Depois se perguntam por que o dólar está tão alto

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Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve que cancelar uma viagem programada à Europa a pedido de Lula, que temia que a saída do ministro do país em meio à alta do dólar, que na sexta-feira chegou a R$ 5,87, o maior patamar desde 2020 (durante a pandemia), piorasse o cenário cambial.

O aumento do dólar que temos observado ao longo do ano é, antes de tudo, um resultado da falta de confiança em relação ao comprometimento do governo com o resultado fiscal. Mais especificamente, o mercado reage às sinalizações ambíguas do governo em relação ao corte de gastos. A promessa é que a proposta do governo para redução de gastos seja apresentada por meio de uma PEC. Vejamos o que irão propor.

O fato é que, até o momento, o ajuste fiscal do governo Lula tem sido feito praticamente pelo lado da receita, e, quando instigado a cortar gastos, o presidente responde comumente com irritação, insistindo em lorotas contábeis tais como “educação não é gasto, é investimento”, como se, com tal apelo emocional, por um passe de mágica, se materializassem as escolas, os livros, os salários dos professores etc.

Eis que, em meio às dúvidas sobre a questão fiscal, temos a notícia de que o governo prepara um reajuste que variará entre 9% e 30%, escalonado em dois anos, para cargos em comissão e funções gratificadas, com impacto orçamentário estimado em R$ 1,34 bilhão. O Ministério da Gestão e Inovação, responsável pela proposta, argumenta que os salários desses servidores estariam defasados e, em alguns casos, menos atrativos que o setor privado ou mesmo que outras carreiras públicas. Ora, não é sempre essa a retórica? Se volta e meia somos confrontados com aumentos tão expressivos, justificados por um longo período sem reajuste, não é isso um sinal claro de que algo está muito errado na administração pública? Alguns diriam que o correto seria que houvesse sempre reajustes anuais, ao menos para repor a inflação. A pergunta é: isso é possível? Não, e não por uma falta de disposição do governo em reajustar, mas sim por limites orçamentários. Isso ocorre, pois, sendo um país pobre, que paga salários que muitas vezes nem países ricos pagam na administração pública, a conta dificilmente fecha. A solução lógica é uma ampla reforma administrativa. Evidentemente, não podemos esperar nada parecido com isso deste governo.

Enquanto sua gestão prepara um reajuste de até 30% para altas carreiras do funcionalismo, Lula segue apequenando a necessidade de reajuste, negando peremptoriamente a desvinculação entre os benefícios do INSS e o salário mínimo (tal vinculação, combinada com ajustes reais ao mínimo, gera forte pressão nos gastos previdenciários) jogando a culpa na especulação do mercado e atacando o Banco Central. Depois, se perguntam por que o dólar está beirando os seis reais.

Fontes:

https://veja.abril.com.br/economia/em-meio-a-alta-do-dolar-haddad-cancela-viagem-para-a-europa-a-pedido-de-lula

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/11/06/governo-prepara-aumento-para-cargos-comissionados-com-reajustes-de-ate-30percent-ate-2026.ghtml

https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2024/11/07/governo-prepara-proposta-de-reajuste-salarial-de-ate-30-em-2-anos-para-comissionados.htm

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/governo-reve-meta-apos-sete-meses-de-arcabouco-fiscal-e-desiste-de-superavit-em-2025/

https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/desvincular-aposentadoria-do-salario-minimo-entenda-proposta-do-tcu/

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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