Entre a cruz e a espada
Vivemos num país que parece estar entalado no passado pré-Iluminista. Vivemos entre a cruz e a espada que se confundem num único instrumento que serve ao mesmo tempo aos brutos e aos místicos.
Sócrates foi o primeiro a sucumbir à falta de razão. Foi vítima da democracia praticada a serviço da religião. Sócrates ousou desafiar os deuses, mas se dobrou à vontade majoritária, ela própria uma divindade.
O Estado e a Igreja foram sócios na exploração dos povos por longo tempo. Promoveram destruição através das guerras infinitas que eram travadas em nome do Reino de um Deus e de um homem.
Muitos governantes se associaram com a Igreja para impor pela força suas crenças. Religião é fé. Fé é crença. Crença é submissão. Submissão é a renúncia ao uso da razão e a aceitação do poder da autoridade.
Foi o caso da França, da Espanha e Portugal, cujo marco é conhecido por Inquisição. Outros resolveram criar a sua própria Igreja – foi o caso da Inglaterra e da Dinamarca.
Foi John Locke que tornou popular a doutrina do estado secular ou laico, uma ideia colhida nos rios de sangue que banharam a Europa por séculos de intolerância, desmedida cobiça e irrefreável irracionalidade niilista.
Foi Thomas Jefferson que, como um pedreiro metafórico, erigiu o muro destinado a separar a força da fé, o estado e a religião – ótima tentativa de proteger a consciência do indivíduo, daqueles que acham que podem mandar na vida alheia, suprimindo a liberdade para pensar e agir de acordo com seu próprio julgamento.
A moralidade que o ser humano precisa para viver não pode depender da vontade de um ser inexistente, criado por aqueles que querem determinar o destino dos outros a ferro e fogo.
O ser humano tem natureza própria e características específicas determinadas pela realidade do cosmos, do universo onde estão incluídas as coisas que necessitamos para viver, inclusive nossa mente e nosso corpo. É do ser, da realidade objetiva, vista sob a lente da lógica, que precisamos derivar o dever que guiará por escolha nossas ações, como seres racionais que somos.
A filosofia, a ciência, a ética, a política, a economia, contêm princípios intrínsecos que precisamos conhecer e seguir se quisermos prosperar em paz.