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O que alguns “heróis brasileiros” tem em comum?

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Kaike Souza *

 

herói, mito ou homemQual a semelhança entre Getúlio Vargas, o governo militar (se fosse possível personificá-lo em apenas uma figura), Bolsonaro, Lula e  a presidente Dilma? Além do fato de terem sido presidentes do Brasil (com exceção do Bolsonaro) e terem incorrido em decisões políticas ruins, todos são vistos na figura de herói, supervalorizados e, em alguns casos, intocados.

Mas, o que explica essa irremediável tendência a fortes laços que os eleitores sentem pelo seu eleito? A lógica do sistema presidencialista nos dá uma pista. A figura de um indivíduo, eleito pela maioria (o milagre da democracia) virá para solucionar todos os problemas do seu antecessor, um indivíduo eleito pela maioria, e trazer progresso para o país.

É possível, assim, observar como o sistema presidencialista induz a idolatria. Porém, o caso de amor entre eleitores e políticos, no Brasil, está muito além do simples erro natural do presidencialismo.

A nossa república foi proclamada sem a iniciativa popular e nosso país em menos de 300 anos de república passou por 7 constituições diferentes, sendo algumas delas impostas sem a participação dos representantes do povo. Ainda, entre as instituições preferidas da sociedade brasileira, nas primeiras escolhas figuram as Forças Armadas, a Igreja Católica e o Ministério Público. Então, mais uma vez, lhes pergunto qual seria a semelhança entre elas. A resposta é que nenhuma possui um membro representante do povo, e todas possuem hierarquia vertical, com pouco espaço para ponderações de decisão superior.

Getúlio Vargas foi um dos mais amados ex-presidentes do país, reconhecido ainda hoje como pai dos pobres e primeiro político a lançar sua força política sobre a classe operária estabelecendo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Vargas instaurou uma ditadura fascista em 1937, denominada de Estado Novo, suspendendo direitos políticos, abolindo partidos e organizações civis. O Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais foram fechados, as casas de representatividade da sociedade civil foram fechadas e tudo como garantia para manter-se no poder, a qualquer custo.

Já a personificação do governo militar se explica pelo medo do temido comunismo que assolava a nação. Se essa premissa é verdadeira, ou não, não entrarei no mérito da discussão. Os avanços econômicos em alguns anos aconteceram após uma série de medidas protecionistas e de intervenção na economia por parte do governo militar. Caracterizando-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime.

Seguindo, Lula começou sua vida pública como sindicalista, lutava pela melhora de vida dos metalúrgicos. Na fábrica perdeu seu dedo, organizou passeatas e atos com milhares de pessoas no ABC paulista, aonde chegou a falar para mais de 60 mil metalúrgicos. Lula era o espelho da classe metalúrgica refletida na presidência da república, o poder de ascender e ocupar o lugar da elite burguesa. No atual momento, Lula possui dezenas de citações na operação Lava Jato, está sendo relacionado a vários esquemas de corrupção e desvio de dinheiro.

Dilma foi a grande sucessora de Lula, primeira mulher eleita presidente da República do Brasil, símbolo de força da mulher independente. Economista, “presidenta”. A despeito de sua formação, no entanto, tomou uma série de medidas econômicas lastimáveis e conseguiu, na metade do seu segundo mandato, destruir todos os avanços sociais e econômicos que seu antecessor defendeu conquistar e acusou a oposição de que, se eleita, causaria ao Brasil.

Dilma, até agora, não está envolvida em nenhum escândalo de corrupção. Pode ser suspeita, mas nenhuma prova pesa sobre ela como pesa sobre Lula. No entanto, Dilma levou o país a uma das maiores crises, senão a maior, que o país já enfrentou. O desastre administrativo, embora moralmente aceitável, por sermos todos suscetíveis a erros, é um ataque menos feroz do que a corrupção; a má administração causa um dano maior aos pobres, um dano que se percebe no desemprego, na inflação e no desastre da economia nacional.

Por fim, Bolsonaro ficou por último por razões óbvias. Diferente dos outros protagonistas, este ainda não teve o privilégio de ser escolhido como representante maior do povo, porém sua vida política já chega aos mais de 30 anos na Câmara dos Deputados. Bolsonaro é visto como um político diferenciado, que não se envolve com crimes de corrupção e ressalta os valores tradicionais da família. Porém, Bolsonaro possui uma personalidade forte, suas declarações por vezes se mostram carregadas de preconceito, sem papas na língua e como objeto de campanha a moralização do Brasil. O último grande ícone em destaque dessa seleção se mostra confuso em seu direcionamento político, pois se diz liberal, mas possui fortes raízes intervencionistas, tanto no âmbito econômico quanto no âmbito civil. Essas últimas escolhas mostram-se totalmente contras os valores liberais de liberdade individual.

Então para o que serviu essa análise destas personalidades? Tão somente demonstrar que as figuras míticas chamadas de políticos que são endeusados por seus seguidores não passam de célebres seres carnais, suscetíveis a erros e desmandos. E que, acima disto, eles utilizam-se da sua popularidade para legitimar suas impositivas questões políticas que restringem liberdades e impõem valores morais.

Quando acolhemos um político como herói e salvador estamos decretando que existe uma dicotomia irreversível, na qual a oposição é a inimiga e que toda e qualquer questão levantada por ela é, certamente, contrária aos valores reais e verdadeiros, ou seja, os valores do poderoso herói. Isso acaba por destruir totalmente a ideia primária de política, aquela não partidária, que consiste na matéria de discussão de questões da sociedade na qual todos fazem parte.

Como bem disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”. Com isso fica facilmente perceptível de que políticos ou governos populistas ou caricatos em demasia possuem uma forte tendência autoritária, e isso, acima de tudo, deve ser combatidos por nós, liberais e libertários, em vista de garantir a supremacia dos nossos lugares como indivíduos, pois, como diz Ayn Rand, “a menor minoria da Terra é o indivíduo”.

Para concluir, creio que devemos, cada vez mais, disponibilizar de menores atribuições aos governantes, paulatinamente, até que chegue o momento de que eles não se farão mais necessários. Não o caminho o oposto, o do endeusamento. A nossa luta é pela liberdade e nunca a encontraremos sob as asas de um político, não importa quão bem intencionado. É na quebra do contrato social que deixamos o patamar inferior de dependentes da classe política, que raramente representa os interesses daqueles que os investiram no mandato através do voto.

* Kaike Souza é graduando em direito pelo IBMEC RJ, colunista do site do EPL, colaborador no IPJ, fundador do Clube Autonomia, um novo projeto que está em crescimento no Rio, curioso pelas questões das políticas públicas, ciência política e economia política e filosofia do direito.

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