Não vá ao Brasil para comprar um iPad
LUCIA KASSAI E CECILIA TORNAGHI*
Não estavam atrás de uma pechincha as quase 500 pessoas à porta da loja FNAC, do Shopping Morumbi, em São Paulo, no último dia dois de dezembro. Eram apaixonados por novidade em lançamentos eletrônicos. O iPad está na lista de itens eletrônicos da FNAC e em outras lojas brasileiras a US$985, quase o dobro do preço nos Estados Unidos e um dos mais altos preços oficiais para um iPad em todo o mundo, de acordo com a Macworld Brazil, uma newsletter brasileira editada pelo International Data Group, com sede nos EUA.
O iPad é um exemplo das muitas distorções de preço causadas pela complicada política industrial do Brasil.
– As empresas que não fabricam artigos no Brasil têm que pagar tarifas elevadas se quiserem vender aos consumidores do país.
– O Brasil cobra 60 por cento de imposto sobre o iPad e chega a 90 por cento em carros importados.
– Uma blusa que é vendida a US$49.50 na Gap nos Estados Unidos chega a US$82 em pontos de venda que não são da Gap, no Brasil.
O Brasil impõe essas tarifas elevadas sobre importados para estimular a indústria local e encorajar fabricantes estrangeiros a instalarem suas fábricas no país.
– A Eletrônica Samsung, por exemplo, vem fabricando na região desde 1986.
– Em contraste com a Samsung, a Apple se mantém fora do jogo.
O protecionismo não mostra sinais de recuo no governo da recém-eleita presidente Dilma Rousseff, segundo André Sacconato, economista de uma das maiores firmas de consultoria no Brasil, a Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo. Rousseff, importante ministra no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em final de mandato, apoia uma agressiva política industrial. “Ela apoia a visão de Lula do “compre Brasil”, afirma Sacconato.
Hoje, em parte por causa das políticas protecionistas, o Brasil produz bens manufaturados complexos como aviões a jato e plataformas. No entanto, a economia poderia ir bem melhor, segundo Sacconato, se, ao invés de impedir a entrada de concorrentes estrangeiros, o governo oferecesse uma infraestrutura decente e cobrasse impostos mais baixos e em menor quantidade.
As empresas estatais apoiam a política do “compre Brasil”.
*Autoras do original “Don’t Go to Brazil for a Deal on an iPad”, publicado na Business Week, 09.12. 2010. Resumo pelo NCPA, 28.12.2010.
Link para o trecho na íntegra:
Tradução: LIGIA FILGUEIRAS
VIII PRÊMIO DONALD STEWART JR.
“Liberdade de informação: o papel da mídia”
Concorrente, acompanhe o noticiário e consulte as sugestões de leitura no site do IL para enriquecer seu trabalho. [Tópicos de Reflexão]
Fique de olho!
-
América Latina é a região mais perigosa para jornalistas em 2010. Estadão.com.br / Internacional, 27.12.10.
-
Wikileaks, a pedra no sapato dos governos. Estadão.com.br / Infográficos, 02.12.10