O governo Lula e o autoritarismo esquerdista latino-americano
Em fevereiro de 2022, critiquei o então presidente Jair Bolsonaro pelas suas declarações inaceitáveis a respeito da guerra entre Rússia e Ucrânia – Bolsonaro ironizou o fato de o presidente ucraniano ter sido comediante e chegou a expressar uma bizarra “compreensão” do argumento russo em prol da invasão a Donbass, fingindo não saber que a guerra se estendeu a outras regiões do país.
No entanto, elogiei o embaixador do Brasil na ONU por formular precisamente o voto que caberia ao nosso país naquela situação. Nesse caso, o presidente da República passou vergonha, mas o GOVERNO em si, na forma de um representante de suas relações exteriores, tomou a posição adequada.
Surpreendo-me agora por ver uma situação aparentemente inversa que me recorda aquela ocasião; não é a mesma coisa, é claro, porque não há nenhum voto e o personagem em questão não é um representante oficial do Itamaraty, mas o ex-ministro das Relações Exteriores e atual assessor da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.
Diante da ameaça do ditador Nicolás Maduro de que a Venezuela poderá enfrentar um “banho de sangue” e “guerra civil” se ele perder as eleições – vamos ver se serão eleições ou “eleições” -, Amorim declarou que Maduro foi infeliz, mas quis se referir apenas a uma “luta de classe a longo prazo” (?) em vez de um problema literal.
Já Lula foi inusitadamente enfático com seu parceiro de Foro de São Paulo: “Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”.
Não adianta agora Lula querer se descolar de todo o apoio e patrocínio que ele e seu partido sempre deram ao autoritarismo esquerdista latino-americano, mas a impressão que tem dado é que ele está um pouco cansado dos desgastes que essa associação inevitável e justíssima lhe causa.
Fica de lição desses casos que seria muito bom haver um alinhamento melhor e mais prudente entre aqueles que constituem nossos governos.