O meio ambiente e a energia elétrica

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FRANCISCO LACOMBE *

Dois fatores contribuem para o aquecimento do Planeta: o ciclo natural da Terra e a queima de combustíveis fósseis.

A Terra no início das 4 estações (astronômicas) a partir do sul geográfico. Na extrema esquerda, o solstício de Junho.
A Terra no início das 4 estações.

A translação da Terra em torno do Sol se dá segundo uma elipse cujos eixos variam periodicamente de tamanho. Quando a elipse fica mais alongada, com aumento do eixo maior, ocorre uma era do gelo. Quando o eixo maior diminui e a curva de translação se aproxima de uma circunferência, o Planeta fica mais quente. Estamos próximos do ponto mais quente. Este ciclo dura mais de dez mil anos.

Além do aquecimento normal resultante deste ciclo, temos o efeito estufa, causado pela queima de combustíveis fósseis. Não se sabe com precisão qual a proporção de cada um dos dois fatores sobre o aquecimento.

O fato de uma parte provavelmente significativa do aquecimento ser resultante do ciclo natural do Planeta não significa que devamos deixar de lado a preocupação com o efeito estufa porque é somente sobre este que podemos atuar.

Uma das dificuldades para atenuar o efeito estufa é, ironicamente, a atuação dos ambientalistas, que não têm uma visão holística dos problemas: parece que usam viseiras, tal é a estreiteza da sua argumentação.

Vejamos o caso da geração de energia elétrica. Os ambientalistas combatem a construção de usinas hidrelétricas com reservatórios, alegando que a inundação de áreas para a formação dos lagos das barragens, em virtude da decomposição dos vegetais submersos, gera a liberação de gases que contribuem também para o efeito estufa e obriga a remoção de pessoas que habitam nas áreas inundadas.

Podemos responder ao primeiro argumento lembrando que a remoção quase completa do material orgânico antes do fechamento da barragem elimina este problema e mesmo no caso em que isto não é feito a liberação dos gases só ocorre nos primeiros anos de formação do lago. A remoção de pessoas, inevitável em alguns casos, deve ser obtida com as devidas compensações pelos transtornos e danos causados.

A grita contra os reservatórios chegou a tal ponto que estão praticamente descartadas as construções de barragens com reservatórios. No entanto, são exatamente esses reservatórios que equilibram o suprimento e a demanda de energia durante o período de estiagem. Não por acaso, o governo chama as grandes barragens no Planalto Central, construídas pelos governos anteriores, de ‘caixa d’água do País’.

É impossível armazenar energia elétrica. O que se pode armazenar é água em cotas elevadas. A construção de barragens a fio d’água ou com lagos pequenos obriga a complementação da geração de energia com usinas térmicas, poluindo a atmosfera e queimando combustíveis fósseis que vão contribuir para o efeito estufa. É isto que está ocorrendo no nosso país. Além disso, os reservatórios regularizam o fluxo de água a jusante do rio, evitando enchentes e secas. Contribuem também para a piscicultura.

As usinas nucleares, uma boa alternativa, também são combatidas sob a alegação de insegurança e dos inconvenientes dos resíduos resultantes, apesar do aumento considerável da segurança dessas usinas. Os resíduos podem ser enterrados em locais isolados e a segurança é, atualmente, muito satisfatória. Em trinta anos, houve apenas três acidentes de usinas nucleares em todo o Planeta, sendo dois (Three Mile Island e Chernobyl) em usinas antigas e com manutenção deficiente e o de Fukushima causado por um maremoto e tsunami de grau superior a 9 na escala Richter, que é uma escala logarítmica, portanto, 100.000 vezes maior do que o máximo que já tivemos no Brasil, que foi 4 na escala Richter! O Brasil está exatamente no meio de uma placa tectônica, onde não há terremotos. Finalmente, as usinas nucleares não contribuem para o efeito estufa e temos urânio e tório em quantidade no País.

As usinas eólicas são uma ótima opção, pois o desenvolvimento tecnológico viabilizou a geração dessa energia a um custo pouco superior ao das hidrelétricas e elas podem ser construídas mais próximas dos locais de consumo, diminuindo o custo da transmissão.

As usinas solares, defendidas pelos ecologistas, são, no estágio atual da tecnologia, muito caras. A energia aí gerada custa quase o dobro da que é obtida pelas usinas hidrelétricas. Devemos construir usinas solares para fins de pesquisa e aperfeiçoamento e domínio da tecnologia. Além disso, elas serão muito úteis no futuro quando a tecnologia evoluir, pois nenhum país tem uma área tão grande com um nível de insolação tão alto quanto o nosso, mas não podemos contar com esse tipo de geração de energia em grande escala no curto prazo.

O ideal seria voltarmos a construir usinas hidrelétricas com grandes reservatórios e complementar a geração com usinas eólicas e, eventualmente, algumas nucleares.

As usinas térmicas que queimam combustíveis fósseis deveriam ser a última opção, pois sua operação é caríssima, são altamente poluentes e contribuem para o efeito estufa. No entanto, têm sido muito usadas no passado recente em razão da inexistência dos lagos das hidrelétricas que forneceriam energia durante o período seco e não são construídos por causa da pressão dos ambientalistas.

Podemos concluir, portanto, que o maior empecilho para a diminuição da poluição atmosférica e do efeito estufa, no que diz respeito à geração de energia, é, ironicamente, a atuação dos ecologistas.

* PROFESSOR DE ADMINISTRAÇÃO
IMAGEM: WIKIPÉDIA

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