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As redes sociais e os cancelamentos: o caso Kevin Spacey

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As redes sociais se tornaram uma arena de julgamento público, onde reputações são facilmente manchadas e pessoas têm suas vidas destruídas em questão de horas. O caso do ator Kevin Spacey é emblemático dessa realidade, pois ele foi vítima de um cancelamento massivo, alimentado por acusações e boatos que, posteriormente, foram julgados pelo Judiciário em dois diferentes continentes como infundados. Esse linchamento digital teve um preço alto, com Spacey perdendo cinco anos de sua vida, contratos de publicidade, papéis importantes e milhões de dólares. Além disso, seu personagem na aclamada série “House of Cards” foi sepultado, e a possibilidade de ganhar uma terceira estatueta do Oscar foi arrancada dele. No entanto, ao final, ele foi inocentado, o que leva a importante questão: quem irá arcar com os prejuízos econômicos e reparar a vida perdida dele?

O fenômeno dos “sinalizadores de virtude” na era digital é uma realidade preocupante. Pessoas que se proclamam defensoras de causas nobres muitas vezes agem de forma oportunista, priorizando seu prazer momentâneo em destruir a reputação alheia em detrimento da dignidade humana. O cancelamento de personalidades tornou-se uma ferramenta perigosa e desmedida, em que boatos e denúncias não confirmadas são utilizados como provas definitivas de culpa. A pressão das redes sociais é avassaladora, e aqueles que se tornam alvo dos sinalizadores de virtude enfrentam uma batalha desigual.

O caso de Kevin Spacey aconteceu em meio ao movimento “Me Too”, que trouxe à tona importantes denúncias de abuso sexual em Hollywood. Entretanto, é essencial destacar que cada caso deve ser analisado individualmente, com a devida investigação e presunção de inocência até que se prove a culpa. No entanto, no calor do momento, muitas pessoas foram arrastadas pelo frenesi do cancelamento e tomaram parte no julgamento público de Spacey, sem nem sequer saber os fatos reais do caso.

A Netflix, produtora da série “House of Cards”, decidiu tomar uma atitude radical ao afastar o ator da produção, prejudicando não apenas Spacey, mas também toda a equipe e o público que apreciava a série. O diretor Ridley Scott decidiu apagar a imagem dele de um filme que já estava sendo rodado, “All The Money in The World”, o que eliminou as chances de Space concorrer a mais um Oscar. Essas decisões precipitadas e sem base sólida podem acarretar graves consequências para a vida dos envolvidos, como o próprio ator e outros colaboradores da indústria.

A maior preocupação reside no fato de que o cancelamento injustificado de figuras públicas, como Kevin Spacey, prejudica o movimento legítimo de luta contra o abuso sexual e a violência. Cada vez que uma figura inocente é crucificada, torna-se mais difícil acreditar e apoiar vítimas reais que buscam justiça. O cancelamento irresponsável mina a credibilidade das verdadeiras denúncias, e é essencial lembrar que justiça não é sinônimo de vingança. Não é assim que funciona em um Estado de Direito.

Afinal, quem lucrou ao destruir a carreira de Kevin Spacey? Grandes corporações, atores e diretores de Hollywood, e influenciadores se autopromoveram como defensores da justiça, enquanto, na realidade, não contribuíram para resolver o problema, somente sinalizaram virtudes em tweets, alguns stories e entrevistas. O cancelamento não traz soluções reais e, muitas vezes, apenas alimenta um espetáculo punitivo em busca de likes e compartilhamentos.

A responsabilidade sobre os prejuízos econômicos e a vida perdida de Kevin Spacey não pode ser atribuída somente aos sinalizadores de virtude que o cancelaram nas redes sociais. O Supremo Tribunal da Internet, como uma metáfora para essa cultura do cancelamento, deve refletir sobre suas ações e aprender com os erros. A disseminação irresponsável de acusações não comprovadas deve ser rejeitada, e a presunção de inocência deve ser respeitada em todos os casos.

Em vez de celebrar o linchamento digital, é preciso incentivar um debate público mais informado e consciente. É necessário que a mídia, as plataformas de redes sociais e a sociedade em geral sejam responsáveis pela divulgação de informações e no tratamento de acusações. Faz parte da responsabilidade individual construir um ambiente mais justo, em que pessoas inocentes não sejam arrastadas para o abismo do cancelamento sem a chance de se defenderem.

Quando Kevin Spacey estava sendo apedrejado em praça pública, os canceladores que compõem o Supremo Tribunal Internet tinham todas as certezas e respostas. Quando este é inocentado e se questiona quem pagará pelos anos perdidos e prejuízos financeiros e mentais sofridos pelo ator, as certezas e as respostas somem, pois na cultura do cancelamento o que importa é a sinalização de virtude, não resolver problemas reais.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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