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O filósofo que não sabe nada de economia

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JOÃO LUIZ MAUAD *

Rodrigo Constantino fez um comentário ontem, no blog da Veja, a respeito das filas e de como o filósofo Michael Sandel as enxerga, em contraposição às soluções de mercado.  Na visão daquele filósofo, o fato de alguém pagar um mendigo, por exemplo, para ocupar um lugar na fila seria algo injusto com os demais.  Rodrigo destacou a questão do acordo voluntário entre quem contrata e é contratado para ficar na fila.  Eu quero tratar aqui de outro ponto para tentar iluminar o assunto, já que, ao contrário do Rodrigo, não acho que a argumentação de Sandel seja nem um pouco interessante ou convincente.  Por oportuno, informo que não li o livro em questão, embora tenha lido o anterior, com o qual não me entusiasmei nem um pouco.

Portanto, destaco os trechos do livro citados pelo Rodrigo:

[…] a disposição de pagar por um bem não mostra realmente quem é que lhe atribui mais valor. Isso ocorre porque os preços de mercado refletem não só a disposição, mas também a possibilidade de pagar. As pessoas que mais desejam ver Shakespeare, ou uma final do campeonato de beisebol, talvez não possam pagar pela entrada. E em certos casos aqueles que pagam mais caro talvez não deem tanto valor assim à experiência.

Em certos casos, a disposição de ficar na fila – seja por entradas de teatro ou de jogos – pode indicar com mais clareza quem quer realmente estar presente do que a disposição de pagar. […] Assim como os mercados distribuem os bens com base na possibilidade e na disposição de pagar, as filas os distribuem com base na possibilidade e na disposição de esperar. E não temos motivos para presumir que a disposição de pagar por um bem constitui melhor medida do seu valor para alguém do que a disposição de esperar. […] Saber se em determinado caso a função será mais bem desempenhada pelo mercado ou pelas filas é uma questão empírica, não suscetível de ser resolvida de antemão por um raciocínio econômico abstrato.

Em primeiro lugar, eu acho que a questão é, sim, suscetível de ser resolvida pelo “raciocínio econômico abstrato” e não necessariamente de forma empírica.  Segundo entendi, Sandel acha que o tempo de espera numa fila guardaria relação direta com a disposição de alguém para adquirir determinado bem ou serviço.  Para ele, o preço pago não mediria esta disposição tão bem quanto a espera, já que a capacidade de pagamento de cada um é desigual.  O ideal seria, então, que se proibisse a compra de lugares.

Como bem destacou Jason Brennan, Sandel está errado em vários aspectos, mas o essencial está no custo de oportunidade do tempo, que, parece, ele desconsiderou completamente ao fazer sua apologia das filas – será, meu Deus, que o festejado filósofo de Harvard nunca estudou a história econômica dos países comunistas, com suas infindáveis filas para comprar qualquer coisa?  Mas divago.

O que Sandel esqueceu – ou omitiu – na sua argumentação foi o fato irrecusável de que, embora todos nós tenhamos 24 horas para usar em um dia, alguns têm mais tempo disponível para gastar.  Em outras palavras, o custo de oportunidade do tempo para algumas pessoas é enorme.

Para um grande executivo, ficar uma hora na fila é equivalente a pagar pequenas fortunas.  As filas na verdade – e aqui não seremos nem um pouco politicamente corretos – favorecem os aposentados, os desempregados, as pessoas com poucas responsabilidades e pouco trabalho a realizar. Elas não são nem um pouco igualitárias ou justas. Em particular, tendem a punir as pessoas que, com seu trabalho, estão contribuindo mais para a sociedade num dado momento, enquanto recompensam aqueles mais ociosos.

Em suma, se os mercados favorecem aqueles com renda disponível, as filas favorecem aqueles com tempo disponível.  Apenas troca-se a desigualdade de renda pela desigualdade de tempo.  Mas é inegável que, em termos gerais, a sociedade como um todo perde muito mais obrigando um Bill Gates a ficar na fila do que deixando operar a solução de mercado, em que ele pagará alguém com tempo disponível (vantagem comparativa) para ocupar o seu lugar.

Enfim, como todo bom igualitarista, Sandel pensa que justiça é tentar impedir que a desigualdade de renda funcione em benefício de quem tem mais.  Não enxerga que, agindo dessa forma, acabará prejudicando a todos, mas principalmente os que têm menos.

* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

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