Petrobras, a eterna “vítima” dos interesses políticos e dos interesses escusos
“Built to suit” é uma modalidade de operação imobiliária que pode ser traduzida como construção sob medida, em que um investidor, através de contrato com o usuário final, viabiliza um empreendimento imobiliário segundo os interesses do futuro usuário, que irá utilizá-lo por um período pré-estabelecido, normalmente longo o suficiente para garantir o retorno do investimento e a remuneração pelo uso.
A partir de uma ordem expressa (baseada inteiramente em aspectos políticos e sem qualquer preocupação técnica) do ex-presidente Lula para que os investimentos da Petrobras para a exploração do pré-sal fossem, preferencial e majoritariamente, feitos no Brasil, criou-se a Sete Brasil, cujo objetivo era financiar, inicialmente, a construção de 29 sondas, sendo treze (45%) em estaleiros estrangeiros e 16 (55%) em estaleiros nacionais, para posterior locação à Petrobras. A vantagem do negócio para esta última seria retirar do seu balanço o peso de imobilizar o custo de 29 sondas caríssimas.
O investimento previsto inicialmente era altíssimo – cerca de US$ 25 bilhões. Segundo informações do jornal Valor, em sua edição do último dia 19, os sócios já entraram com R$ 8,3 bilhões, além de tomarem emprestados outros US$ 4,6 bilhões. Apesar de todo esse aporte, a situação financeira da empresa não é das melhores, tanto que a presidente Dilma já determinou que o BNDES e o Banco do Brasil concedam novos empréstimos à companhia. Sem isso, seria difícil continuar bancando os custos.
Se os problemas fossem só esses, os bancos públicos poderiam resolver com a presteza de praxe. Entretanto, há outros agravantes a tumultuar o imbróglio, o principal deles é o atraso previsto na entrega das sondas pelos estaleiros brasileiros, todos eles de propriedade de grandes empreiteiras envolvidas até o pescoço no Petrolão e cuja maioria dos executivos de alto escalão estão presos pela Operação Lava-Jato.
Em resumo, o aluguel de sondas está barato. Possivelmente muito mais barato do que a Petrobras vai pagar no contrato com a Sete, cujos valores contratados variam de US$ 530 mil a 545 mil por dia, dependendo da sonda. De acordo com um executivo da Sete, ouvido pelo Valor, “essa solução não mudaria o programa de conteúdo nacional, não atrasaria o projeto e reduziria custos“. O jornal informa também que os ganhos poderiam ser divididos com a Petrobras. (Puxa! Como eles são magnânimos!)
Pelo andar da carruagem, no entanto, o pessoal da Petrobras, por enquanto, não está muito sensível à demanda. Por e-mail, encaminhado ao Valor, a empresa foi taxativa: “A Petrobras espera que a Sete Brasil cumpra com o prazo e com o conteúdo local contratados“. Aguardemos os próximos capítulos.