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A responsabilidade individual na caridade

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“Senhor, fazei-me instrumento da Vossa Paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz.”

Foi com estas palavras que aprendi a rezar. Muito antes do tradicional “Pai Nosso” ou da nobilíssima “Ave Maria”, aprendi e decorei cada vírgula da Oração da Paz, cuja autoria é atribuída a São Francisco de Assis. No auge dos meus 3 anos de idade, a qualquer lugar que fôssemos, minha mãe me dizia para recitar a oração em voz alta, com um sorriso no rosto – as pessoas achavam bonitinho.

Não sou católica e minha religião sequer é considerada uma doutrina cristã pelas religiões tradicionais. Sou espírita (kardecista) e, mesmo assim, todos os princípios e virtudes que aprendi que deveria conquistar e cultivar ao longo desta vida vêm da obra e exemplo de Jesus Cristo. Aprendi, desde pequena, que, embora fosse filha de pais separados e, ao contrário dos residentes dos orfanatos que visitávamos, a vida me privilegiou com o mais sagrado para a vida de uma criança: uma família amorosa.

É claro que, ao olharmos para o mundo que nos rodeia, fica evidente a vontade de proporcionar aos mais necessitados as mesmas oportunidades e benesses que desfrutamos em nossa própria jornada: de fato, essa é uma das características de seres humanos que intimamente alcançaram uma maturidade social. Entretanto, há de se pontuar que, sem a legítima vontade dos agentes que protagonizam atos de solidariedade, sem o engajamento voluntário, o sentido filosófico de fazer o bem se perde em intenções.

Como visto na obra A lei,  é comum que os membros da sociedade se valham da chancela governamental para terceirizar atos de solidariedade à máquina pública. Tal postura é justificável apenas se se entende que as responsabilidades mais sublimes não perdem o seu teor fraterno quando delegadas para o Estado – ledo engano. Ao fazer isso, perde-se não apenas o intuito humanitário deste processo, mas também se macula a grandeza do ato, inserindo em seu seio a espoliação legal.

Bastiat nos explica que a imposição da fraternidade através do governo destrói a liberdade que precisamos ter para exercitar nossa maturidade social. A espoliação legal, além de engatilhada pela mera cobiça humana, tem por base uma falsa filantropia. Quando uma porção de riqueza é transferida, sem consentimento e sem compensação, por força da lei, ocorre violação da propriedade – a lei só pode ser instrumento da igualdade se tirarmos de algumas pessoas para darmos a outras.

Faço das palavras dele, ainda, as minhas: há que se repudiar somente as organizações fraternas que são forçadas, jamais aquelas surgidas de forma natural. A livre associação, a fraternidade verdadeira e a solidariedade natural, que, de fato, cingem o indivíduo de sua responsabilidade inata, devem ser celebradas. Celebremos a solidariedade natural, pois ela existe no homem graças à Providência.

Muito bem diz a Oração da Paz: “fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido, amar que ser amado, pois, é dando que se recebe e é perdoando que se é perdoado”, e assim nos motivamos a olhar para os mais variados atos de caridade e as bases que os sustentam para, através deles, conhecer este ciclo perfeito que é a solidariedade voluntária, feita de pessoa para pessoa –a renúncia da própria ganância e egoísmo para acolher a individualidade do outro, na certeza de que nossas individualidades, algum dia, também precisarão do acolhimento carinhoso de alguém que não se faça de algoz ou inquisidor. No final das contas, estamos todos no mesmo barco.

*Mariana Lion é advogada especialista em Compliance, pós-graduada em Economia Austríaca, revisora e tradutora de livros.

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