O caos em São Paulo e a culpa do estado
Os problemas que São Paulo enfrenta todas as vezes em que chove um pouco mais devem-se a um conjunto de intervenções urbanas que acabaram com rios e impermeabilizaram o solo.
Há quem diga que isso é culpa do capitalismo, das grandes empresas e dos especuladores imobiliários. Sim e não.
Primeiro, o capitalismo é apenas um ambiente em que pessoas e empresas interagem comercialmente. Ambiente que encontramos em muito maior nível em todos os países desenvolvidos, que não sofrem os tipos de calamidades urbanas que sofremos por aqui.
Segundo, grandes empresas e especuladores imobiliários atuam balizados pela legislação ditada monocraticamente pelo estado, o que significa que cada empreendimento industrial ou imobiliário é levado adiante apenas quando o estado permite.
Os países desenvolvidos não são ilhas povoadas por anjos capitalistas que não colocam o lucro em primeiro lugar. São países onde os capitalistas, por mais gananciosos que sejam, têm seus empreendimentos aprovados ou não pelas comunidades onde pretendem alocá-los, não por políticos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, não existe poder econômico maior do que o desejo dos moradores de um bairro. Seja lá qual for o tamanho da corporação capitalista, ela só poderá construir alguma coisa se cidadãos comuns autorizarem.
No Brasil, sob a justificativa de atender a “interesses sociais” de uma cidade, os interesses particulares de comunidades são ignorados o tempo todo, com o estado criando todas as condições legais para que grandes empresas construam o que querem e em qualquer lugar que desejam, a despeito de moradores e comerciantes locais.
Uma prefeitura permite a construção de uma imensa fábrica porque… Isso gera empregos, e dane-se se os moradores de certa região não concordam com isso. É isso o que acontece no Brasil desde sempre. Foi assim que rios e lagos foram ocupados. É assim que condomínios, fábricas e estradas são construídas.
O militante socialista que se diz contra isso é o mesmo que defende a ideia de que “certas” propriedades privadas devem ser desapropriadas para atender aos interesses coletivos; e acaba sendo isso mesmo que o estado faz, mas sobre as comunidades mais pobres.
O poder que as pessoas dão para o estado promover o desenvolvimento urbano é utilizado para corromper esse desenvolvimento. Se o estado tem o papel de “planejar a cidade”, basta ao capitalista subornar algumas pessoas para que todos os seus interesses sejam atendidos.
Quando uma prefeitura assume o “planejamento urbano” de uma cidade, ela se torna o maior vetor de especulação imobiliária, porque passa a determinar o valor de cada área, onde irá gastar o dinheiro de todos os cidadãos, o que invariavelmente leva a conluios entre políticos e grandes empresas.
A ideia de que infraestrutura é um direito de todos faz com que o estado assuma a responsabilidade de distribuir esse direito construindo ele mesmo estradas e sistemas sanitários, na maioria das vezes, para atender aos interesses das grandes empresas que financiam os políticos.
O caos da cidade de São Paulo em dias como hoje é fruto da obsessão do estado de promover o desenvolvimento por meio de projetos, não com uma legislação que preserve o poder de pequenas comunidades sobre o que acontece nos locais que habitam.