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O direito de existir x o dever de inexistir

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Liberdade-de-expressão

Há quem considere haver exagero nas críticas que articulistas liberais e conservadores fazem à esquerda, condenando-a como uma espécie de abominação agressiva. Certo vigor em nossas palavras causa espécie a leigos que são pegos no meio do tiroteio e, submetidos a uma propaganda muito bem engendrada durante anos, não têm a mesma sensação quando a dita “direita” é atacada. Isso se deve, principalmente, ao propositado mau-caratismo dos “intelectuais militantes” do lado de lá, que nos criminalizam a mera possibilidade de argumentar. É nisso que devemos nos concentrar para justificar nosso tom de urgência: no fato de que, no atual momento, clamamos apenas pelo nosso legítimo direito de existir, como corrente democrática, enquanto eles bradam que temos, ao contrário, o DEVER de INEXISTIR.

Um conhecido, eleitor do PT, cuja identidade manterei anônima, expressou recentemente sua grande preocupação com a situação política brasileira. Segundo ele, o PSDB é um partido de origem centro-esquerdista, na social democracia com inspirações europeias. Não poderia estar ele mais próximo da verdade! É isso mesmo. Mobilizando-se mais recentemente na direção da Terceira Via de Anthony Giddens, estando Fernando Henrique próximo ao grupo de Tony Blair, o PSDB não é, em origem, um partido liberal, tampouco conservador, e, em linhas gerais, continua não o sendo. De acordo com o nosso companheiro, eleitor do PT, “há uma tentativa da extrema direita de tomar o partido centro-esquerdista PSDB, o que é nocivo para o Brasil”.

Raciocinemos diante disso. Observando o cenário político-partidário nacional, temos uma oposição principal entre duas legendas originalmente à esquerda (PSDB e PT, sendo o primeiro mais moderado, como disse o nosso distinto personagem, enquanto o segundo está mancomunado com os mais grosseiros modos bolivarianos) e um grande partido fisiológico (o PMDB, que o sociólogo Demétrio Magnoli, no Fórum Rumos da Cidadania do Instituto Prometheus, em 2009, apontou como o maior indicativo das imperfeições do partidarismo tupiniquim). Aquele que teoricamente deveria representar visões liberais e/ou conservadoras, o DEM, apesar de alguns atos elogiáveis – especialmente agora, com o entusiasmo de lideranças como Ronaldo Caiado -, não se atreveu por muito tempo a romper certa timidez e dar voz a essas correntes em alto e bom som.

A situação mudou recentemente; com o aprofundamento dos equívocos e da incompetência do governo federal, o país conheceu a ascensão de um movimento social, ainda limitado, ainda de relativamente pouco peso, mas que já conseguiu exercer influência sobre o debate público. A articulação de “think tanks”, a interação de grupos virtuais, a publicação de bibliografia específica, tudo isso incentivou ações como as do Movimento Brasil Livre e do Vem pra Rua Brasil, em páginas virtuais que convocaram para manifestações populares – como a do próximo dia 15. O candidato tucano, Aécio Neves, recebeu expressiva votação. Com tudo isso, 2014 viu o acirramento de uma oposição, o que se comprova, por exemplo, pela luta intensa de parlamentares do DEM e do PSDB na polêmica da LDO, apesar de o resultado ter sido a derrota.

Nosso amigo petista considera que esse acirramento é, vejam só, uma infiltração da “extrema direita” na oposição, que deveria ser uma oposição de esquerda moderada a uma esquerda radical, e não uma oposição de “direita”. A realidade é que nem sequer podemos dizer que o grosso do PSDB abandonou a social democracia, ou que os homens do DEM estão, todos eles, abraçando de fato bandeiras liberais clássicas. A única certeza que temos é que a conjuntura os convenceu de que deveriam combater as irresponsabilidades e crimes do governo, e os impulsionou a fazer o barulho que fizeram no final do ano. O enfrentamento se deu em questões pontuais, em circunstâncias em que a soberania nacional ou a saúde econômica do país se viram em jogo. No entanto, e se, de fato, esses partidos se assumissem portadores de outra posição ideológica, esta realmente fora de qualquer vínculo à esquerda? Isto seria algum absurdo inaceitável?

Esquerdistas como o senhor a quem me refiro denunciam seu desapreço pela divergência, fundamental à democracia, quando dizem que a “extrema direita” não deve existir, que é nociva ao país. Mas o que é a “extrema direita”? É o liberal que defende a redução do tamanho do Estado, a economia livre, a livre iniciativa, a responsabilidade individual, a ordem democrática de Direito? Que defende o respeito às leis, que defende que o governo cumpra as metas fiscais estabelecidas e não deixe o país padecendo de um déficit por total irresponsabilidade nos gastos públicos? Esse, que proclama essas bandeiras tão razoáveis, é a “extrema direita”? É um “fascista”? O que seria, para essas pessoas, a “direita” aceitável?

Claro está, amigo leitor, que nenhuma. A matriz de pensamento desses esquerdistas, que se anunciam como “os defensores e baluartes da democracia”, é essencialmente totalitária, de forma profundamente mal disfarçada. O seu mundo ideal, que eles estão a todo instante buscando, em vez de trabalhar com a concretude dos fatos, é um mundo em que não haja lugar para nós. Aí está evidenciado, pois, o que dissemos: enquanto queremos existir e competir com o oponente num ritual democrático, eles querem destruir esse ritual e se substituir ao sistema, negando-nos o mero direito de existência.

Meu apelo é de que essa diferença precisa ser mantida, para que continuemos a ser, precisamente, o lado certo da questão, enquanto eles representam o lado abominável. Por que colocar isso em discussão? Porque alguns indivíduos e grupos, levados a posições extremadas a partir da mais justificada indignação, defendem que a esquerda deveria ser destruída, que nenhuma forma de esquerda deve ser tolerada. Se quisermos conquistar espaço e modificar o cenário, um dos pontos chave (e acreditamos não ser nunca desmedido bater nessa tecla, posto que crescemos cada vez mais atentando para nossos próprios erros e empecilhos internos) é nos diferenciarmos do oponente, não nos igualarmos a ele em suas artimanhas mais sórdidas. É entendermos que, no ritual da democracia representativa, correntes antagônicas devem existir e conviver, sem avançarem no sentido da anulação absoluta da existência umas da outras. Não constatar que há formas moderadas de social democracia nos mais diversos sistemas políticos estrangeiros, sem os nossos conhecidos ranços bolivarianos, e defender que nem isso subsista no Brasil é sustentar um avanço radical e totalitário sobre os processos espontâneos da sociedade – o que nunca, nunca pode dar em coisa boa. É sustentar uma imposição pela força que vai contra todas as nossas convicções e valores.

Desse quadro, porém, partidos como PSOL, PSTU, PT e quejandos não fazem parte. Àqueles que, nessas legendas, se esforçam por pregar a nossa destruição devem ser combatidos como inimigos, não apenas nossos, mas da estabilidade institucional brasileira. Esses partidos de ranço extremista e bolivariano, por meio não apenas de seus discursos espalhafatosos, mas do emprego de recursos ainda mais lamentáveis – estratégias de aparelhamento de estado, pressões de “movimentos sociais” ou patrulhas virtuais –, têm, por natureza, a intenção de negar ao outro (à direita, aos liberais e conservadores) o direito de existir. O que se deseja é que uma evolução do debate público e uma elevação da consciência dos cidadãos faça com que compreendam que essas ideias são perigosas e imaturas, o que deslegitimará naturalmente sua circulação. Diante de tal desenvolvimento, a defesa de ditaduras como a cubana, por exemplo, se tornará algo estúpido e rejeitado, a que não se dará mais atenção e que não mais terá lugar no ritual político – que essa gente adoraria destruir. A velha ordem espontânea, como já dizia o bom e velho Hayek, se encarregaria disso. Não estamos querendo que se aja como eles e se force um silêncio de cima a baixo. Estamos defendendo que se trave o bom combate, denunciando esses programas que não são presenças saudáveis, mas sim “doenças” em nossa democracia jovem e potencialmente vulnerável.

Tudo isso pautado, em todos os momentos, em equilíbrio e ponderação, não em radicalismos e destemperos suicidas. Saibamos fazer o que eles não sabem: mesclar assertividade e convicção com respeito e consciência de que é impossível acabar por mágica com todos os conflitos do mundo e fazer de todos criaturas idênticas, de acordo sob todos os aspectos. Este é o sonho da esquerda mais delirante, não o nosso.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

Um comentário em “O direito de existir x o dever de inexistir

  • Avatar
    14/03/2015 em 10:07 pm
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    muito bom, parabens.nota 1000……..

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