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O espírito do tempo

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CARTA MENSAL DA MP ADVISORS  *

“Zeitgeist  é um termo alemão que significa “o espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos.” O Zeitgeist , em suma, resume o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.” (Wikipedia)

Esta palavra em alemão, que também tem uma expressão equivalente em francês (esprit du temps), procura descrever uma época determinada em palavras. Por exemplo, quando se pensa na década de 60 a primeira coisa que vem a nossa mente é a liberalização de costumes, Woodstock, etc…  Qual seria o espírito do nosso tempo? Talvez seja cedo ainda para termos certeza, mas eu arriscaria que o nosso Zeitgeist é um grande mal-estar, uma espécie de desconforto sutil, porém persistente. O fenômeno é global. Enquanto escrevo estas linhas, mais uma mega manifestação toma conta do Egito.  Europa, Oriente Médio e América Latina  entraram na rotina do povo nas ruas reclamando, com os efeitos colaterais de violência e vandalismo, de todas as partes.  Um dos poucos lugares onde não vemos este fenômeno é nos Estados Unidos. Talvez os americanos estejam ocupados demais trabalhando.  O fato é que esses movimentos parecem trazer implicações profundas no futuro da política, como a concebemos hoje. Mas ainda não está bem certo se o resultado será necessariamente positivo.

No Brasil, já vemos mudanças significativas em curso. Empresários, banqueiros e políticos que até então eram aliados e beneficiários do lulopetismo, já começam a abandonar o barco.  O jogo político para 2014 está completamente incerto e deve haver muito ruído político e volatilidade pela frente.  Para tentar entender o que será nosso futuro político, é bom olhar para o que é o Brasil.

O Brasil não é um país liberal, do ponto de vista econômico, e tão pouco é um país socialista ou comunista como Cuba e Coréia do Norte.  O Brasil é um país que vive o “capitalismo de estado”, essa promíscua relação entre um governo gigante (que se apodera de quase 40% do PIB) e poucos empresários escolhidos para serem os “campeões”.  E naturalmente, esse gigantismo estatal só pode dar a luz a uma ‘cleptocracia‘. Pois é isso que somos: uma ‘cleptocracia‘ incrustada num capitalismo de estado.  Este regime, é bom que se ressalte, não maximiza seus ganhos nos extremos.  Um país liberal, de estado pequeno e instituições sólidas, não oferece terreno fértil para os cleptocratas. Assim como um país socialista, que não gera muita riqueza para ser subtraída (vide a Venezuela, que nem papel higiênico tem).  O modelo onde o cleptocrata maximiza os seus ganhos é exatamente o nosso.  Por isso já estamos vendo muitas ‘mudanças‘ para que fique tudo igual.  Este é o jogo do ‘demandado‘.

Resta saber se o ‘demandante‘ aceitará essa cortina de fumaça. Continuará ele demandando? Continuará nas ruas? Mudará o seu padrão de voto?  Primeiramente, temos que tentar entender quem está nas ruas. Sabemos que ele é predominantemente jovem (geração y), conectado em redes sociais, pouca rodagem democrática (poucas eleições) e de um modo geral tem um padrão de vida superior ao que seus pais tiveram.

O filósofo Luiz Felipe Pondé define essa geração como uma geração narcisista, com um olhar extremamente voltado para si e com expectativas sempre altas. Rejeita estruturas de poder institucionalizadas, tem dificuldade com a autoridade e assim como a criança, vive pela lógica do prazer imediato.  Segundo Pondé, vivemos hoje com as consequências da disfuncionalidade da família.  Mas não adianta reclamar, é o que temos para hoje. Seja como funcionário, aluno, filho ou eleitor, este é o brasileiro que está ganhando protagonismo no país. Aí está o grande impasse da sociedade brasileira: de um lado, o ‘cleptocrata‘, lutando pela sobrevivência do atual estado das coisas, e do outro, esse novo ator, movido por um profundo desconforto com o mundo que ele encontrou, porém com ideias antagônicas em sua base.  Por exemplo, reclamam que o estado é um péssimo provedor de serviços e pedem, como solução, justamente mais estado (passe livre).

O impasse se dá num momento onde o modelo econômico petista começa a desmoronar, com estagflação (crescimento pífio e inflação teimosa), ligeiro aumento do desemprego e endividamento altamente perigoso dos indivíduos.  O nosso ‘demandante‘ por enquanto está protestando empregado e as contas razoavelmente em dia. Preocupa a evolução desta ‘guerrilha urbana’ caso o desemprego comece uma escalada. E dado que temos governos fracos, acuados e que desejam ser o ‘tio legal’, o futuro parece nebuloso. Os românticos entusiastas com a ‘primavera árabe’ não devem estar convivendo bem com os cadáveres produzidos diariamente pelo Egito.  Este é o resumo do nosso tempo, o embate entre os que frustram as expectativas da sociedade por profissão (os políticos) e a ‘geração toddynho’ que não lida muito bem com expectativas frustradas.

Seus investimentos, como ficam no meio disso tudo? Apesar do mês de relativa trégua no mercado financeiro doméstico, olhamos o quadro com apreensão e não nos iludimos pela aparente calmaria.  Na renda fixa a nossa visão mudou um pouco ao longo do mês.  Os números de atividade e emprego têm vindo bem piores do que o esperado e já não parece certo que o Banco Central vá aumentar tanto as taxas de juros, devendo mantê-las no intervalo 9%-10% ao ano.  Continuamos a não ver prêmios atrativos no mercado de pré-fixados.

O mercado de câmbio se comportou com uma certa estabilidade ao longo do mês com a moeda americana oscilando entre 2,22 e 2,30.  Nossa visão continua a mesma: os fundamentos em deterioração do Brasil indicam um enfraquecimento adicional do real perante ao dólar. E também pelos méritos do dólar. Os Estados Unidos, com a energia barata do gás de xisto, vivem uma revolução energética (serão autossuficientes em 2025) que os levará a uma nova revolução industrial.  E isto dentro de um ambiente de normalização de taxas de juros.  Tanto o capital produtivo quanto o capital financeiro irão na direção dos Estados Unidos.  Estamos entrando na era do dólar forte.

A bolsa brasileira apresentou alguma recuperação no mês, mas a nossa visão permanece negativa.  O risco de estar em ações não deve se pagar até uma definição do nosso quadro político. O atual cenário doméstico nos remete para uma prudência acima do normal em todas as classes de risco e da preservação de liquidez.

* CORTESIA DE ANDRÉ LEITE

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