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A piada da semana: PSTU vai derrubar Donald Trump

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PSTU Trump

Quando certo grupo organizou uma diminuta manifestação na Avenida Paulista, ainda antes das eleições americanas, em defesa da candidatura do polêmico presidenciável dos Estados Unidos Donald Trump, quem me conhece recordará que fui bastante crítico à iniciativa. Permaneço com a mesma opinião.

Por mais que a eleição nos EUA impacte o mundo inteiro e que seja alvissareiro que os brasileiros, devotando mais importância ao debate público em geral, também estejam atentos aos acontecimentos internacionais, continuo acreditando que é de um vira-latismo pouco ajuizado e adequado a qualquer nação soberana que seu povo faça manifestações demandando que eleitores de outra pátria votem de determinada maneira. Apesar do respeito que a expressão livre merece, considero simplesmente fora de lugar e não iria para a rua para pedir que os americanos, japoneses ou russos votassem em quem quer que seja; só vou para a rua pelo Brasil. Se errado estiver, errado ficarei. É diferente, por exemplo, de cidadãos venezuelanos que, em meio a protestos contra Maduro, atacam também o PT no Brasil ou o Partido Comunista cubano; eles sabem que essas legendas financiavam diretamente a tirania reinante em seu país. Mas os EUA ainda são uma democracia constitucional, uma República, e deveríamos deixar aos seus cidadãos a prerrogativa de levantarem bandeiras ou reunirem aglomerados em apoio a seus candidatos.

Digo isso apenas para que ninguém me acuse de incoerência pelo que expressarei hoje. Pois a piada da semana, quiçá do século, é que, agora que está resolvido e Trump foi eleito, nosso velho conhecido Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o célebre PSTU (o carinhosamente lembrado “contra burguês, vote 16”), está convocando pelas redes sociais uma manifestação contra Trump. O texto de convocação não me deixa mentir sobre o ridículo da coisa toda: “É necessário organizar protestos em todo o mundo contra o imperialismo estadunidense e para apoiar os trabalhadores, a juventude, a comunidade imigrante, negra e muçulmana para que saiam a lutar não só nos EUA como em todo o mundo. Mais do que nunca temos que mostrar com luta que a classe trabalhadora é internacional, e que se atacam um, nos atacam a todos.”

Estou tentando encontrar algum sentido nesse protesto da arcaica e bagunceira legenda trotskysta e não estou conseguindo. Senão vejamos; o protesto é contra o “imperialismo americano” – a velha teoria esquerdista de que os Estados Unidos, como símbolo das forças capitalistas “neoliberais” internacionais, viveriam a esmagar a autonomia, o crescimento e a identidade nacional das demais nações. A globalização econômica é entendida aí como um avanço desrespeitoso sobre essas esferas relevantíssimas para a autoestima de países como o Brasil, forçados a viver no subdesenvolvimento.

A narrativa, sob quase todos os aspectos falha, embora não se possa confundir as duas, tem semelhança com outra, com a qual concordamos: a de que, nos últimos tempos, sob o impulso de uma perigosa agenda politicamente correta e de uma elite influenciada por teses centralizadoras e oriundas de círculos de esquerda, tem prevalecido a aposta em entidades supranacionais, apelidada globalismo, submetendo indevidamente os direitos de determinação soberana das nações e procurando, de maneira artificial, suplantar a identidade cultural desses construtos históricos. Pois muito bem: Donald Trump se elege com uma plataforma que visa justamente se voltar contra tudo isso. Ele clama por que os EUA olhem um tanto mais para si mesmos e defende muito menos intervenção americana no exterior do que qualquer outro candidato americano, com a provável exceção dos autointitulados libertários. Por alguns de seus críticos, mesmo entre conservadores, é inclusive contestado pelo seu alegado “isolacionismo”. Como atacar justamente Trump pelo “imperialismo americano”? Onde a lógica?

O PSTU está sendo mais irracional, vejam só, até do que o ditador Maduro, de quem falamos há pouco. O maligno mandatário venezuelano se permitiu dizer, esta semana, que Trump não deve ser pior do que Obama. Pela narrativa chavista atual, curiosamente mais lúcida que a narrativa trotskysta tupiniquim, Trump representa menos intervenção e mais autonomia – o que para eles ecoaria a busca por um mundo realmente multipolar e “multicentrista”, na qual a Venezuela estaria na vanguarda. Infelizmente, a única vanguarda em que a Venezuela está é a da miséria…

Enfim: se penso que não deveríamos mesmo ter ido às ruas pedir que os americanos votassem em Trump, é certamente muito mais absurdo fazer coro com uma parcela golpista da esquerda dos EUA e clamar para que seu mandato se encerre com uma reação mundial. De todo modo, fiquem tranquilos: o magnata americano com certeza não está com medo do PSTU.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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