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O vôo da Galinha Caipira

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A parada forçada pela Copa do Mundo, os estoques em alta e a desconfiança do empresário levaram a indústria a uma queda acentuada em junho. No mês, a produção industrial recuou 1,4%. Na comparação com junho de 2013, indústria registrou recuo de 6,9%, no pior resultado nessa relação desde 2009, quando a produção foi duramente afetada pela crise econômica mundial.

Segmento mais sensível ao humor do empresariado, o setor de bens de capital caiu 9,7%, na comparação com maio e 21,1% na comparação com junho de 2013.  A compra de máquinas e equipamentos é reflexo direto da confiança do empresário com o futuro da economia, e a queda nesse quesito mostra a desconfiança do grupo. Dos 24 ramos acompanhados pelo IBGE, a indústria perdeu produção em 18.

Costumo comparar a economia brasileira em geral – e o setor industrial em particular – a uma galinha.  Contra todas as dificuldades, todos os obstáculos, todos os percalços, a nossa “Galinha Caipira” vem tentando, ao longo dos últimos anos, alçar um voo alto e contínuo, mas sempre acaba se esborrachando no chão, coitada.  Apesar de suas asas atrofiadas e de seu peso desproporcional, entretanto, nossa heroína, como boa brasileira, não desiste nunca.  Mais uma vez, a coitadinha teve de pousar prematuramente.  Espatifou-se, por assim dizer, a infeliz.  Depois de um fabuloso esforço para manter-se no ar em 2013, era previsível essa queda em 2014, afinal a sua fisiologia pouco aerodinâmica e o seu péssimo preparo físico não ajudam na árdua empreitada.

Malgrado a óbvia impossibilidade fisiológica, algumas teorias tem sido criadas ao longo dos anos para explicar os curtos voos de nossa heroína. Uns alegam o de sempre: a maldita taxa de juros do Banco Central, “que só beneficia banqueiros e rentistas”.  Outros culpam a falta de ajuda governamental.  Alguns mencionaram a política cambial, que dificulta a concorrência com os produtos estrangeiros.

São todas desculpas pra lá de esfarrapadas, claro.  Ninguém, fora uns poucos comentaristas, se lembrou de ulular – com a devida vênia do grande Nelson Rodrigues – o óbvio: que a nossa brava heroína não consegue sustentar-se no ar justamente porque ela é só uma galinha.

O que os especialistas não mencionam é que nossa notável galinácea não voará enquanto não fizer uma dieta rigorosa, além de exercícios de musculação vigorosos, que a transformem, senão numa bela águia (com trocadilho), pelo menos numa ágil gaivota. Não há taxa de juros, por menor que seja, que a faça voar alto enquanto mantiverem essa carga (tributária) indecente e sem qualquer benefício pesando sobre as suas asas; enquanto continuarem cerceando sua liberdade de iniciativa com regulamentações espúrias e sem qualquer sentido; enquanto ela permanecer sufocada por uma burocracia ineficiente e corrupta; enquanto seus pés não forem liberados das amarras (trabalhistas e fiscais); enquanto a justiça do galinheiro não se tornar mais ágil; enquanto ela não estiver tranqüila de que os seus direitos de propriedade estão realmente garantidos; enquanto as leis não forem claras e a justiça previsível; enquanto não abrirem as portas do galinheiro para o exterior; enquanto os galos que mandam não se conscientizarem de que a inflação é o pior e o mais cruel de todos os impostos, pois penaliza principalmente as aves mais débeis; enquanto não acabarem com os privilégios de toda sorte; enquanto não se produzir um ambiente propício à livre iniciativa, aos negócios e ao desenvolvimento.

Chega de hipocrisia, de mentira, de desinformação, de superficialidade, de demagogia, de populismo. Não pensem que resolveremos todos os nossos problemas simplesmente baixando a taxa de juros ou mexendo no câmbio.  Precisamos de reformas estruturais profundas, que tornem o ambiente brasileiro propício ao empreendedorismo e aos investimentos.  Afinal, como bem disse o velho Einstein, fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar um resultado diferente nada mais é do que uma grande demonstração de insanidade.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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