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O jornalismo no Brasil (parte III): um estudo sobre os gêneros jornalísticos

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Para ler a primeira parte da série, clique aqui. 

Para ler a segunda parte da série, clique aqui.

Como lemos no primeiro artigo da série, ocorre em partes da imprensa brasileira um erro no uso dos gêneros jornalísticos. Não obstante, o receptor, que não foi treinado para discernir os diferentes gêneros, fica a ver navios dentro do processo de comunicação.

É na perspectiva de esclarecer isso, portanto, que traçamos este estudo. De forma científica, vamos usar referências de pesquisa em jornalismo para desdobrar os gêneros e seus subgêneros.

O estudo dos gêneros textuais tem origem com Platão (428 – 348 a.C) e Aristóteles (385 – 323 a.C), no período clássico da Grécia antiga. Com eles, podemos afirmar  que “os gêneros refletiam sobre a identidade dos textos, portanto, deram as distinções entre poesia, prosa, tragédia, comédia e outros tipos de discursos”.

Já Felipe Pena (2005) credita a Platão a classificação proposta com a relação entre realidade e literatura, com a seguinte divisão de discurso: mimético, expositivo ou misto. O autor analisa, de forma simples, a questão de gênero, afirmando que são “ordenações e classificações”. De acordo com sua  definição, “seu objetivo [gênero] é fornecer um mapa para a análise das estratégias do discurso, tipologias, funções, utilidades e outras categorias” (p. 66).

O editor inglês Samuel Buckeley, de acordo com Pena, foi pioneiro na busca pela classificação dos gêneros no jornalismo (apesar da complexidade do tema), quando, em meados do século XVIII, resolveu “separar o conteúdo do Jornal Daily Courant” em notícias e comentários”.

No Brasil, a partir da década de 1960, Luiz Beltrão propulsiona os estudos sobre os gêneros jornalísticos, com três clássicos do assunto: A Imprensa Informativa (1969), Jornalismo Interpretativo (1976) e Jornalismo Opinativo (1980).. Outro especialista no assunto foi José Marques de Melo, com a obra Gêneros Jornalísticos no Brasil, que se tornou referência no estudo dos gêneros.

Em Marques de Melo temos a seguinte definição:

Um conjunto de parâmetros textuais selecionados em função de uma situação de interação e de expectativa dos agentes do fazer jornalístico, estruturado por um ou mais propósitos comunicativos que resulta em unidades textuais autônomas, relativamente estáveis, identificáveis no todo do processo social de transmissão de informações por meio de uma mídia/suporte (MARQUES DE MELO, 2013).

Muitos consumidores de conteúdo associam o jornalismo somente às notícias. Entretanto, não é somente delas que é constituído o jornalismo. Geralmente, em cada edição jornais, telejornais e de programas de radiojornalismo há um espaço para reflexão, aprofundamento dos assuntos, troca de ideias e debate de opiniões. Nesse sentido, entendemos que a notícia diz respeito ao dia a dia, contudo, outros gêneros jornalísticos expandem os fatos relatados, de acordo com José Jorge Letria e José Goulão (1986, p. 79).

Agora, vamos descrever os gêneros jornalísticos, que são divididos em 5 categorias: informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário, de acordo com Marques de Melo (2003).

JORNALISMO INFORMATIVO: o objetivo principal do jornalismo é a informação. Assim, o jornalismo informativo constitui-se no “relato puro e simples de fatos pertencentes ao presente imediato ou ao passado socialmente significativo” (BELTRÃO, 1980, p.29).

Já Lailton Alves da Costa (2003) cita Marques de Melo (2003) para definir as características do gênero informativo da seguinte forma:

O gênero informativo, portanto, é o resultado da articulação que existe, do ponto de vista processual, entre os acontecimentos reais que eclodem na realidade e sua expressão jornalística por meio do relato que visa a informar o receptor do que se passa nessa realidade (MARQUES DE MELO, 2003 apud COSTA,2003, p. 63 a 65).

Em seu artigo Gênero Informativo, Laura Conde Tresca classifica o jornalismo informativo em quatro categorias (nota, notícia, reportagem e entrevista), citando Marques de Melo (2003):

A distinção entre a nota, a notícia e a reportagem está exatamente na progressão dos acontecimentos, sua captação pela instituição jornalística e acessibilidade de que goza o público. A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e por isso é mais frequente no rádio e na televisão. A notícia é um relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que já são percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade.

Nesse sentido, desdobramos cada um dos subgêneros que compõem o jornalismo informativo, usando Costa e Marques de Melo (2003):

Nota: é o “relato de algum acontecimento que está em processo de configuração”, segundo Marques de Melo, ou o início de um fato ou acontecimento que pode virar notícia. Geralmente, se trata de algum “furo” jornalístico e, posteriormente, pode ser desdobrado e ampliado (COSTA, 2013, p.55).

Assim, entendemos que, no impresso, a nota tem formato e tamanho inferior à notícia, com menos caracteres, geralmente em um parágrafo, não necessariamente com composição do lide jornalístico, pois está em processo inicial e, às vezes, não estão disponíveis todos os elementos para composição do lide. De modo semelhante, ocorre nos telejornais.

Notícia: o suporte para todos os gêneros jornalísticos é a notícia. “As notícias são a ligação direta dos jornais do cotidiano; outros gêneros jornalísticos existem que vão mais além: indicam os fios condutores que permitem a relação de fatos sem ligação visível” (LETRIA; GOULÃO, 1986, p. 79).

Já Nilson Lage traz a seguinte definição de notícia:

Do ponto de vista de estrutura, a notícia se define, no jornalismo moderno, como um relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante. Essa definição pode ser considerada por uma série de aspectos. Em primeiro lugar, indica que não se trata exatamente de narrar os acontecimentos, mas de expô-los (1993, p. 16).

Segundo Beltrão, “notícia é a narração dos últimos fatos ocorridos ou com possibilidade de ocorrer, em qualquer campo de atividade e que, no julgamento do jornalista, interessam ou têm importância para o público a que se dirigem”. O autor define como atributos da notícia os seguintes elementos: “imediatismo, veracidade, universalismo, interesse e importância”, além de classificá-la como previsível e imprevisível. (BELTRÃO, 1969, p. 82).

A notícia é o pilar principal do jornalismo e a veracidade um dos pilares da notícia. O estudioso Juarez Bahia afirma que a notícia é o “objeto e o fim” do jornalismo. Ou seja, no jornalismo tudo passa pela notícia, pois é nas redações dos jornais e meios de comunicação que ela “adquire conteúdo e forma, expressão e movimento, significado e dinâmica para fixar ou perenizar um acontecimento, ou para torná-lo acessível a qualquer pessoa”. Assim, o jornalismo constitui-se como “difusor” da notícia (1990, p.35-36).

Reportagem: José Marques de Melo descreve que a “reportagem é o relato ampliado de acontecimento que produziu impacto no organismo social”. Em outras palavras, a reportagem é a busca do aprofundamento dos fatos, com exposição de detalhes do assunto de interesse público. (COSTA, 2003, p. 55)

Já Nilson Lage faz a distinção entre notícia e reportagem:

A distância entre reportagem e notícia estabelece-se, na prática, a partir da pauta, isto é, do projeto de texto. Para as notícias, as pautas são apenas indicações de fatos programados, da continuação de eventos já ocorridos e dos quais se espera desdobramento. No restante, os sistemas de captação de notícias mantém contato permanente com os setores que registram primeiro acontecimentos de interesse público, desde o parlamento até a delegacia de polícia. Reportagens supõem outro nível de planejamento. Os assuntos estão sempre disponíveis e podem ou não ser atualizados por um acontecimento. Faz-se reportagem sobre a situação da classe operária, a propósito de uma onda de greves ou sem qualquer motivo especial. A pauta deve indicar de que maneira o assunto será abordado, que tipo e quantas ilustrações, o tempo de apuração, os deslocamentos da equipe, o tamanho e até o estilo da matéria; para tudo isso, é preciso dispor de dados (1993, p. 47).

Lage explica que, enquanto a notícia é trabalhada mediante fatos, a reportagem “trata de assuntos”, sendo elaborada de forma “planejada”, com enfoque e obedecendo à linha editorial do veículo. Contudo, a reportagem tem outros aspectos que a diferenciam da notícia, como um “estilo menos rígido”, variando conforme o veículo e público, e com linguagem “mais leve”, com técnicas que humanizam as histórias (1993 pág.47-51).

O repórter é visto como uma “testemunha ou um investigador”, de acordo com Philippe Gaillard. Segundo o autor, o repórter “assiste aos acontecimentos previstos e se esforça por estabelecer a sucessão dos fatos de um acontecimento fortuito”, além de ser um “jornalista enviado a um lugar para ver, ouvir, sentir, anotar e, finalmente, relatar o acontecimento” (1971, p. 49-50).

Parra o repórter ser uma testemunha dos acontecimentos, ele precisa estar fora da redação, ou seja, na rua, onde os fatos acontecem. Assim, com a experiência própria da vida de reportagem, o jornalista e autor Ricardo Kotscho descreve a missão do repórter:: “Contar tudo o que aconteceu, não parando de garimpar a informação enquanto ele próprio não estiver absolutamente seguro sobre todos os fatos que colocará no papel” (1989, p. 25).

Entrevista: no sentido técnico, podemos afirmar que a entrevista é constituída por relatos de determinadas pessoas, sendo uma ou mais, com mediação de um repórter. Com isso, a entrevista é função essencial no papel da atividade jornalística (MARQUES DE MELO, 2006).

Enquanto isso, Cremilda Medina sustenta que “a entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais”. Segundo a autora, a entrevista abre espaço às diferentes vozes da sociedade, democratizando o processo de informação. Medina (2008, p.8) sintetiza a entrevista em dois momentos: 1) Especularização do entrevistado, que é subdividida em quatro subgêneros: “Perfil pitoresco”, “perfil do inusitado”, “perfil da condenação” e “perfil da ironia intelectualizada”; 2) Objetivo de compreensão do entrevistado, que é dividido em cinco subgêneros: “Entrevista conceitual”, “entrevista/enquete”, “entrevista investigativa”, “confrontação” e, por último, “perfil humanizado” (2008, p. 15-18).

Além disso, conforme Edgar Morin, tem-se uma enumeração de quatro tipos de entrevista: entrevista rito, que é o ato de obter uma palavra, entrevista anedótica, que é a entrevista descontraída e de conversações frívolas, entrevista-diálogo, que é um diálogo com colaboração entre o entrevistador e o entrevistado em busca de uma verdade, e as neoconfissões, que têm “profundidade na psicologia social” (MORIN apud MEDINA, 2008, p. 15).

Luiz Amaral, por sua vez, define entrevista, no sentido de linguagem jornalística, como “encontro com alguma pessoa com a finalidade de interrogá-la sobre seus atos e ideias, e o conjunto das declarações com autorização implícita ou formal para publicá-las”. O autor classifica a entrevista em três tipos: noticiosa, opinativa e atualidade. (1986, p. 125).

Gaillard, no entanto, divide a entrevista em apenas duas categorias: na primeira, o objetivo é “obter do entrevistado informações sobre um assunto em que ele é especialista; na segunda, trata-se de conhecer a personalidade do entrevistado” (1971, p. 75).

No jornalismo televisivo, um exemplo de entrevista é o Conversa com Bial, embora este tenha um perfil também voltado ao entretenimento.

JORNALISMO OPINATIVO: em tempos de difusão das redes sociais, a opinião do receptor tem seu espaço cada vez mais ampliado e passa a bater de frente ou ter familiaridade com a opinião emitida pelo jornalista. No sentido geral, define-se opinião como “função psicológica pela qual o ser humano, informado de ideias, fatos ou situações conflitantes, exprime a respeito seu juízo” (BELTRÃO, 1980, p. 14).

Quando se trata de jornalismo opinativo, podemos afirmar que esse gênero surge com o próprio jornalismo brasileiro, sob a responsabilidade de Hipólito Costa, que editava em Londres o Correio Braziliense (1º de junho de 1808).

Os textos de opinião quase sempre partem de algum acontecimento que virou notícia. Assim, entendemos que pode-se manifestar opinião em texto, por exemplo, após o impeachment de um presidente da República, após algum escândalo político, após alguma notícia de impacto na sociedade ou na comunidade local, sobre esporte, sociedade ou sobre qualquer assunto que se tornou notícia, com mais ou menos relevância. O jornalismo opinativo, nesse sentido, também abre espaço aos leitores, podendo orientá-los:

O jornal tem o dever de exercitar a opinião: ela é que valoriza e engrandece a atividade profissional, pois, quando expressa com honestidade e dignidade, com a reta intenção de orientar o leitor, sem tergiversar ou violentar a sacralidade das ocorrências, se torna fator importante na opção da comunidade pelo mais seguro caminho à obtenção do bem-estar e da harmonia social (BELTRÃO, 1980, p. 89, apud SOUZA, 2013, p. 6).

Segundo Marques de Melo (2006), são oito os formatos de jornalismo opinativo: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e carta, que são apresentados a seguir.

Editorial: as décadas de 1950 e 1960 e seu processo de modernização foram determinantes para um marco no jornalismo brasileiro: a distinção das funções noticiosa e opinativa, de acordo com Bahia (1990).

O editorial nada mais é do que a voz de determinado veículo ou empresa, a partir de fatos que repercutem, de acordo com Marques de Melo, que segue descrevendo:

Opinião das forças que mantém a instituição jornalística (proprietários, jornalistas, acionistas, anunciantes, leitores). Sinaliza à opinião pública, pretendendo nela influir. Predominante nos jornais, perde intensidade nas revistas, figurando episodicamente no rádio e na televisão e ressurge na internet).

Juarez Bahia atribui a origem do editorial nos jornais à necessidade de valorização da opinião, com influência dos modelos usados nos Estados Unidos e na Inglaterra. Segundo o autor, “tecnicamente esse conceito de página editorial visa não só separar a notícia da opinião como dar significação jornalística e gráfica ao pensamento oficial do veículo” (1990, p.106).

Comentário: o comentário tem origem no jornalismo norte-americano, com jornalistas de prestígio e “nome, explicando as notícias, circunstâncias e suas consequências”, sem, necessariamente, expor opinião de maneira explícita (MARQUES DE MELO).

No Brasil, os telejornais e programas de rádio se destacam, tradicionalmente, nesse assunto, com inserções de comentaristas de diversos segmentos, como política, esportes e economia, durante a exibição dos programas. Cito aqui Diego Casagrande (Band RS) e Rodrigo Constantino (Jovem Pan) como exemplos.

Artigo: Costa (2013) define artigo como sendo o espaço onde jornalistas e leitores, ou cidadãos, podem emitir suas ideias e opiniões, e esse espaço “democratiza a opinião no jornalismo, possibilitando o seu acesso às lideranças emergentes na sociedade” (MARQUES DE MELO, 2006, apud COSTA, 2013, p.64).

Letria e Goulão também afirmam que o artigo de opinião é um espaço apropriado para a “troca de experiências, o debate de ideias e a própria formação política, técnica e cultural dos leitores” (1986, p. 85).

Com isso, entendemos que o artigo é um espaço idiossincrático, de responsabilidade própria, em que aquele que escreve deve ter autonomia e conhecimento suficiente para obter êxito, impactando de forma positiva o público leitor, dentro do objetivo geral da contribuição em que se propõe a realizar.

Resenha: esta tem como objetivo orientar o leitor, ou espectador/consumidor, através de crítica a determinadas obras de teatro, cinema, literatura e outros produtos culturais. Marques de Melo (2006) define:

A apreciação das obras de arte ou dos produtos culturais, com a finalidade de orientar a ação dos consumidores. Não tem a intenção de oferecer julgamento estético. Tem função eminentemente utilitária. Ao mesmo tempo em que sinaliza aos consumidores, dialoga com os produtores, oferecendo pistas para os autores, diretores, atores. Formato que abrange toda a mídia, da imprensa ao rádio e à televisão, expandindo-se também na internet.

Luiz Amaral (1986) sustenta que a “crítica desempenha um trabalho de divulgação cultural no sentido de que tenta orientar o leitor dentro do complexo mundo de peças, filmes e programas”. Segundo o autor, a ação proporciona aos interessados uma clareza de conteúdo, diante dos assuntos e temas abordados pelos produtos. (1986, p. 103).

Crônica: na crônica, os fatos podem ser ponto de partida. A partir deles, o autor “dá vazão aos seus sentimentos e, com absoluta legitimidade, pode entrar no domínio da ficção, numa mistura do real com o imaginário”. Este é o gênero jornalístico mais próximo dos gêneros literários clássicos. Segundo os autores, as crônicas podem manifestar um estilo artístico, com “criação estética, mas sempre fazendo referências à realidade”; assim, geram identificação dos leitores com os jornais “através do humor, da ironia, do elogio emocionado e de todas as formas de expressar os sentimentos” (LETRIA; GOULÃO, 1986, p. 85 e 86).

Coluna: é um espaço destinado a alguém que escreve diariamente, semanalmente ou de forma periódica nos jornais e revistas. Geralmente, assinam de forma definitiva. Coluna, portanto, é definida por Marques de Melo da seguinte forma:

Mosaico estruturado por unidades curtíssimas de informação e de opinião, caracterizando-se pela agilidade e pela abrangência. Cumpre uma função que foi peculiar ao jornalismo impresso antes do rádio e da televisão: o furo. Tem como espaço privilegiado os bastidores da notícia, descobrindo fatos que estão por acontecer, pinçando opiniões que ainda não se expressaram ou exercendo um trabalho sutil de orientação da opinião pública. Aparentemente tem caráter informativo, mas na prática é uma seção que emite juízos de valor, com sutileza ou de modo ostensivo (MARQUES DE MELO, 2006, apud COSTA, 2013, p.65).

Como exemplo desse subgênero do jornalismo, podemos usar os talentosos colunistas do Instituto Liberal.

Carta: sendo o espaço destinado aos leitores, a carta revela a opinião do leitor. Constitui o primeiro formato a possibilitar a expressão da audiência.  Já, de acordo com Marques de Melo (2006), como “território democrático”, a carta é um “espaço facultado aos cidadãos para que expressem seus pontos de vista, suas reivindicações, sua emoção. Pretende romper a barreira que existe entre leitor e editor, produtor e consumidor”.

Caricatura: sobre caricatura, Marques de Melo (2006) traz a seguinte definição:

Forma de ilustração que a imprensa absorve com sentido nitidamente opinativo. Sua origem semântica corresponde a ridicularizar, satirizar, criticar. Pode ser exercitada também sob a forma de texto humorístico. Os caricaturistas atuam como a consciência crítica da sociedade, revelando uma tendência nitidamente oposicionista. Predomina na imprensa, mas floresce também na televisão, expandindo-se na internet.

Todavia, a caricatura não é restrita às características físicas do personagem, pois está relacionada a aspectos referentes à personalidade e ao cotidiano de quem se pretende representar por meio dela. As caricaturas são baseadas em determinados personagens, geralmente públicos.

JORNALISMO INTERPRETATIVO: a função primordial do jornalismo interpretativo é avançar no desdobramento dos fatos de uma informação e interpretá-los. A interpretação é “tradicionalmente associada à reportagem”.

De acordo com Marques de Melo (2006ª), o gênero jornalismo interpretativo é apresentado nos formatos de dossiê, perfil, enquete e cronologia. No entanto, o estudo desse gênero e suas subdivisões é motivo de reflexões e discussões, como o dossiê, a enquete e a cronologia, carentes de uma melhor definição. A enquete, por exemplo, segundo Beltrão (1980), dá margem ao entendimento de se tratar de um subgênero da entrevista.

Feitas as observações, seguimos agora com a definição dos subgêneros que compõem o gênero interpretativo.

Dossiê: na definição de José Marques de Melo, o dossiê aparece em formato de “mosaico”. Com intenção de proporcionar um melhor entender dos fatos e das notícias. De acordo com o autor, é uma “condensação de dados sob a forma de boxes, ilustrados com gráficos, mapas ou tabelas. Trata-se de matéria destinada a complementar as narrativas principais de uma edição ou para celebrar efemérides”.

Outros autores citam a análise no lugar do dossiê na classificação do gênero interpretativo, como Antônio López Hidalgo, que a define como “gênero legitimado”, atuando de forma idiossincrática.

A Folha de São Paulo menciona em seu manual o formato análise de notícia, situando-a num espaço entre a crônica, a crítica ou comentário e a notícia. De acordo com o manual, a análise deve ter seu objeto muito bem definido, reunindo dados seguros, com reflexos na vida pública e nos leitores. (MANUAL, 2001, p.31)

Perfil: o formato deste gênero tem como principal aspecto o ato de narrar a vida das pessoas. Com isso, entendemos que a reportagem pode passar por um processo de humanização. (COSTA, 2013, pág. 66-67).

O perfil é um dos subgêneros mais fáceis de ser identificado. De acordo com a classificação de Marques de Melo, é definido como “relato biográfico sintético” que identifica os agentes noticiosos. “Focaliza os protagonistas mais frequentes da cena jornalística, incluindo figuras que adquirem notoriedade ocasional”.

Enquete: a enquete pode ser entendida como uma ferramenta de captação de opinião pública ou de determinado segmento ou classe a que se tem interesse de consultar sobre algum assunto específico. Considerando a classificação de Marques de Melo, a enquete aparece como “relato das narrativas ou ponto de vista de cidadãos aleatoriamente escolhidos – podendo ser definidos como “cidadãos comuns”.

Cronologia: a função desse subgênero é complementar e resgatar informações, mediante reconstituição de acontecimentos. Assim, serve como um facilitador de compreensão para os leitores, atuando de maneira ilustrativa, buscando fatos do tempo, de acordo com Marques de Melo  (2013).

JORNALISMO UTILITÁRIO: conforme Marques de Melo (2007), citado no artigo Gênero Utilitário: Presença nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, da jornalista Tyciane Viana Vaz, o gênero utilitário inicia no final do século XX. Esse processo é de maior intensidade nas sociedades de consumo. Esse gênero jornalístico “surge no limiar da sociedade da informação, cujo funcionamento repousa na tomada de decisões rápidas no mundo financeiro, projetando-se também na vida cotidiana”. Uma das principais características é a atualidade, porém sem novidades. (MARQUES DE MELO, 2007, apud VAZ, 2008, p. 5).

O jornalismo utilitário aparece com a função de “serviço”. Manuel Chaparro (1998) classifica esse gênero como “roteiros, indicadores, agendamentos, previsão do tempo, cartas-consultas e orientações úteis”.

Luiz Beltrão definiu os serviços do jornal como:

[…] os que compreendem avisos diversos (plantão de farmácias, perdidos e achados, posta-restante, pauta de pagamentos, cotações de câmbio, convites para reuniões de entidades diversas; informações úteis, telefones de urgência, horário de transportes coletivos, conselhos de saúde, relações de endereços, etc); cartas do dia (programa das casas de espetáculos – cinemas, teatros e circo, rádio e telemissoras; exposições, conferências, congressos, comícios, festas e comemorações diversas) (1969, p 139).

Assim, entendemos que esse gênero serve como utilidade aos leitores. Por isso, usamos Temer para afirmar que o jornalismo de serviço é “aquele que vai além da simples divulgação da informação e se preocupa em mostrar/demonstrar fatos e ações que a curto, médio ou mesmo a longo prazo, vão contribuir para melhores condições de vida do receptor”.

Marques de Melo, por sua vez, divide o jornalismo utilitário em quatro tipos: 1) o indicador, que apresenta dados que ajudam os cidadãos no dia a dia; 2) a cotação, focada no mercado; 3) o roteiro, com dados referentes ao consumo de bens simbólicos, e 4) o serviço, com informações que visam a proteger os interesses dos usuários de serviços públicos, assim como dos consumidores em geral.

O Gênero Utilitário deve compor os jornais na atualidade. Este gênero tem conquistado espaço na mídia nas últimas décadas, dada sua importância para as pessoas. Um exemplo atual são as informações sobre a pandemia causada pelo Covid-19.

JORNALISMO DIVERSIONAL: se procurarmos no site www.portaldaeducação.com.br, temos a definição de Jornalismo Diversional ou literário como um estilo em que o texto jornalístico atua próximo da literatura. Desse modo, passa a produzir reportagens mais aprofundadas, com mais detalhes,  amplificando-as, buscando a humanização e a ética. Com isso, não segue algumas regras do jornalismo “tradicional”. Nesse sentido, de acordo com o site:

Assim, pode-se afirmar que o Jornalismo Diversional é uma mistura de jornalismo, história e literatura, desenvolvido com responsabilidade e seguindo os princípios morais, podendo ser expresso através de diversas mídias, como programas de TV, artigos de periódicos, livros, internet, entre outros.

Já José Marques de Melo classifica o jornalismo diversional em dois formatos: 1) a história de interesse humano que, segundo ele, é uma narrativa que privilegia facetas particulares dos agentes noticiosos. Busca na literatura aspectos que geram a humanização. Mesmo que use ficção, os “relatos devem primar pela verossimilhança”. 2) a história colorida constitui-se de relatos de natureza pictórica, com estilo “impressionista”, e observa detalhes não “perceptíveis a olho nu”.

Espero que este estudo possa de alguma forma contribuir para o receptor diferenciar os gêneros do jornalismo e, com isso, ter um norte para se posicionar frente à imensidão de conteúdos gerados nos dias atuais – processo que nos leva a um problema: a Disfunção Narcotizante. Sobre isso, todavia, falaremos mais adiante.

Aos jornalistas que não conhecem os gêneros  – especialmente os autodidatas que não cursaram faculdade de jornalismo -, espero que o texto sirva como ferramenta de trabalho.

(Continua…)

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Ianker Zimmer é jornalista formado pela Universidade Feevale (RS) e pós-graduado em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia pela PUCRS. É autor de três livros, o último deles "A mente revolucionária: provocações a reacionários e revolucionários" (Almedina, 2023).

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