Sobre as doutrinas da obediência e do dever
O homem é o animal das escolhas, porque ele é o único entre os animais que possui a faculdade do uso da razão. As doutrinas que pregam a obediência e o dever necessitam, em primeiro lugar, transformar seres racionais em seres incapazes, impotentes, imobilizados pela ignorância, pelo medo, pela submissão a qualquer autoridade que lhes prometa segurança e compaixão.
A primeira vítima dos doutrinadores da obediência e do dever é o nosso eu, a nossa autoestima.
O desejo de quem te quer obediente e servil é te transformar num cético tão extremado a ponto de te tornar incrédulo da tua própria mente, do teu próprio ser, para que seus dogmas sejam aceitos e suas ordens sejam seguidas cegamente, sem contestação.
Havendo questionamentos e contestações, a ira do poderoso cairá sobre quem ousar fazê-lo.
O objetivo das doutrinas que pregam a obediência e o dever é anular o eu que todos possuem, sacrificando-o em favor de outro ser, o qual será sempre representado por uma instituição abstrata.
O verdadeiro beneficiário do autossacrifício de quem obedece e serve é o agente com o poder para dirigir a instituição abstrata – seja o Estado, a igreja, a família ou qualquer outro grupo que resolva impor aos outros a ignorância e o medo para deles tirar proveito.