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O Brasil não tem presidente, não tem imprensa, nem oposição forte: o Brasil só tem a nós

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bandeira-do-brasil-oficial-300-x-200-g-i-g-a-n-t-e--15662-MLB20105983342_062014-ODesperto hoje estarrecido e indignado. Não apenas com a decisão revoltante do Supremo Tribunal Federal. Não também com o apêndice preocupante da forte possibilidade de saída do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, abrindo as portas para a posse de um eventual desenvolvimentista ensandecido que vá apimentar ainda mais a gastança irresponsável e a impressão de dinheiro. Não apenas com a Constituição sendo rasgada aos olhos de todos, com direito a transmissão da Globo News. Não. O que mais irrita é o dia amanhecer como se fosse uma manhã como qualquer outra.

Noutros tempos, tenho certeza de que seria diferente. Ao tempo, por exemplo, como bem lembrou o historiador Marco Antônio Villa, da chamada “banda de música” udenista, de nomes como Aliomar Baleeiro, Afonso Arinos, Carlos Lacerda e Olavo Bilac Pinto, que não davam sossego aos governos getulistas, do PSD e do PTB, Dilma e os ministros do STF não teriam sequer condições de dormir à noite com o incêndio que eles causariam. Hoje, mesmo nossos melhores nomes na oposição não são capazes de condensar os clamores populares e incensarem os instrumentos do Estado contra a sua própria perversão. Os melhores parlamentares e senadores de hoje não têm, ou o mesmo talento argumentativo, ou o mesmo dom de oratória, ou a mesma ousadia. Em especial o maior partido oposicionista, o PSDB, é pusilânime por sua própria natureza; as exceções, como Carlos Sampaio, não representam os caciques da legenda, e não podem, por si sós, mover montanhas. O ministro do STF, Gilmar Mendes, disse hoje que há “um projeto de bolivarização da Corte” e que “ontem, infelizmente, tivemos mostras disso”. Acusou os colegas de promover um “artificialismo jurídico” para julgar por “casuísmo”. O ex-presidente do STF, Carlos Ayres Britto, disse que a Corte errou. Apenas um tom muito mais tímido podemos esperar de nossos opositores políticos oficiais.

De nosso governo, que cometeu o crime, que se acumplicia de tudo o que há de mais populista, mais falsário, mais estelionatário e mais autoritário, nada mais digo. A presidente, em si, é um enfeite presunçoso e pedante que representa tão-somente uma face de um projeto de poder e de um esquema ideológico muito maiores do que ela – e para os quais, aliás, ao menos para alguns de seus setores, sua falta absoluta de carisma e sua ineptidão robusta já constituem mais um estorvo que um reforço. Que dizer de nossa imprensa? Tudo que temos visto em 2015 foi o sepultamento do nosso Jornalismo, de nos fazer corar. Manipulações de fotos e vídeos para engrandecer manifestações governistas, seleções patéticas de entrevistados esdrúxulos para caracterizar manifestações imensas de golpistas, a vergonhosa sessão de perguntas a Hélio Bicudo sobre Eduardo Cunha quando o assunto era o impeachment de Dilma, a “martelada” dos noticiários contra o presidente da Câmara quando havia várias citações e escândalos envolvendo o PT e a família de Lula. Tudo muito triste, mas não mais do que a covardia de dar nome aos bois. Os jornalistas, ontem e hoje, nada mais farão que discursos protocolares, oficialescos, artificiais, como se a sessão de ontem houvesse sido normal, como se nada de extraordinário houvesse ocorrido. Sua postura é e será, conhecendo-os como conhecemos, entendendo o que aconteceu durante o ano inteiro como entendemos, pior do que o absoluto silêncio. Será um desprezo profundo das proporções. Para que se faça justiça à sessão de 17 de dezembro, precisaremos esperar, talvez, pelos livros didáticos de historiadores de um futuro nebuloso.

Que tem o Brasil hoje? O Brasil só tem a nós. Cada um de nós. Os brasileiros decentes, que compartilham as mesmas angústias e dividem as mesmas dificuldades, que suam dia e noite para manter suas vidas e de suas famílias e, em consequência, sustentar a economia deste gigante combalido, gerar e fazer circularem as riquezas; os brasileiros que as vêem surrupiadas, então, pelo Estado paquidérmico e corrupto, que sequestra suas expectativas e desdenha de suas queixas. O Brasil só tem a nós, e o Brasil somos nós.

Nosso sincero desejo, nossos sinceros votos para 2016 e mais além, é que isso baste. Que mesmo diante dos percalços, dos problemas, dos imensos rochedos de desesperança que esse teatro de gângsters e duelistas ladinos nos proporciona, nossa força seja inquebrável, persevere, desafie o edifício da mentira e da avacalhação. Que tenhamos referências de virtude pública, ainda que provindas das vozes do passado, em que possamos nos inspirar para acreditar que podemos ser melhores do que isso. Que lotemos as ruas em março, ou quando quer que sejam convocadas as novas manifestações. Que mostremos a eles, que mantém essa tragicomédia efêmera, destinada a se apagar no lixo dos séculos, que a vitalidade do país está em nós, na nossa iniciativa, no nosso envolvimento, na nossa dedicação e na nossa honestidade.

Não temos mais do que isso. Temos a nós mesmos. Que isso seja tudo. Que isso seja o bastante. Que isso baste para que o Brasil vença a escuridão tempestuosa que atravessa e possa, ao fim de um túnel de sofrimento, enxergar a luz.

Nota: Aviso aos leitores que nos acompanham que este colunista entrará em um pequeno recesso de fim de ano nas próximas duas semanas, período em que a atividade neste espaço será errática, sem publicações diárias, como se tornou o costume. Continuaremos, porém, mesmo nesse período, atentos a todas as movimentações da nossa política que possam acontecer – afinal, a Lava Jato não tira férias e o dever chama -, para repercutir tudo que for possível nesse contato prazeroso com o público do Instituto Liberal. Quis encerrar esta semana e começar a me despedir do ano com esse texto, chamando-nos à ação e à reflexão acerca da gravidade do momento, mas, ao mesmo tempo, trazendo algum otimismo. Precisamos acreditar que podemos. Não vamos desistir. Boas festas a todos!

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

2 comentários em “O Brasil não tem presidente, não tem imprensa, nem oposição forte: o Brasil só tem a nós

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    19/12/2015 em 8:47 am
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    É verdade que são incontáveis os momentos em que somos tomados pelo desânimo e asco: imprensa e governistas dizendo que Lava Jato e movimentos pró-impeachment (que eles dizem ser golpe) são os culpados pela crise no país; nossas leis e constituição sendo violadas diariamente; judiciário se metendo no legislativo e os dois de quatro para o executivo que levou nosso país à ruína; estatais destruídas pela má gestão e a corrupção; o vandalismo promovido pelo MST e congêneres; a miséria instalada na educação; Rio de Janeiro tomado pelos traficantes… ah, conforme eu dizia, são enumeráveis.

    É verdade também que quando pensamos que, se esta composição de políticos lá está porque recebeu votos dessas mesmas pessoas que estão vendo seu país dia a dia se esfacelar, e estas acabam caindo no canto das sereias da grande imprensa/tv, dá aquela vontade de dizer: este povo elegeu este governo, portanto o merece.

    Não podemos, porém, ceder ao desânimo, à raiva inócua. Tanto tempo de doutrinação, populismo causou muitos estragou na nossa gente. A lenga-lenga do “preconceito linguístico”, a “pedagogia do oprimido” etc., a universidade, em que as humanas se tornaram não o centro difusor do pensamento e transmissor do legado cultural da humanidade, mas sim que atua com o único objetivo de formar agentes para promover a revolução socialista/comunista. Chegou-se a um ponto em que as pessoas achavam muito natural dizer que os culpados pelo nosso atraso eram os portugueses e os americanos imperialistas e outras absurdidades sem fim.

    Entretanto, está em curso uma mudança nesse estado miserável que as esquerdas deixam as pessoas, nos lugares por onde passam. A internet nos abriu uma porta por meio da qual paulatinamente as mentiras, as distorções, os malefícios das esquerdas foram expostos a um número crescente de pessoas, que, por sua vez, está transmitindo esse conhecimento a outras pessoas, e assim por diante.

    Esse processo é irreversível, mas sua conclusão não é para já. O bloqueio já foi rompido, mas temos muita luta pela frente. Temos de ter paciência, tranquilidade, clareza (advinda do estudo/cultivo do conhecimento), e paz de espírito (de quem tem honestidade intelectual).

    A bem da verdade a luta pela liberdade nunca chega ao fim. É pela vida toda. Sempre haverá lobos querendo se aproveitar dos rebanhos. Então, desânimo não se coaduna neste quadro.

    Um abraço aos articulistas e comentadores do site. E agradecimentos ao Instituto Liberal pelo importantíssimo – e eficaz – trabalho.

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    18/12/2015 em 1:59 pm
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    Lucas, saio de casa as 5hs da manhã e viajo 50km para trabalhar. Ontem quando voltava para casa, o ônibus da empresa furou o pneu, num local onde felizmente o acesso à internet é mais fácil. Quando vi, pelo Twitter a indignação das pessoas com o julgamento do STF, não pude deixar de sentir a mesma raiva. Mais tarde, vendo algumas postagens, deparei-me com declarações do senador Ronaldo Caiado, que diziam que a situação continua a mesma em busca do impeachment. Daí fiquei pensando, nós brasileiros, não temos condições de deixar o país sangrar a olhos vistos, não podemos deixar que estrangeiros façam piada das nossas instituições e cheguei à conclusão de que o presidencialismo brasileiro ruiu, não há mais espaço para este sistema de governo. Nossa salvação está em adotarmos o parlamentarismo, para que aventureiros, como Dilma, Luciana, Jandira, Lula, FHC, dentre outros, possam passar longe do poder. Creio que este debate começará a ganhar força daqui para frente.

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