Por que criminosos não são vítimas da sociedade?
Natália Vilarouca*
Durante muito tempo sustentei o discurso de que criminosos são vítimas da sociedade. Essa ideia inocente partia de um coração ingênuo de que as pessoas precisam de amor para se tornarem melhores. E também do fato de que parece muito óbvio de que, em um ambiente pobre, as pessoas estejam mais propensas a ser vítimas e a cometer violências de todo o gênero.
Meu pensamento era: malditos capitalistas que fomentam a miséria, pobres assassinos incompreendidos! A recuperação do ser humano era algo a ser cumprido a todo custo. O meu coração adolescente estava a serviço de um ideal impraticável. Eu esquecia que existem “pessoas e pessoas”.
Contundo, mudei de ideias, após começar a refletir mais sobre essas questões, principalmente no que tange ao lado moral e filosófico do problema.
O que eu desconsiderava, há algum tempo atrás, é que as pessoas podem ser más e isso não ser fruto de situações da vida, mas da escolha pessoal.
Quem só teve maus exemplos ao longo de sua trajetória teve ao menos duas opções: (a) repetir o mau exemplo, deixando-se levar pelo caminho fácil da violência e da repetição do comportamento danoso; (b) entender que aquele mau exemplo não deveria ser seguido.
Sem dúvidas, o exemplo é muito forte para o aprendizado, mas somos racionais. Nós, humanos, não estamos condicionados às mesmas limitações dos outros seres que habitam este planeta. Somos capazes de gerenciar nossa conduta. Esperar resultados, planejar e modificar. Nisto consiste a nossa liberdade de escolha.
O mau elemento, que esfaqueia num assalto mostrando toda sua desconsideração pela vítima e demonstrando culpa somente quando é apreendido, não comete um ato irresponsável, culposo, provocado por emoções conflitantes, mas um ato de crueldade.
Com certeza o motorista que foi assassinado dias atrás não teve uma vida fácil. Os corações mais condoídos pelos bandidos esquecem que a grande maioria das pessoas pobres trabalha para construir seu patrimônio e são estas as mais vilipendiadas por esse estado de caos. O pobre trabalhador está vendo o seu patrimônio e a sua vida tratados como lixo.
E nesse estado de caos é sempre comum que apontem o dedo para alguém. Culpam sempre o motorista que alivia sua consciência dando alguns trocados no sinal. Desculpa a pergunta, mas que nexo de causalidade é este? Culpam o individualismo, olvidando sempre que a solidariedade consiste em ajudar o outro e nunca tomá-lo nos braços e tratá-lo como um eterno coitado, ineficiente e incapaz para a vida.
*Graduanda de Direito da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)