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Mais um capítulo da histórica e umbilical relação do PT com ditaduras “amigas”

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Não satisfeito em expor o país a um vexame ao tentar dividir com a Ucrânia uma culpa que é tão somente da Rússia, em sua suposta tentativa de mediar a guerra, aproximando, aos olhos do mundo, o Brasil a Putin, Lula, ao tratar Maduro como um democrata, dá nova prova de que, assim como fez seu antecessor, seu governo é só para seu grupo ideológico.

Não me juntarei a comentaristas que forjarão reciclados “conselhos” para o presidente e reduzirão tudo a falta de “pragmatismo”. O pragmatismo, ou tato político, tão reverenciado em Lula por seus apoiadores “circunstanciais” nas eleições passadas, pode estar realmente débil, mas isso é só um detalhe; o que falta realmente para Lula é vergonha na cara e espírito democrático.

Chamar de “narrativa” a verdade de que a Venezuela vive sob uma ditadura, além de grotesco, é um desrespeito às vítimas do regime de Maduro. Seriam os 6 milhões de refugiados que compõem a diáspora venezuelana fugindo da fome e do arbítrio ilusões de ótica? Ou seriam agentes pagos pelos EUA para sair do país e descredibilizar o regime chavista? Nas narrativas da esquerda jurássica (a esquerda não democrática), recicladas do lixo da história, tudo é possível. Estaria também a ONU, que, em um relatório de 443 páginas, deu conta de diversas violações de direitos humanos na Venezuela e acusou Maduro e seus sequazes de crimes contra a humanidade, produzindo uma narrativa? Teriam os torturados se autoflagelado só para manchar a imagem do governo?  Será que, por exemplo, o capitão da Marinha Rafael Acosta Arevalo, que, sete dias após ser preso, foi apresentado a um tribunal militar de cadeira de rodas e já sem sequer conseguir falar, teria causado tamanho infortúnio a si mesmo? Teriam manifestantes opositores atirado em si mesmos? A lista, infelizmente, é extensa, então paro por aqui. Aos que insistem na ficção democrática da Venezuela, apenas lembrem-se de que o mesmo tipo de teatro é mantido na Rússia de Putin e que Erdogan acaba de ser conduzido pelas urnas a mais um mandato na Turquia, inaugurando uma possível terceira década no poder.

O que assistimos foi mais um capítulo da histórica e umbilical relação do PT com ditaduras “amigas”. Que isso não se confunda com relação diplomática. A relação diplomática com países onde vigoram ditaduras é inevitável (apenas lembrem que a China é nosso principal parceiro comercial), mas relação institucional entre países nada tem a ver com laços ideológicos e personalistas entre governos e políticos de ocasião. Lula, nunca deixarei de lembrar, fez literalmente campanha para Maduro em 2013, isso quando a Venezuela, para dizer o mínimo, já era uma protoditadura chavista. Ele já não era mais presidente, é verdade, mas a preferência que mantinha uma década atrás, ele ainda mantém. Maduro, que completou a obra do seu antecessor, levando o país a uma verdadeira crise humanitária, foi recebido com toda a pompa e honras militares. Ao seu lado, Lula promoveu o negacionismo político tratando por “narrativa” aquilo que é fato e, pasmem, “aconselhando” e instigando Maduro a criar “sua própria narrativa”. Esse discurso está despido de diplomacia e recheado de sinalizações ideológicas. Lula não trata da relação entre Brasil e Venezuela, mas sim entre a ditadura venezuelana e o Partido dos Trabalhadores. Não é possível sair pela tangente e falar em neutralidade diplomática, quando ele claramente toma partido de Maduro, assim como sua pseudo neutralidade no que concerne à Guerra da Ucrânia não convenceu a país algum.

Tanto o presidente do Chile, Gabriel Boric, que é de esquerda, quanto o presidente do Uruguai, Luiz Alberto Lacalle Pou, de direita, criticaram a fala de Lula, o que demonstra que reconhecer o autoritarismo chavista é antes uma questão de princípios e humanitária do que ideológica.

Mas princípios, para o petismo e seus asseclas, são circunstanciais. Não deveriam estes grandes defensores da democracia ficarem de cabelo em pé ao menor indício de violação dos direitos humanos que juram defender? Não deveria a tortura, por exemplo, ser sempre inadmissível? Não foi Dilma, personagem fundamental na primeira derrocada petista, vítima deste crime inominável em tempos mais sombrios? É que, como sabemos, há a ditadura do mal e a ditadura do bem. Há a tortura do mal e a tortura do bem. Tudo é circunstancial. Que encerrem as cadeiras de ética. Que os filósofos aposentem suas penas. Mesmo a religião ou a moralidade secular podemos dispensar. Já temos a nossa bússola moral. Que o PT nos guie, que nos diga com suas afinidades ou antipatias quem presta ou não, quem é bom ou não, o que é democrático ou não. Sabemos, é claro, que, se o presidente ainda fosse o anterior e o ditador incensado de direita, isso seria mau. Que tranquilizemos nossas consciências, pois o ódio é coisa do passado e agora somos governados pela turma do amor. Fossem outros tempos, jornalistas agredidos por seguranças do ditador visitante e do GSI configurariam um claro atentado à imprensa, mas como sob a égide do governo do amor isso não ocorre, sabemos que tudo não passou de um mal entendido.

Aos incautos ou castos de petismo, tudo isto ilustra a lição que não lograram tirar da história.

Fontes:

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/lula-diz-que-venezuela-e-vitima-de-narrativa-de-antidemocracia-e-autoritarismo/

https://www.estadao.com.br/opiniao/a-diaspora-bolivariana/

https://brasil.elpais.com/internacional/2020-09-16/onu-acusa-governo-de-maduro-de-crimes-contra-a-humanidade.html

https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/tortura-e-morte-de-opositores-viraram-rotina-na-venezuela#:~:text=Desde%202018%2C%20o%20regime%20de,os%20Direitos%20Humanos%20(ACNUDH).

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/america-latina/lula-grava-video-para-campanha-de-nicolas-maduro-na-venezuela,352cf5aaa68cd310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html

https://www.poder360.com.br/governo/lula-volta-a-dizer-que-ha-narrativa-criada-contra-a-venezuela/

https://www.poder360.com.br/midia/politicos-se-solidarizam-com-reporter-da-tv-globo-agredida/

https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2023/05/31/jornalista-delis-ortiz-fala-sobre-agressao-no-itamaraty-assustador.ghtml

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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