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Não adianta ocupar os espaços, é preciso mudar a cultura deles

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Toda grande revolução ou reforma política da história da humanidade adveio de uma mudança cultural, ainda que algumas tenham sido fabricadas por intelectuais. Mas surpreendentemente houve uma guinada da política à direita como forma de protesto aos desgovernos de esquerda das últimas décadas no mundo, ocasionando numa guerra cultural onde a oposição sempre sai vitoriosa.

A cultura define a identidade de um povo, que cria as instituições públicas por sua vez e não há outra origem do Estado que não fosse essa. Esse conjunto de hábitos sociais tange a religião, a culinária, o idioma, as artes, as relações hierárquicas e muito mais simultaneamente; entretanto é algo fácil de identificar uma vez que um cidadão conviva numa determinada sociedade por um tempo. Como o ser humano é um animal social, ou seja, não conseguiríamos sobreviver à natureza hostil de nosso planeta se não fosse por isso, todos nós possuímos essa habilidade evolutiva maleável e espontânea.

Como bem ilustrado na clássica obra “O Príncipe”, de Maquiavel, a manipulação da cultura pelo governo é uma das chaves para a conquista de um povo. Essa ideia, apesar de revolucionária no universo das guerras, não era exclusiva tampouco imperceptível uma vez que instituições religiosas vinculadas ao Estado protagonizavam grandes vitórias e impérios; Roma foi o pioneiro dessa estratégia.

Uma atualização relevante emerge no século XX com a ascensão da União Soviética. Durante a revolução Russa de 1917, Lênin executou a família real e perseguiu os seus próprios aliados mais moderados, os mencheviques, e até os radicais de ideologias semelhantes como os anarquistas. Sua justificativa, além da ganância pelo poder para aplicar os seus ideais comunistas, era que a democracia poderia trazer de volta a trágica monarquia responsável pela crise que o país sofria na primeira guerra mundial e que uma vertente ideológica concorrente comprometeria a existência do socialismo respectivamente. Foi uma pura estratégia de guerra sim, cujos pressupostos tinham preocupações com a cultura do país já que nenhum Estado, ainda que ditatorial, consegue se sustentar sem adesão popular – e pensar que aquele líder começou pelas rádios.

Quando Stálin chegou ao poder, logo começou a desenvolver o setor industrial para satisfazer os seus planos bélicos. Oras, não haveria melhor maneira de crescer em popularidade do que ter uma economia saudável alinhada a uma publicidade doutrinária, cujas tecnologias e ideias seriam emprestadas/roubadas da Alemanha, de Hitler, dizimada pelo Tratado de Versalhes – e quem não concordasse, que fosse punida. Depois da segunda guerra mundial, claramente os soviéticos veneravam um dos maiores assassinos da história, pois a sua nação se tornara a única possível concorrente dos EUA sob sua liderança, bastava obedecer.

Como a cultura do medo não costuma durar, os soviéticos se mobilizaram logo após a morte do Stálin para seguir aumentando o seu domínio sobre o mundo. A escola de Frankfurt, depois de anos de pesquisas e fortes vínculos soviéticos, surgiu com a atualização de Gramsci que o ex-informante da KGB, Yuri Bezmenov lançou em teoria: a subversão cultural. Trata-se de uma estratégia de doutrinação ideológica da juventude para que, quando eles se tornassem protagonistas do país anos depois, bastava a URSS tomar para si. O ex-general soviético da Romênia, Ion Pacepa, descreve em sua magnífica obra “Desinformação” como era feito esse processo, principalmente através da cultura.

Por mais que hoje isso soe como teoria da conspiração, não sendo, a estratégia permanece a mesma e somente é aplicada pela esquerda. O filósofo Olavo de Carvalho tem alertado sobre a necessidade de reocupação dos espaços pela direita, que haviam sido concedidos pelos militares como “válvula de escape”, contudo eles utilizavam os esportes, sobretudo o futebol, e a censura para influenciar o imaginário popular. Numa primeira análise, tiveram um brilhante êxito no primeiro e um profundo fracasso no segundo; ainda assim trabalharam nesse sentido. E o JK que foi o Presidente da Bossa Nova? E o PT que conseguiu juntar praticamente todos os grandes artistas do Brasil?

Não é a toa que a maior parte da população brasileira parece estar aliada à esquerda, ênfase na juventude. Eles concordam com as suas bandeiras, raciocinam por dialética, consomem as suas músicas, assistem as suas series e filmes, seguem as suas mídias sociais, caem nas provocações jornalísticas, frequentam os seus locais e, não obstante, criticam tudo o que não esteja envolvido ao seu universo como se estivessem numa bolha social. Ainda que tenham votado em Bolsonaro, a impressão é que quem está na cadeira presidencial não é a direita, mas sim um antipetista que prometeu reparar o estrago que fizeram, que assim que terminar o trabalho surgirá um cara “gente como a gente”.

Pois é, a máquina da desinformação continua funcionando a todo vapor e a direita não fez (tampouco se mobiliza) o suficiente para forjar um movimento cultural que possa endossar o Presidente e políticos afins. O máximo que tem sido feito é remover, quase que à força, os radicais de esquerda para retomar os espaços, ironicamente permitindo que infiltrados e progressistas façam parte disso, justamente os que sempre permitiram a chegada dos bolcheviques. Mais fácil talvez educar a oposição a entender as vantagens do liberalismo e do conservadorismo, do porquê não adianta tentar qualquer coisa que esteja em direção do socialismo já que os resultados a história mostra muito bem quais são. Não é preciso união corporativa, liderança, investimento, movimento ou narrativas, o indivíduo bem instruído boicotará todas as doutrinações que lhe é imposta. Um bom diálogo basta.

Sobre o autor: Lucas Muzitano é conservador, administrador e músico. Atua como guitarrista da banda BIO está lançando a sua carreira solo pelo “iMUZItado EP”.

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