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Monarquia e guerra

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A história moderna não é nada além de uma coletânea de declarações de falências.
– Nicolas Gomez Davila

A monarquia é uma forma de governo que não é bem compreendida na América do Norte. Para muitas pessoas nesta parte do mundo, a monarquia parece ser uma instituição totalmente obsoleta, até mesmo infantil. Afinal, as monarquias sobreviventes podem ainda desempenhar um papel simbólico ou mesmo psicológico, mas não um papel político decisivo.

Como racionalista e liberal (no sentido aplicado no exterior e não no sentido americano), sou também um monarquista que compreende que a monarquia, combinada com o Cristianismo e a Antiguidade, foi responsável pela ascensão e florescimento da civilização ocidental, que está lentamente assumindo um caráter quase global. No entanto, o espírito moderno é mais político do que histórico e, por isso, está irremediavelmente ligado ao espírito do seu tempo. Como escreveu Goethe:

Aquele que não pode prestar contas
Dos últimos três mil anos
Descansa na escuridão inexperiente
embora viva de dia para dia.

Uma pessoa assim, alimentada intelectualmente pela televisão e pelos jornais, ficaria muito surpreendida ao ouvir o Primeiro-Ministro britânico Disraeli dizer:

A tendência de uma civilização avançada é, na verdade, a monarquia. A monarquia é, de fato, um governo que requer um elevado grau de civilização para o seu pleno desenvolvimento. Uma nação educada recua do vicariato imperfeito do que é chamado um governo representativo.

A democracia é, afinal, a mais antiga forma de governo em que as maiorias governam sobre as minorias.

A democracia reapareceu sob uma forma mais civilizada em Atenas, mas, quando, num julgamento verdadeiramente político, Sócrates elogiou a monarquia, foi condenado à morte. Recordemos também que Madariaga disse, com razão, que a nossa civilização se assenta na morte de duas pessoas: um filósofo e o Filho de Deus, ambos vítimas da vontade popular. Não admira que Platão, seguidor de Sócrates, e Aristóteles, discípulo de Platão, fossem monarquistas ferozes, e que este último, quando a democracia regressou a Atenas, se tenha exilado para evitar o destino de Sócrates. A tese de Platão de que a democracia evolui naturalmente para a tirania foi também adoptada por Políbio, que acreditava numa anakyklosis, um processo evolutivo circular natural da monarquia para a aristocracia, da aristocracia para a democracia e da democracia para a tirania. De fato, lendo a República de Platão, Livros VIII-IX, obtém-se uma descrição exata da transição da República de Weimar para a tirania nacional-socialista.

O observador historicamente consciente percebe não só que países como a Grã-Bretanha, a Espanha e a Holanda, hoje monarquias, passaram por períodos republicanos, mas também que a Grécia e o México, hoje repúblicas, já foram monarquias duas vezes. Ainda assim, o caso mais “didático” é o de Roma. Se tivéssemos tido a oportunidade, dado o nosso conhecimento da história, de nos encontrarmos com um cidadão romano no sexagésimo ano antes de Cristo, e lhe disséssemos que o seu país se tornaria em breve uma monarquia, ele teria certamente reagido com o maior vigor, acusando-nos de ignorar a tradição e a mentalidade romanas. Monarquia? Um regresso ao autoritarismo de Tarquinius Superbus? Fora de questão! No entanto, César já se avizinhava no horizonte.

Posteriormente, se tivéssemos tido a oportunidade de nos encontrarmos com um dos seus descendentes no ano 260 depois de Cristo e lhe contássemos a indignação dos seus antepassados relativamente à nossa ingenuidade e arrogância, ele teria certamente encolhido os ombros. “E agora?”, poderíamos perguntar. “Agora? Ainda somos uma república. Vejam as placas por todo o lado a declarar SENATUS POPULESQUE ROMANUS! Uma monarquia? Como entre os orientais e os bárbaros? Está fora de questão! “Mas vocês têm um Imperador! “Ha ha! Imperator significa general e sempre houve generais nas repúblicas!” No entanto, alguns anos mais tarde, Diocleciano, o Imperator Augustus, mandou colocar uma coroa de ouro em sua cabeça e exigiu a proskynesis, a genuflexão à sua pessoa. Nessa altura, até os romanos mais estúpidos se aperceberam de que a república tinha seguido o caminho que os levara até ali. Tácito, de fato, já o tinha suspeitado muito antes.

Há ainda pensadores notáveis que têm um profundo respeito pela ordem monárquica, tanto por motivos racionais como por motivos sentimentais. No entanto, mesmo o racionalista tem de ter em conta o fator psicológico, ou deixaria de ser um racionalista realista. De fato, a crescente democratização da civilização ocidental fomentou o pensamento monárquico, embora apenas a um nível elevado. Assim, não é surpreendente que Theodor Herzl, o fundador do sionismo, tenha declarado a monarquia a melhor forma de governo, mas, como não sobreviveram descendentes de David, a constituição aristocrática de Veneza deveria ser estudada no planejamento de um Estado judaico, enquanto a democracia, como o pior tipo de governo, devia ser rigorosamente evitada. A história já nos diz que ele tinha razão.

Esta introdução é necessária para compreender a relação entre monarquia e guerra. No entanto, limitamo-nos aqui à monarquia cristã na nossa civilização, e não estamos a discutir uma forma abstrata de monarquia (tenhamos em mente que arche não significa kratos.) Devemos recordar as palavras de Nicolas Gomez Davila, que escreveu que, sem o Cristianismo e a Antiguidade como pano de fundo, os europeus não passariam de bárbaros de rosto pálido. Também não devemos esquecer que a guerra é uma calamidade a evitar, um dos muitos resultados das nossas imperfeições causadas pelo Pecado Original, mesmo se os soldados, em geral, desempenham um papel positivo no Novo Testamento. Muitos dos nossos santos combateram em batalhas, de S. Francisco a S. Inácio. Ainda assim, eliminar – ou pelo menos limitar -a guerra deveria ser um dos nossos objetivos.

*Artigo publicado pelo autor austríaco Erik von Kuehnelt-Leddihn. Tradução e revisão: Gustavo Felix de Lima

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.

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