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Por que o exército afegão não quis lutar contra o Talibã?

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Falar sobre o que acontece no Afeganistão é complicado. Aquela nação parece que ainda vive tempos pré-iluministas, como se estivesse no Século XVII do Ocidente. A primeira coisa que me chamou a atenção na retomada do poder pelos talibãs foi a rapidez com que isso aconteceu em quase todas as províncias do país. Num espaço de uma semana, foram nada menos de 10 capitais, praticamente sem nenhum combate.

Num de seus discursos, o presidente americano afirmou que o exército oficial afegão simplesmente não queria lutar. Os soldados tinham armas, tinham ainda a supervisão dos americanos e ingleses, mas não tinham qualquer vontade de resistir. Entregaram as armas para o “inimigo” sem maiores delongas. Talvez se os interventores ocidentais tivessem convocado e treinado mulheres para as forças armadas, a resistência tivesse sido maior, afinal elas teriam muito mais pelo que lutar do que os homens – mas estou apenas divagando.

De fato, é inviável manter tropas e tentar ajudar um povo a estabelecer instituições compatíveis com a democracia liberal ocidental, se este próprio povo não deseja isso.

“Um relatório de 2013 do Pew Research Center – 12 anos após o início da guerra no Afeganistão – pintou um quadro revelador do que os afegãos realmente pensam.

No Azerbaijão, um ex-estado soviético, apenas 8% dos muçulmanos disseram que desejam que a Sharia seja “a lei oficial do país”. Em contraste, esse número subiu para quase unanimidade no Afeganistão – em 99 por cento. Uma esmagadora maioria – 94 por cento – dos muçulmanos afegãos no estudo concordou com a visão de que uma esposa é “sempre obrigada a obedecer ao marido”. Cerca de 85% dos muçulmanos no Afeganistão são a favor do apedrejamento como punição para cônjuges infiéis. Cerca de oito em cada dez muçulmanos afegãos apoiaram a pena de morte para aqueles que abandonam sua religião, com quase quatro em cada dez dizendo que atentados suicidas e outras formas de violência poderiam ser justificados em nome do Islã.

Mesmo após uma década de ocupação liderada pelo Ocidente e a promoção implacável dos valores liberais-democráticos, ainda era assim que os afegãos normais viam o mundo. O Afeganistão ainda era uma sociedade decididamente islâmica, que apoiava os arranjos sociais patriarcais e formas brutais de punição por adultério e apostasia. Conquistar os corações e mentes afegãos por meio da promoção do progressismo de estilo ocidental era uma quimera.

O problema para muitos de nossos políticos – especialmente aqueles que acreditam que é papel da Grã-Bretanha espalhar os ideais democráticos pelo mundo – é que eles simplesmente não conseguem compreender que muitos países prefeririam um governo inspirado na Sharia em vez da democracia liberal ocidental. E não se engane, o Afeganistão – junto com países como o Iraque e a Palestina – se enquadra firmemente nesta categoria.” [1]

Em resumo, nem todo país deseja ser uma democracia liberal, pelo menos não antes que uma profunda revolução de costumes e tradições os torne receptivos a ela.

[1] https://www.spiked-online.com/2021/08/18/afghanistan-and-the-delusions-of-nation-building/

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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