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O sistema imunológico da nação

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protestoimpeachmentNão tivemos muito tempo para lamentar. Pouco depois da frustrante vitória de Dilma no domingo, 26 de outubro, abalando nossas esperanças por um Brasil mais livre e em que os valores de uma ordem liberal fossem mais respeitados, uma nova dose de ânimo se manifestou na terça-feira seguinte, na Câmara e no tom usado nas declarações de vários membros da oposição.

A pátria de José Bonifácio, Joaquim Nabuco, D. Pedro II, Rio Branco, Rui Barbosa, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Roberto Campos e similares não seria convertida em um colosso bolivariano sem que seu sistema imunológico reagisse. Reagiram as forças democráticas, no seio do próprio povo, e o seu clamor se fez ouvir por políticos e partidos – ainda que eles estejam longe de desfraldar as bandeiras que consideramos ideais e não se aproximem, hoje, da grandeza dos nomes elencados acima. É o que temos. E, no momento, é do que precisamos, com urgência. Não poderíamos deixar, então, de elogiar essa atitude de coragem e valentia em enfrentar as investidas do governo e proteger as instituições.

Aloysio Nunes, vice na chapa da candidatura de Aécio Neves à presidência, sinalizou na direção que estávamos cobrando, ao deixar claro que a proposta de “união nacional” feita por Dilma, em seu discurso demagógico, não seria aceita. Sem deixar margem a dúvidas, ele pontuou que as campanhas de difamação e propagação de mentiras nas redes sociais não seriam esquecidas, e que “quem faz isso não tem autoridade moral para pedir diálogo”.

Não deixou de responsabilizar diretamente a presidente Dilma Roussef. “Não diga a candidata Dilma que não sabia o que estava acontecendo. Todo mundo percebia as insinuações que fazia nos debates e os coros nos debates sociais, dizendo que o Aécio batia em mulheres, era drogado”. Aloysio disse ainda que não vê motivos para diminuir a intensidade da oposição e que Dilma “não tem direito à lua de mel que todo governante recém-eleito tem quando tem novo mandato”. Sentencia: “ela não terá trégua de nossa parte”.

Está certíssimo o senador Aloysio Nunes. Aécio também se manifestou; depois do decepcionante discurso conciliador, curvando-se candidamente ao resultado das eleições, voltou atrás e divulgou vídeo nas redes sociais em que novamente denuncia o caráter criminoso da campanha petista e convida a oposição a não se dispersar. Queremos aqui bater palmas para essas posturas. O Brasil precisa de uma oposição combativa, laboriosa, que denuncie francamente todos os desatinos e desmandos da administração petista e que, sobretudo neste momento, cobre as investigações das ilegalidades na máquina pública – como o que ocorreu com os Correios em Minas Gerais e o escândalo da Petrobras.

Na Câmara, esse tom mais estridente da oposição, notoriamente sensibilizada pelo apelo dos 48 % que, com certeza, demonstraram nas urnas sua insatisfação com os rumos do país, se fez presente na votação que derrubou o famigerado decreto 8243 do PT, que cria os conselhos populares. Sem se fazerem de rogados, os parlamentares falaram em “bolivarianização”, “autoritarismo”, “sovietização” e tudo que estamos acostumados a encontrar em artigos e análises de jornalistas e teóricos liberais ou conservadores, mas não saindo da boca de nossos homens públicos. Arolde de Oliveira, do PSD, por exemplo, foi enfático ao comparar a imposição do governo federal com a concepção leninista na Revolução Russa e com os modelos implantados por nossos vizinhos latino-americanos. Com larguíssima vantagem, o governo foi derrotado. A matéria irá à votação no Senado ainda, mas já é possível prever que são pequenas as chances de o entendimento final ser diferente.

E quem disse isso foi o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, do PMDB. PMDB, da base aliada. Em excelente artigo desta semana no Instituto Liberal, Bernardo Santoro fala no PMDB como a atual versão do “poder moderador” em nossa Nova República. Trata-se de uma força de atraso, pouco honrosa, que mantém uma estrutura quase que de “senhores feudais” e políticos carreiristas, a quem não interessam reformas mais liberais economicamente, que dinamizem o Brasil, mas a quem igualmente não interessa uma conversão bolivariana radical. Presente em todos os governos, essa “doença crônica” em nossa democracia inibe os avanços mais intensos de enfermidades muito piores e mais drásticas, e acaba por, em efeito colateral, impedir a deterioração de nossas instituições. Paralelamente a isso, já se veem alguns discursos indicando que o partido ambicione a presidência em futuras eleições. Isso está incomodando o próprio PT; José Guimarães, vice-presidente nacional da estrela vermelha, talvez sem perceber muito bem o peso que suas palavras podem ter, queixou-se das “traições” do aliado, defendeu que a coalizão seja revista e chamou-a de “fardo pesado”(!).

Se as intenções são nobres ou não, pouco importa no momento. O fato é que o Congresso resiste, a oposição resiste, e até mesmo a “situação” peemedebista presta sua colaboração. A envergadura moral de certos nomes de outros tempos parece distante, mas o “sistema imunológico” está aí, e não deverá ceder. A democracia agradece.

Reclamam apenas aqueles que se consideram professores de democracia, mas parecem ter faltado a essa aula, como o deputado do PSOL, Jean Wyllys, que reclamou do resultado nas redes sociais. Já a nossa querida candidata psolista de estimação, Luciana Genro, se queixou do combate dos oposicionistas a outra investida mal-intencionada do governo, o plebiscito constituinte, alegando que “a direita tem medo do povo” porque não aceita um “plebiscito, instrumento básico da democracia”. Parece-nos, realmente, que essa turma de socialistas, que já nem sequer mais disfarça seu papel de “linha auxiliar” do PT, é que não entende o que é o sistema democrático representativo e não respeita a vontade do povo. Os candidatos da oposição representam o seu eleitorado, estão lá por escolha do povo, e o fato de, enfim, bradarem com mais vigor e ênfase contra as ações da “situação” não é nada além de uma demonstração de vitalidade de nossas instituições e de nosso Estado de direito, dando um recado muito claro que estávamos ansiosos por ouvir: não haverá rendição. Não vamos nos curvar. Eles que não esperem por moleza.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

3 comentários em “O sistema imunológico da nação

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    03/11/2014 em 1:58 pm
    Permalink

    O comentário abaixo, foi feito em julho de 2013, e publicado no meu Blog. Mas ao ler o comentário “O sistema imunológico da nação”, de Lucas Berlanza, de 02.11.2014, acredito que ele caiba perfeitamente para o momento atual. Então resolvi publicá-lo no Blog do Instituto Liberal. Espero que os senhores o publique.

    Senhores líderes do PMDB, os senhores nunca tiveram uma oportunidade tão auspiciosa como a que se apresenta no momento político brasileiro, para deixarem de ser os eternos coadjuvantes, e passarem à ser os verdadeiros atores da nossa política. Aproveitem esta oportunidade ímpar, e façam uma reflexão séria, sobre todo o mal que vocês ajudaram o PT a causar ao povo brasileiro. Invertam a ordem nesta política sórdida que se pratica hoje. É simples: Debandem, e procurem trazer com vocês o máximo de Deputados que puderem. Façam uma declaração de arrependimento à Nação, sobre todos erros que vocês já cometeram, ou contribuíram para que fossem cometidos. Deem uma lição de humildade e de Democracia, que o povo os perdoarão. Juntem-se aos justos. Selecionem aqueles que já provaram possuir uma conduta ilibada. E comessem a construção de um novo Brasil. Um Brasil onde prevaleça os princípios da ética e da moral. Defenestrem todos os que pensam diferente. Aqueles que continuarem com pensamentos de domínio sobre o povo, usando de artimanhas já conhecidas, onde sempre prevaleceu a mentira, coloque-os no Aero Lula, e distribua-os nos países que eles tanto admiram.

    Segue o texto original:

    Quem pensa que o PMDB não sabe a força que tem, esta redondamente enganado. O PT canta de galo, achando que está tudo dominado. Acredita que os chamados partidos da base aliada estão, e estarão sob seu domínio eternamente. Ledo engano. Os pequenos partidos são dominados por mercenários políticos, que vendem até a alma, em troca de uma “boquinha” no governo de plantão. O PMDB, que poderia ser o maior partido de oposição neste país, preferiu não desperdiçar as próprias energias, e vive nababescamente deitado no colo do PT, e comendo na mão do Rei Lulambança. Mas como não há bem que dure para sempre, e nem mal que nunca se acabe, um dia chegará, em que este estado de coisas precisará ser mudado, e será. O PMDB vem engabelando o PT, desde que o Rei Lulambança assumiu o seu primeiro mandato. Despreparado para o cargo, achou que se poderia dirigir um país das dimensões do Brasil, na base da malandragem, da falácia, de metáforas já surradas pelo uso, e do conhecimento mundano adquirido nas rodas de amigos de farras. O PMDB, velho de guerra, bem mais antigo na praça, e dominando a arte da política rasteira, achou por bem terceirizar o PT, e viver sem grandes riscos políticos para a sua legenda. Se fizermos uma retrospectiva da aliança PT, PMDB, veremos que tudo que o PMDB planejou tirar de proveito desta união, conseguiu. Vejam que bem recentemente o Rei Lulambança quis escantear o Michel Temer, para colocar em seu lugar, na disputa de 2014, o governador de Pernambuco Eduardo Campos. O PMDB segurou as rédeas com mãos firmes, e fez o Rei Lulambança voltar atras, e até declarar publicamente que PT e PMDB estão mais unidos do que nó cego. O dia chegara, em que tudo for posto em pratos limpos, quando a mascara do Rei Lulambança cair, e os falsos amigos, aproveitadores, se afastarem do Rei, e ele começar a cair no ostracismo, então chegará a hora do PMDB deixar de ser coadjuvante, e passar a ser o ator principal. Não por merecimento, nem por méritos próprios, mas por ter conseguido se preservar, com a ajuda do PT, o maior (não o melhor) partido do Brasil. E ao PT, partido de um líder só, cujo personagem já está quase que com o prazo de validade vencido (vide média de vida dos brasileiros), assim que o seu líder for defenestrado, tenderá a fechar para balanço, e os seus mais conhecidos membros, partirão para a criação, individualista, de outros partidos. Como já o fizera o oportunista Kassab, e como esta tentando a outra oportunista Marina Silva. De uma coisa todos podem ter certeza: ” Os membros mais arrogantes do PT, depois que o único líder desaparecer, jamais conseguirão reviver os momentos de glória (ainda que aparente), que tiveram durante o reinado, maléfico ao povo brasileiro, do Rei Lulambança. Quem viver, verá.

  • Lucas Berlanza
    02/11/2014 em 5:45 pm
    Permalink

    Se você democraticamente elege o autoritarismo e a ânsia ditatorial (considerando-se que estas eleições não tenham sido fraudadas), então as forças que reagem a isso o fazem, sim, no propósito de defender as estruturas da própria democracia – no sentido de democracia representativa, não no sentido de democracia “direta e plena”.
    Respeito a opinião do amigo, mas não espere que eu escreva contra a democracia representativa, pois isto não farei.

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    02/11/2014 em 1:59 pm
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    Bobagem e grave erro falar algo que ponha a oposição aos lulismo ou biolivarianismo petista como “forças democráticas”. Força democratica é tudo que o socialismo petista conseguir impor à sociedade sob o território chamado brasil.
    Dilma, PT e seus aliados foram eleitos como MAIORIA DEMOCRÁTICA e TUDO que for proposto e aprovado pelos vencedores na democracia É DEMOCRATICO. Portanto, é uma frauide chamar a oposição ao socialismo bolivariano como “forças democráticas” quando são apenas forças de oposição minorit[árioas numa democracia. Ou seja, se o PT propuser o bolivarianismo e for implantado pelos vencedores das eleições democráticas, será DEMOCRATICO.

    Ou seja, o SOCIALISMO pode ser uma consequência da democracia. Se ele se sustentará dentro de uma democracia é outra questão e a Venezuela é um exemplo de sucesso socialista numa democracia eleitoreira.

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