Os bons na política

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RODRIGO CONSTANTINO *

Merval Pereira resumiu bem o discurso do Papa Francisco sobre a participação de bons cristãos na política, com P maiúsculo. Diz o jornalista:

O Papa Francisco fez ontem, na visita à favela da Varginha, seu discurso mais político, referindo-se às recentes manifestações ocorridas no país de maneira positiva, encorajando a que os jovens permaneçam na sua luta contra a corrupção. Com outras palavras, retomou análises que fizera anteriormente, desde que assumiu, sobre a nobreza da ação política. Para ele, envolver-se na política é a obrigação de um cristão, pois a ação política é “das formas mais altas de caridade”.

A política com P maiúsculo, como definiu em outra ocasião, visa o bem comum e “nós cristãos não podemos fingir de Pilatos e lavar as mãos”. Ontem, ele se referiu especialmente aos jovens que “possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio beneficio”.

Mas o Papa instou a que “nunca desanimem, não percam a confiança”, insistindo em que a ação política pode mudar a realidade, “o homem pode mudar”. Em palestras anteriores na Itália, logo depois de ser eleito Papa, ele falou mais diretamente sobre a atividade política ao ser perguntado por um estudante jesuíta qual seria a atitude evangélica correta nos dias de hoje.


Eis um grande dilema para liberais: participar ou não do jogo político? Eu mesmo costumo sofrer pressão de leitores, e quando divulgo em meu canal que vem por aí uma grande novidade (vem uma na semana que vem!), muitos pensam que se trata de uma eventual candidatura. Qual deve ser a postura dos liberais, ou das pessoas decentes em geral, em relação a política?
Em minha opinião, elas devem participar, sim. Mas não é para todos. Atuar na política, ainda mais na nossa, demanda um estômago preparado, um grau de ética muito elevado, uma disposição de pagar um alto preço individual. Mas não sejamos ingênuos: não é possível simplesmente chegar lá e mudar “isso tudo que está aí”.
Dito isso, em política não há vácuo. Se as pessoas melhores não participarem, as piores terão o caminho totalmente liberado. Facilitar o acesso a eles é a garantia de que a podridão não só vai se perpetuar, como aumentar. A vida em sociedade exige um espaço político; não podemos sonhar com a ausência dessa via, e adotar uma postura apolítica, ou pior, antipolítica.
Portanto, tendo a concordar com o Papa Francisco: as pessoas de bem deveriam tentar resgatar, sim, a ideia de nobreza da política, permitindo o retorno de figuras honradas a este importante ofício. Já as tivemos no passado.
Mas faço algumas ressalvas. Não podemos cair na ideia infantil de que seres “incorruptíveis” chegarão lá e, de cima para baixo, irão mexer em tudo e acabar com a sujeira toda. Liberais não podem ser tão ingênuos, pois entendem que o mecanismo de incentivos faz toda a diferença. Ou seja, temos que insistir, mais ainda, na luta no campo das ideias, para que o poder em si seja reduzido e descentralizado.
É preciso lembrar sempre que o poder para fazer o bem é, também, o poder para fazer o mal. E a probabilidade maior é de que esse poder seja tomado não pelos melhores, mas pelos piores, ou por gente que será corrompida pela tentação no processo. O poder deve ser menor. A via política deve ter seu escopo reduzido.
Concluo, então, endossando a fala do Papa Francisco, sobre a importância de se valorizar novamente a política com P maiúsculo, e ao mesmo tempo reforçando a bandeira liberal de que a guerra é cultural, de que o estado não deve ser visto como esse instrumento fantástico para fazer o bem, pois esse é o primeiro passo para instaurar o inferno por aqui.
Aqueles que não se interessam pela política serão governados pelos que se interessam. E tudo que o mal precisa para triunfar é que as pessoas de bem nada façam. Arnold Toynbee e Edmund Burke ou Platão fizeram alertas importantes.
Pessoas decentes do Brasil todo, uni-vos!
PS: De minha parte, adianto que não tenho interesse em participar da política por enquanto, pois prefiro atuar no campo das ideias. Mas o Partido Novo conta com meu total apoio, assim como faço novamente um apelo para que invistam em boas ideias; associem-se ao Instituto Liberal, que agora presido.
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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