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O ensino competitivo como alicerce da excelência

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A história da educação se confunde com a história da humanidade. Nas comunidades primitivas, práticas de caça, pesca, plantio e criação de animais eram transmitidas para crianças e jovens pelos pais e integrantes experientes de seu grupo social. A educação era, portanto, voltada para a produção e acontecia dentro do convívio da comunidade, sem uma instituição específica de formação. Muitos anos mais tarde, na Grécia antiga, surgiu a Paideia, um sistema de educação e formação que preparava cidadãos para um papel ativo na sociedade, a partir do ensino de gramática, história, matemática, filosofia, música e outros conteúdos. Para Aristóteles, um dos objetivos da educação deveria ser produzir a excelência moral, de maneira que o homem pudesse ser um melhor cidadão. Também na Grécia, as competições de combate, corridas de bigas e atletismo deram origem aos Jogos Olímpicos. Embora os jogos buscassem a paz e a harmonia entre as cidades da civilização grega, a premiação aos vencedores estimulava o aperfeiçoamento de atributos físicos como a força e a velocidade. Tanto no ensino quanto nos jogos, a intenção era habilitar pessoas com capacidades que pudessem contribuir para a sobrevivência em um mundo inóspito.

Na Idade Média, os mosteiros foram responsáveis pelo ensino, quase que inteiramente teocrático. A maior parte da população da época não tinha acesso a qualquer tipo de instrução e, portanto, habilidades como ler, escrever e executar cálculos matemáticos estavam restritas aos nobres e ao clero. A Reforma Protestante no século XVI e o avanço da burguesia – habitantes das pequenas vilas formadas em torno da nobreza feudal, com autonomia para comercializar e exercer direitos de natureza política, econômica e associativa – representaram uma ruptura do modelo de ensino centrado na doutrina cristã. O progresso comercial, o aumento da população de homens livres e o sapere aude do iluminismo impulsionaram a criação de universidades e a difusão do ensino de artes, filosofia, ciências, lógica, direito e de vários outros campos do saber. O ambiente pós-feudal, favorável à livre iniciativa, e a efervescência das invenções tecnológicas como o tear mecânico, a máquina a vapor, a produção de ferro e as máquinas-ferramentas resultaram na Revolução Industrial, que transformou as formas de produção e as relações de trabalho, com repercussão no ensino e na capacitação laboral.

No Brasil, a educação se inicia em meados do século XVI com os jesuítas da Companhia de Jesus, uma congregação da igreja católica com a finalidade de evangelizar e educar os índios e os primeiros brasileiros. As escolas jesuítas alfabetizavam, mas pregavam a fé e consolidavam a dominação portuguesa. Porém, para Bruno Garschagen, a vastidão territorial brasileira tornava impraticável o controle de todos os aspectos da vida na colônia. Por isso, mesmo que ainda incipiente, desenvolveu-se no país um ambiente comercial e empreendedor próspero, que poderia tê-lo alçado à condição de nação livre e desenvolvida. Todavia, a destreza com que Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, lidou com o terremoto de Lisboa, em 1755, o transformou em figura central do governo português. Secretário de Estado de Dom José I, inspirado no despotismo esclarecido francês, Pombal acreditava que o modelo de ensino administrado pelos religiosos era a causa do atraso português em relação aos vizinhos da Europa, que prezavam os métodos científicos de investigação e raciocínio. Assim, em 1759, Pombal instituiu a estatização completa do ensino em Portugal e na colônia. Como parte de seu projeto político de centralização do poder estatal, expulsou os jesuítas de todo o território português – inclusive da colônia – e perpetrou reformas fortemente intervencionistas.

Patrimonialismo, burocracia estatal, criminalização da usura, tributação e submissão das relações privadas nacionais e estrangeiras ao Estado foram medidas introduzidas pelo autocrata português. Razoável inferir, portanto, que essas diretrizes pombalinas contribuíram para desenvolver e solidificar uma mentalidade contrária à prosperidade e ao lucro no Brasil. Naquele momento, a sociedade brasileira se tornava subalterna ao poder estatal; e, de modo equivalente, na esfera educacional, o saudável embate de ideias e a liberdade de pensamento eram substituídos pelo ensino uniformizado e submisso aos caprichos do Leviatã.

Ao longo do tempo, no período imperial e posteriormente na República, diversas mudanças ocorreram no sistema de ensino brasileiro, mas a educação continuou sendo controlada pelo Estado. Vieram as primeiras universidades, o ensino básico se tornou responsabilidade de estados e municípios e as escolas privadas se multiplicaram, mas as principais diretrizes da educação permaneceram centralizadas e, muitas vezes, indiferentes ao mundo real. Assim, não é incomum que os concluintes das etapas acadêmicas se espantem com conhecimentos e experiências não adquiridos na temporada escolar e que são indispensáveis no lócus profissional e no ambiente empresarial. Afinal, assim como acontecia nos primórdios, um dos principais objetivos da educação continua sendo preparar pessoas para o mundo produtivo. Por isso, não faz sentido que conteúdos essenciais de matemática, ciências e leitura sejam suprimidos ou condensados para abrigar, de forma obrigatória, as temáticas de sociologia e filosofia, por exemplo. Evidentemente que muitos jovens não têm maturidade satisfatória para julgar a pertinência da visão de mundo que lhes é majoritariamente apresentada nessas áreas do saber. O resultado final desse processo de ideologização, que começa na mais tenra idade e com efeito se prolonga por toda a vida, quase sempre é a extinção definitiva da aspiração pela prosperidade. Não deveriam surpreender, portanto, o mal desempenho do país nos testes PISA e a crônica baixa produtividade da mão de obra brasileira, razão suficiente para a letargia da atividade econômica por tanto tempo.

Peter Gray, professor de psicologia do Boston College, autor do livro Livre para Aprender, defende que a educação compulsória e massificada proporcionada pelo Estado aniquila a autoconfiança, a capacidade de pensar, a criatividade e a aquisição de habilidades necessárias para as responsabilidades da vida adulta. Por outro lado, Lew Rockwell defende que o poder estatal não permite a educação autônoma por sentir-se ameaçado por ela, que teria a capacidade de revelar o caráter de sua sustentabilidade e o segredo de sua sobrevivência. Flávio Augusto, idealizador do projeto Geração de Valor, chama atenção para o enorme desperdício potencial, em função de o ensino tradicional preparar jovens para concursos públicos e doutriná-los para a defesa de causas sociais. Aliás, são necessárias doses cavalares de insensatez para acreditar que seja possível corrigir erros passados, em desfavor de classes menos favorecidas, como apregoa o método freiriano. O que transforma a realidade das pessoas são as oportunidades que elas têm para colocar em prática seus talentos e competências a serviço de terceiros, ação que o professor Huerta de Soto conceitua como a função empresarial, inata aos seres humanos. Não resta dúvida, portanto, de que a educação deveria preparar para o futuro, ao invés de querer se apegar ao passado e incutir a crença de que seja possível ao homem corrigir todas as imperfeições do mundo, em uma espécie de retificação da obra do Criador.

Infelizmente, enquanto a educação insiste em rechaçar as diferenças e reprimir a individualidade, o ambiente profissional busca pessoas diferenciadas, que sejam capazes de inovar, raciocinar e negociar diferentes formas de cooperação para tornar a produção mais eficiente e mais adequada às demandas cada vez mais complexas da sociedade. Outra questão que desafia a essência das universidades é a patrulha do politicamente correto. O tradicional espaço do embate de ideias, que estimula o choque de diferentes pontos de vista e a reunião de diferentes abordagens para a solução dos problemas, parece bloqueado para questionamentos e raciocínios divergentes. Dessa forma, perde-se a capacidade de articulação e de inter-relação de diferentes habilidades, que permitiram o progresso humano até aqui. Surreal é como muitos dos próprios acadêmicos se prestam a patrocinar tamanho empenho pela uniformidade de pensamento. Nem o Ministério da Verdade do universo orwelliano de 1984 parece tão paradoxal. Será que não percebem a iminência de sua autodestruição ou será que agem deliberadamente para implodir todo o avanço civilizatório de milênios?

Sem dúvida que a relevância do sistema de ensino e da academia para a sociedade está em promover um ambiente de liberdade, onde os talentos, a inventividade e a destreza humana nunca sejam restringidos por quaisquer espécies de barreiras. Quando o poder político, as forças econômicas ou os grupos de pressão capturam o comando da instrução de um povo, não há mais razão para sua existência. Afinal, todas as inovações surgem da livre expressão daqueles que enxergam o mundo e seus problemas de forma singular. Se cada um de nós tem aspirações, habilidades e pretensões diferentes, por que tanto esforço para impor a equidade? Nada nem ninguém seria capaz de fazê-lo sem devastar o amor-próprio e transformar a existência em um vácuo. Portanto, se a educação visa à excelência do homem, não há motivos para temer a contraposição de suas diferenças. Elas são essenciais para ativar a motilidade, que afinal, é a essência da vida – além do que é inegável que a escassez é uma condição natural da qual ninguém escapa, logo, são as diferenças que impulsionam a colaboração humana para atenuar todas as formas de privação. Nesse sentido, competir para criar, inovar e repensar soluções para os problemas do homem é fundamental para sua evolução. Por tudo isso, é evidente que um sistema de ensino que promova um ambiente de liberdade de expressão e que valorize a busca pela excelência estará contribuindo muito mais para o bem-estar do homem que aquele cujo foco seja apenas fomentar a uniformidade estéril, que mantém a todos sob controle.

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Vinícius Montgomery de Miranda

Vinícius Montgomery de Miranda

Graduado e Mestre pela Universidade Federal de Itajubá, MBA em Gestão Financeira pela UNITAU. Consultor de Empresas e Professor de Economia e Finanças.

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