MOZART VIEIRA ROSA

Estava, nesta semana, passando em frente ao fórum do Rio quando fui abordado por um cidadão na faixa dos 70 anos pedindo dinheiro para pegar o Metrô. Até ai nenhuma novidade, já que o que mais temos no centro do Rio são pedintes, só que esse era incomum por ser um argentino. Ele me pediu desculpas pelo incomodo e me contou sua história.

Vinha de Niterói, onde tentou conseguir um emprego, e precisava do dinheiro para voltar para casa, no Largo do Machado. Puxei conversa e ele começou a falar de si e sobre a sua Argentina, que está falida e sem perspectiva de melhora. Segundo ele, os opositores da presidente atual são aparentemente tão medíocres quanto ela e o país, que já foi o mais desenvolvido da América Latina, hoje é um fiapo do que já foi e vive de lembranças do passado.

Contou-me ainda sobre sua juventude, sua ligação com o Partido Justicialista e o culto que até hoje que os argentinos fazem de Perón. Ele me narrou um Perón um bêbado, mulherengo, e ainda assim cultuado por uma boa parcela da população como um pai da pátria. Tive uma sensação incômoda, dada a grande semelhança dessa figura histórica com o o nosso ex-Presidente Lula.

Narrou ainda sobre a forma lenta e gradual como a Argentina foi decaindo ao longo do tempo, e o apego da classe política ao patriotismo como forma de enganar e aglutinar a população. Concluiu comparando o endeusamento de Perón ao de Lula e tive vontade de rir, dada minha percepção prévia dessa semelhança.

Ao final, dei a ele o dinheiro da passagem e fiquei bem deprimido, pois sua narrativa, mostrando a semelhança entre o que ocorre hoje no Brasil e o que ele viu acontecer na Argentina foi bem assustador.

Lembrei-me, então, de um dos livros mais inteligentes e brilhantes que li na vida, “As viagens de Gulliver”, que é uma belíssima sátira aos governos e as ideologias. Recomendo especialmente a leitura da viagem de Gulliver ao reino de Laputa. É um livro escrito há 300 anos que descreve a triste situação de um povo seguindo uma ideologia ultrapassada, como ocorreu na Argentina do passado e no Brasil do presente, infelizmente com vistas pro futuro.