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O PT não precisa da nossa ajuda para ser “demonizado”

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Neste primeiro turno de 2018, a emergência no campo político-prático de pautas de teor liberal e conservador, oriundas daquilo que chamei, ao lado de muitos outros, de “nova direita” brasileira, tem suscitado, pela forma com que se dá, estresses e preocupações. Essas pautas estão diluídas entre mais de uma candidatura, de partidos diferentes, para os vários cargos da República, e isso tem estimulado alguns segmentos mais dogmáticos, intransigentes ou mesmo movidos por interesses mesquinhos não confessados, a promover verdadeiras sanhas persecutórias e difundir mentiras e ataques rasos e gratuitos dentro da própria direita.

Isso não começou agora; desde a consumação do impeachment, têm sido observados esses “efeitos de manada” para ataques conjuntos e essas retóricas seletivamente ferinas. Há grupos que efetivamente procuram infiltrar no debate do momento teorias perigosamente antiliberais, no sentido mesmo institucional do liberalismo, demonstrando desprezo pelo sistema representativo e liberdades individuais, tais como a religiosa. A título de exemplo, poderiam ser citados os desafetos que atacaram, até com expressões de baixíssimo calão, meu artigo contra a tese do “Estado católico”, em seus vídeos populares do Youtube.

Tudo isso tem de ser, ressalvadas a inevitabilidade das divergências internas e até a necessidade de aprendermos com elas, veementemente condenado, quando ultrapassa certos limites mínimos de civilidade. Apoio qualquer iniciativa nesse sentido. Contudo, o receio desses grupos e do impacto que possam vir a ter, que esperamos seja sempre reduzido, não nos deveria levar a, histericamente, acreditar que tudo que fizemos e pregamos nos últimos quatro ou cinco anos está perdido e que fomos tomados por fanáticos totalitários.

Essa conclusão que alguns amigos estão adotando me parece um grave equívoco e um erro de leitura. É incorrer por demais na narrativa social democrata de que não podemos deixar as eleições “se transformarem em um plebiscito movido pelo ódio e pelos extremos”. Estou convencido de que há quem esteja confundindo o acirramento de ânimos no período eleitoral, bem como algumas consequências esperadas de uma massificação das ideias e da demanda por uma reação às esquerdas, com uma decantação disruptiva e apocalíptica da sociedade, pela qual nós, que usamos a necessária retórica de dureza no quadro contemporâneo, seríamos tão responsáveis quanto os próceres do lulopetismo.

Não poderia discordar mais dessa linha de raciocínio. A direita não é responsável em absolutamente grau nenhum por qualquer clima de divisão exacerbada ou decantação social que se acredite estar pairando no ar. Ela é apenas uma reação tardia a uma hegemonia perturbadora que inevitavelmente não poderia subsistir para sempre.

Nos anos 50, a UDN detonava o varguismo da tribuna, Carlos Lacerda sofreu atentado, manifestações de rua estavam à beira da revolução e um presidente se suicidou. Nos anos 60, vivíamos a Guerra Fria, o presidente pregava abertamente contra a Constituição no Comício da Central e terminou deposto e substituído por um regime militar. É fato que costumamos resolver nossos conflitos históricos com menos derramamento de sangue, mas não posso deixar de pensar que há certo superdimensionamento do suposto caráter inédito da “polarização” nacional que alguns vêm apontando.

A memória recente do marasmo e da briga de comadres do pós-regime militar está contaminando o juízo desses analistas que dizem que precisamos refrear o tom de beligerância, “falar mais fino” e pregar o absoluto “consenso”, a “estabilidade”, a “tranquilidade”, perante o PT. É como se pecássemos em dizer o óbvio: que o PT é, sim, sem meias palavras, uma força maligna. A presença de divergências fundamentais (em português claro, a presença de uma direita) é o que parece estar realmente incomodando por demais alguns intelectuais mais santarrões.

Houvessem Churchill e Reagan, por exemplo, tratado o nazismo e o socialismo soviético como meros divergentes, contra quem não existisse um embate civilizacional e moral, e talvez os resultados que obteriam fossem bem diferentes do que aqueles que a História registra. Nossos liberais e conservadores podem e devem divergir, podem e devem denunciar radicalismos presentes em seu próprio seio, mas não deveriam agir como sociais democratas – caso contrário, para que existirmos, se não faremos diferença alguma, visto que a social democracia já predomina como fundamento mínimo das estruturas sociais, políticas e culturais brasileiras há décadas?

É preciso não perdermos o receio de proclamar: ainda estamos, e nunca deixamos de estar, em guerra contra o PT. A ascensão de Fernando Haddad nas intenções de voto, por mais que ponderemos nosso ceticismo perante as pesquisas oficiais, apenas ilustra a força do inimigo. O discurso do “ah, atenue essa retórica, somos apenas adversários!” só seria tolerável vindo de quem tivesse passado todos os últimos tempos em profunda hibernação.

Reproduzo o que disse Lacerda acerca de sua oposição a Vargas, ao afirmar, na Tribuna da Imprensa, que “a divisão não seria de opiniões e sim de concepções de vida, do Estado, da sociedade, da nação”. Permanece existindo no Brasil um conflito entre quem acredita que o país pode ser governado da cadeia, por uma organização totalitária e criminosa que o afundou para perseguir a perpetuação no poder, e quem se opõe a isso. Tal distinção vai muito além de uma mera diferença de opiniões e, portanto, por puro realismo e coerência com a situação concreta, precisa ser encarada com a firmeza e a energia devidas.

Tive que ler nos últimos dias que estamos sendo imprudentes ao “demonizar” o PT. O PT não precisa de ajuda para ser demonizado. Quem ainda acredita nisso, considerando até que votar em candidatos do PT no segundo turno é cogitável, realmente, se não estiver mergulhado em ignorância ou em lamentáveis idiossincrasias, só pode estar pensando em qualquer outra coisa que não o bem do Brasil.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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