamente as velhas relações de produção, então suprime juntamente com estas relações de produção as condições de existência da oposição de classes, as classes em geral, e, com isto, a sua própria dominação como classe.
        […]
        Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista!
        (Karl Marx & Friedrich Engels, “O Manifesto Comunista”, 1848)
        http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm

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