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Os reis da prestidigitação

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JOÃO LUIZ MAUAD * 

Alguém já disse: torture os números e eles confessarão qualquer coisa. As estatísticas são, hoje em dia, as grandes aliadas dos mistificadores, que as utilizam de forma indiscriminada para dar aparência científica às falácias e mentiras em prol de suas causas. Você pode desenvolver rígida argumentação lógica a respeito de um assunto sem convencer muita gente, mas basta acrescentar alguns números, tabelas e gráficos para respaldá-la e as pessoas passam a olhar os seus argumentos com outros olhos.

Depois de “provar” que não existe mais miséria no País e inflar a classe média brasileira a índices de primeiro mundo, bastando para isso padronizar a pobreza extrema a níveis de renda per capita inferiores a R$70,00/mês e o piso de acesso à classe média em R$291,00 (notem o absurdo: quem ganha R$70,00/mês é miserável, mas quem ganha R$292,00 já é classe média), o IPEA agora quer que acreditemos que o Programa Bolsa Família (PBF) é um poderoso indutor de crescimento econômico.

Segundo estudo recentemente divulgado pelos economistas do Instituto de Proselitismo Econômico Aplicado, cada R$1,00 distribuído pelo governo aos beneficiários do PBF gera um efeito multiplicador de R$1,78 no PIB do País.  Pronto: os alquimistas, digo, economistas do IPEA acabam de descobrir a pedra filosofal, capaz de impulsionar o crescimento econômico através da transferência de renda dos “remediados” para os pobres.

De uma só tacada, com base em cálculos estatísticos complexos, os valentes invalidaram a lei da escassez, aboliram os custos de oportunidade e provaram que poupança é um mero entrave à riqueza das nações (Adam Smith deve estar dando piruetas no túmulo, coitado).  O importante mesmo para a economia é colocar dinheiro nas mãos dos pobres, para que gastem com sua elevada sabedoria – coisa que os donos originais não saberiam fazer, claro.

O velho Bastiat costumava dizer que são necessárias somente algumas poucas palavras para estabelecer uma meia-verdade, mas precisamos de extensas e áridas dissertações para demonstrar uma verdade inteira. Eis por que muitas vezes dá uma preguiça danada de combater algumas falácias e sofismas.  Mas vamos lá.

No curto prazo, o efeito dessas transferências de renda é enganador, como estamos assistindo em Pindorama. Enquanto houver capacidade ociosa, a demanda puxará a oferta, produzindo crescimento momentâneo, porém limitado. O problema começa quando alcançamos o limite da capacidade instalada. Daí para frente, só com novos investimentos é que haverá crescimento. E, infelizmente, caro amigo leitor, não há milagres em economia. Digam o que disserem os arautos do intervencionismo, o que gera investimento é poupança, não o consumo – e não é outra a razão por que Adam Smith sempre admirou e incitou a frugalidade dos homens, abjurando a intemperança.

“Não existe almoço grátis”. Milton Friedman morreu, mas felizmente suas lições econômicas permanecem. O dinheiro que o governo dá aos pobres não nasce em árvore. Tudo o que ele gasta toma antes da sociedade, seja na forma de tributos ou empréstimos. O fato é que os R$ 100,00 dados mensalmente a João, pelo Programa Bolsa Família, saíram dos bolsos de José, de Pedro, de Sebastião, de Antônio.

Uma parte do que João gastou em seu consumo certamente deixou de ser consumida por outras famílias, obrigadas a pagar impostos aviltantes. Até aí, nada se modificou. Trata-se do famoso jogo de soma zero. O problema é que uma parte do consumo da família de João provavelmente foi financiada pela poupança das outras famílias, sacrificada para o pagamento de impostos ou direcionada para compra de títulos públicos, no lugar de irrigar o mercado produtor.

Não por acaso, o tamanho dos gastos dos governos é sempre inversamente proporcional à taxa de poupança. Países com baixo endividamento público e baixa carga tributária têm poupança alta e vice-versa. Os países europeus, por exemplo, que consomem boa parte da renda nacional com impostos, há muito sofrem de baixíssimos índices de crescimento. Por outro lado, economias com baixa carga tributária e, consequentemente, altas taxas de poupança doméstica, como a China e o Chile, têm aproveitado as ondas de bonança mundiais e obtido resultados alvissareiros durante anos a fio.

Os gastos públicos no Brasil (inclusive as transferências de renda) equivalem a 40% do PIB, enquanto a taxa de poupança é de 17%. A China, com uma carga tributária perto dos 20% e um gasto público ainda menor, pois o governo é poupador líquido, dispõe de uma poupança doméstica que beira os 40%. Não é difícil explicar por que aquele país tem conseguido taxas de crescimento fantásticas, desde que largou o modelo comunista, enquanto nós continuamos voando como galinhas gordas.

O mesmo raciocínio vale para o famigerado crédito para consumo de baixa renda, outra das maravilhas cantadas em prosa e verso pelos petistas. A principal função dos bancos numa economia madura é servir de intermediários entre poupadores e consumidores e investidores. De acordo com aquilo que, em economia, se convencionou chamar de custo de oportunidade, o mesmo dinheiro utilizado pelo banco para financiar a compra de um bem de consumo não poderá financiar um bem de produção e vice-versa.

O crédito ao consumo é importantíssimo em qualquer economia. No entanto, em termos de incremento dos níveis de produção, esse crédito é eficaz apenas enquanto a economia dispuser de capacidade ociosa. O dito crescimento sustentado (não gosto da expressão, mas, vá lá!, dou-me por vencido pelo hábito linguístico), por outro lado, depende de investimentos, que ampliem a capacidade instalada e melhorem a produtividade.

Além disso, não podemos esquecer que todo indivíduo que toma empréstimos para consumo terá de pagá-los no futuro, ocasião em que deverá reduzir os gastos para honrar esses compromissos. Já um empresário que toma emprestado para fins de investimento, gerará riquezas extras e, provavelmente, quitará suas dívidas com o lucro proveniente da produção dessas novas riquezas. No primeiro caso, sacrifica-se o consumo futuro pelo consumo presente (soma zero), enquanto, no segundo, teremos um saldo positivo, advindo do aumento do estoque de bens e serviços produzidos.

* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

 

FONTE DA IMAGEM:  WIKIPÉDIA
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