O voo de galinha e as garras da política

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Ricardo Vélez-Rodríguez reporta um grave fato recente com Universidades particulares brasileiras.

No artigo ‘Um caso típico de voo de galinha: as políticas públicas em educação de 64 até 2014′, RVR faz um levantamento histórico do ensino no Brasil para procurar as causas do que considera um verdadeiro “voo de galinha” na evolução educacional do País nos últimos 50 anos.

O artigo segmenta em três momentos o período: as reformas educacionais no ciclo militar; os problemas do ensino no período da Nova República;  e as políticas públicas de ensino ao longo dos governos petistas.

Neste segmento, RVR sintetiza em dez pontos os aspectos negativos do sistema de ensino brasileiro ao longo dos dois governos de Lula e do governo da sua sucessora, Dilma Rousseff:
 
1 – Queda do setor de ensino primário nas avaliações internacionais.
 
2 – Queda do setor de ensino secundário nas avaliações internacionais.
 
3 – Queda do setor de ensino superior nas avaliações internacionais.
 
4 – Critérios dúbios adotados pelo Ministério de Educação na avaliação do sistema de ensino brasileiro nos seus três níveis.
 
5 – Pano de fundo altamente ideológico e radical das reformas educacionais petistas, no contexto da denominada “revolução cultural” de inspiração gramsciana.
 
6 – Inépcia do INEP na gestão dos vestibulares.
 
7 – Aparelhamento, pelo Partido dos Trabalhadores, dos Institutos de Pesquisa do Estado em relação ao desenvolvimento econômico e social (IPEA, IBGE).
 
8 – Inadequada formulação do programa “Ciência sem Fronteiras”, para enviar ao exterior 100 mil estudantes brasileiros de nível superior, um caso gritante de “turismo acadêmico”.
 
9 – Preconceitos do PT em face do setor privado no terreno educacional.
 
10 – Despreparo do governo para lidar com o ensino digital de grandes proporções.
 
Entre as graves questões que levanta, RVR reporta os acontecimentos que levaram ao fechamento de duas Universidades cariocas, fato que envolve até ministros do Supremo. Eis o trecho:
 
No que tange aos preconceitos do PT em face das instituições privadas de ensino, não podemos deixar de mencionar o descredenciamento recente de duas conceituadas Universidades particulares do Rio de Janeiro, a Gama Filho e a UniverCidade, controladas pelo grupo Galileo. Não é de hoje, nem de ontem, que os governos de esquerda, no Brasil, tiveram sérios preconceitos com a iniciativa privada em matéria educacional. Essa tendência cresceu nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso e, com o PT, aumentou mais ainda. A idéia é que a iniciativa privada não pode ter, em suas mãos, o sistema educacional, pois não sabe educar, em decorrência do fato de que presta um serviço pago.
 
[…]
 
A Gama Filho foi um centro de alto nível de pós-graduação e de graduação, tendo sido a maior universidade privada brasileira nas décadas de 70 e 80 do século passado. Trabalhei nessa instituição por um longo período de tempo, entre 1983 e 2002. O curso de pós-graduação estrito sensu em pensamento luso-brasileiro, o primeiro a ser oferecido numa universidade de fala portuguesa no mundo, fundado em 1978 e clausurado por ordem da Capes em 1998, gozava de uma infraestrutura invejável: corpo docente de doutores de primeira linha, duas bibliotecas magníficas, a Ivã Monteiro de Barros Lins (um dos melhores acervos da cidade na área de filosofia moderna) e a Marcelo Caetano (o maior acervo conhecido, na América Latina, sobre cultura e política portuguesa, constituído pela biblioteca que o finado ex-primeiro ministro português doou à Universidade). A produção acadêmica situava o curso da Gama Filho entre os mais destacados do Brasil, [19] tendo sido o primeiro a ser reconhecido no país, na área da filosofia, pelo Conselho Federal de Educação, em 1982. 
 
A Gama Filho caracterizou-se, sempre, por ter acolhido entre os seus docentes e pesquisadores, intelectuais de renome perseguidos pelas suas idéias políticas, não importando que fossem de esquerda ou de direita. Ali foram se refugiar intelectuais portugueses cassados pelo regime comunista de Vasco Gonçalves (Eduardo Abranches de Soveral e Marcelo Caetano), professores esquerdistas que tinham sido perseguidos pelo regime militar brasileiro, pesquisadores pioneiros da área de pensamento brasileiro censurados pela esquerda acadêmica (como Antônio Paim, Francisco Martins de Sousa, Anna Maria Moog Rodrigues e Ubiratan Borges de Macedo) ou docentes de outras disciplinas, como a psicologia social. Foi marcante o exemplo do professor Haroldo Rodrigues, o mais importante pesquisador brasileiro da área, cuja obra foi proibida pelos seus pares nas Universidades públicas e que estruturou na Gama Filho o melhor programa existente no país nessa especialidade. O saudoso ministro Luís Gama Filho, fundador da Universidade, fazia questão de destacar a independência da instituição em face dos políticos, tendo aberto mão, em várias oportunidades, dos subsídios oferecidos pelo governo, a fim de manter a independência em relação ao poder.
 
A Faculdade da Cidade nasceu em 1982, com a fusão da Faculdade Brasileiro de Almeida, pertencente à família do Maestro e Compositor Tom Jobim, e o Centro Unificado Profissional. Sete anos mais tarde, foi incorporada à instituição a Faculdade São Paulo Apóstolo, sediada no Méier e pertencente ao professor Carlos Potsch. Em 1990, foi anexada à Faculdade da Cidade a Faculdade da Lagoa. Em 1995 foram incorporadas à instituição as Faculdades Reunidas Professor Nuno Lisbôa, que funcionavam nas zonas norte e oeste da cidade. Um ano após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Darcy Ribeiro, 1996) a direção da então Faculdade da Cidade submeteu ao Ministério da Educação e ao Conselho Nacional de Educação um projeto visando a transformação da instituição em Centro Universitário. Por decreto presidencial de 30 de setembro de 1998 a nova instituição foi credenciada, passando a se chamar Centro Universitário da Cidade, conhecida popularmente como UniverCidade.
 
Além de atender a população mais pobre das zonas norte e oeste da cidade, o Centro Universitário da Cidade caracterizou-se, ao longo dos anos 80 e 90, por ter albergado entre os seus pesquisadores eminentes figuras do pensamento conservador, como Paulo Mercadante e Olavo de Carvalho. A instituição passou a desenvolver amplo trabalho editorial, tendo sido publicados títulos de autores liberais como José Osvaldo de Meira Penna ou clássicos do pensamento liberal-conservador como Alexis de Tocqueville, abrindo, assim, em espaço de livre debate em face do pensamento marxista preponderante nas Universidades públicas.
 
O PT tem memória de elefante e não deixou passar em branco o fato de a Gama Filho e a UniverCidade terem optado, em décadas passadas, por defender idéias liberais e conservadoras e por terem enveredado pelo estudo crítico do pensamento luso-brasileiro. Não perdoa, tampouco, que ambas as instituições tenham demonstrado independência em face do marxismo que grassa nas Universidades públicas. Diante das dificuldades pelas que passa, nos atuais momentos, o Grupo Galileo que é o gestor das duas instituições, o ministro Aloízio Mercadante não pestanejou em punir as duas Universidades com o descredenciamento total. Ora, se passar por dificuldades financeiras é motivo para essa punição, o bravo ministro deveria ter fechado, também, as 14 Universidades criadas por Lula, todas elas com graves problemas financeiros causados pelo mau planejamento dos burocratas incompetentes. Houve, evidentemente, o plano de desmoralizar a iniciativa privada, de um lado e, de outro, de punir aqueles que, mesmo no passado, ousaram peitar, com pluralismo, as opções marxistas hoje tão em voga.
 
Um detalhe sórdido de toda essa política fascistoide: antes de punir com o fechamento total as duas instituições atrás mencionadas, os petistas “roeram o osso” até o final, aproveitando para se saciarem, como hienas, com a carne das duas Universidades que receberiam, logo depois, dos petralhas, o tiro de misericórdia. A Revista Veja, em 22 de Janeiro passado, noticiava o seguinte: “Marcio André Mendes Costa, de 42 anos, é um advogado bem relacionado. Até o fim de 2012, ele era oficialmente o dono do grupo Galileo e controlador das Universidades Gama Filho e UniverCidade (…) entre as maiores instituições privadas do Rio de Janeiro. Nessa condição, contratou como professores dois amigos, os ministros do Supremo Tribunal Federal José Dias Toffoli e Ricardo Lewandoswski. Eles iam de Brasília ao Rio às sextas-feiras para dar aulas, algumas vezes de jatinho pago pelo grupo. A amizade era tanta que Costa chegou a fazer outro contrato de 1 milhão de reais com os ministros para montar um curso a distância que nunca foi oferecido. Enquanto os ministros recebiam tratamento vip, as duas instituições se afundavam em dívidas e a qualidade dos cursos piorava. Sindicalistas ligados à Gama Filho chegaram até ir a Brasília entregar ao ministro de Educação, Aloízio Mercadante, um dossiê contra Costa. Mas o ministro mandou só um recado para que voltassem outro dia. Nunca os recebeu (…)”. [20]
 
Estivéssemos num país civilizado, em lugar de punir centos de alunos e funcionários com o fechamento total, o MEC poderia ter acionado o Ministério Público e o Congresso para que tomassem as devidas providências legais em face dos fatos que acabam de ser mencionados, punindo com o rigor da lei dois Magistrados da Suprema Corte que não souberam respeitar a toga por eles vestida e um gestor irresponsável de duas instituições que tinham um passado respeitável.
 
 
Leia o artigo na íntegra em: 
http://pensadordelamancha.blogspot.com.br/2014/02/um-caso-tipico-de-voo-de-galinha-as.html
 
N.E.: grifos nossos
 

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Ligia Filgueiras

Ligia Filgueiras

Jornalista, Bacharel em Publicidade e Propaganda (UFRJ). Colaboradora do IL desde 1991, atuando em fundraising, marketing, edição de newsletters, do primeiro site e primeiros blogs do IL. Tradutora do IL.

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